Topo

Especialista defende adoção de políticas públicas para reverter 'genocídio' de jovens negros

Isabela Vieira

Da Agência Brasil, no Rio de Janeiro

13/12/2012 10h12

A falta de políticas públicas com foco em meninos negros de 12 a 18 anos se refletiu no aumento do IHA (Índice de Homicídios na Adolescência), avalia a coordenadora do Programa de Redução de Violência Letal contra Adolescentes e Jovens, Raquel Willadino. Em 2010 o índice chegou a quase três mortos para cada grupo de mil jovens, enquanto em 2009 era 2,61. Os dados foram divulgados hoje (13) pelo LAV (Laboratório de Análise da Violência) da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

Calculado com base no banco de dados do Ministério da Saúde, o IHA mostra que correm mais risco de serem assassinados, provavelmente por armas, adolescentes do sexo masculino, cuja chance de ser morto é 12 vezes maior do que a de uma menina. Já o risco de um negro ser vítima de homicídio é quase três vezes superior ao de um branco.

De acordo com Raquel, que é doutora em psicologia social, pesquisas recentes da organização não governamental Observatório de Favelas, feita em 16 regiões metropolitanas, revelam que apenas 16% dos programas de enfrentamento da violência desenvolvidos nos últimos anos por estados e municípios levaram em conta a questão de gênero. No caso da questão racial, o percentual cai para 8%.

“O racismo é um elemento estruturante dessa ênfase na letalidade da juventude negra, temos o processo de criminalização não só da pobreza, mas particularmente dos jovens negros moradores de espaço populares”, disse.

Ela lembra que o Mapa da Violência, que traça o perfil das mortes entre pessoas de 15 a 29 anos, já apontava assassinatos generalizados de negros.

Perguntada sobre o Plano de Prevenção à Violência contra a Juventude Negra, chamado Juventude Viva, lançado pelo governo federal em setembro deste ano, Raquel avaliou que a iniciativa é muito recente e não produziu “a reversão do genocídio de negros”.

“Existe investimento para o enfrentamento do genocídio da juventude negra, mas ainda não se traduziu na reversão desse quadro”, acrescentou a especialista.

O Programa de Redução de Violência Letal contra Adolescentes e Jovens, coordenado por Raquel, é uma iniciativa da organização não governamental Observatório de Favelas, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e da Unicef (Fundo das Nações Unidas para Infância).