Justiça absolve acusados de jogar clandestino no mar no Paraná
O júri popular convocado pela Justiça Federal de Paranaguá, a 98 quilômetros de Curitiba, absolveu no fim da noite desta terça-feira (13) cinco tripulantes do navio Seref Kuru. Eles eram acusados de torturar e jogar no mar o camaronês Wilfred Happy Ondobo, 28, em um ponto a cerca de 15 quilômetros da costa paranaense, em junho deste ano.
O julgamento começou na manhã da segunda-feira (12). O camaronês, que depôs durante seis horas no tribunal, manteve a acusação de tortura, maus tratos e tentativa de homicídio contra os marinheiros. “Ele apresentou quatro versões sobre a mesma história. É um clandestino profissional. Além disso, não há nenhuma prova ou testemunha que diga que houve agressão física”, rebateu o advogado de defesa dos marinheiros, Giordano Vilarinho Reinert, no início da tarde de terça-feira, ao jornal “Gazeta do Povo”.
No tribunal, prevaleceu a versão dos acusados, que afirmaram perante o juiz e os jurados que jamais viram Ondobo.
Com a decisão, os marinheiros Orhan Satilmis, Ihsan Sonmezocak, Mamuka Kirkitadze, Zafer Yildirim e Ramazan Ozdamar receberão seus passaportes e estão liberados para deixar o País
Os cinco respondiam por tentativa de homicídio qualificada. Satilmis, apontado por Ondobo como o principal agressor, também é acusado de tortura e crime de racismo. Cabe recurso da decisão, mas agora os réus não mais responderão pelo crime no Brasil.
A derrota no júri popular é a segunda da acusação movida pelo Ministério Público Federal no caso. O juiz federal Vicente de Paula Ataíde Júnior, que determinou a ida dos cinco marinheiros a julgamento, já absolvera, em outubro, o capitão do navio, o turco Coskun Çavdar, de quaisquer crimes contra Ondobo, por falta de provas.
Os outros 13 tripulantes do navio, também denunciados pelo MPF, não foram incluídos pela Justiça entre os réus. Por conta disso, o procurador apresentou recurso, ainda não julgado.
Entenda o caso
Ondobo disse às autoridades brasileiras que entrou clandestinamente no navio no porto de Douala, nos Camarões, no dia 13 de junho. Dias depois, sem água e comida, resolveu se entregar à tripulação.
Segundo a denúncia do MPF, Ondobo afirmou ter sido agredido verbal e fisicamente, além de ser privado de sono e mantido em uma pequena cabine. Nos depoimentos, relatou chutes no peito e tapas no rosto que o teriam deixado desacordado.
Satilmis, que foi denunciado por racismo pelo MPF, teria dito a Ondobo que “não gostava de preto”, que para ele são “todos animais”. Durante o tempo em que permaneceu encarcerado a bordo, o camaronês recebia duas refeições diárias. À noite, tripulantes batiam na porta e na janela para evitar que ele dormisse.
Após 11 dias a bordo, Ondobo relatou ter recebido uma lanterna e 150 euros da tripulação e foi obrigado a saltar do navio. No mar, ele permaneceu por 11 horas à deriva boiando sobre um palete, estrutura de madeira usada no transporte de cargas que lhe foi atirado pela tripulação, até ser resgatado por um navio que vinha do Chile.
Em depoimentos à Polícia Federal, a tripulação do navio tentou negar o crime, mas indícios – como uma foto escondida por Ondobo no local onde foi mantido encarcerado – comprovaram a presença do camaronês a bordo.
Em 10 de agosto, mesmo dia em que a denúncia contra os tripulantes do Seref Kuru chegou à Justiça, o navio, de bandeira da Ilha de Malta e agora sob o comando de uma nova tripulação, deixou o porto de Paranaguá, carregado com 11 mil toneladas de açúcar, rumo ao porto de Douala, nos Camarões.
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