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Polícia investiga ameaça a casal de lésbicas no interior de São Paulo

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

12/03/2013 12h56

A Polícia Civil em Santa Bárbara d’Oeste (135 km de São Paulo) iniciou, na manhã desta terça-feira (12), uma varredura no bairro Mollon 4 em busca de pistas que possam identificar a autoria de uma carta ameaçadora recebida por um casal de lésbicas residente no bairro.

O documento, encontrado no quintal da casa das mulheres na noite do último sábado (9), contém uma suástica - símbolo nazista - e está assinado por um grupo que se autodenomina MHJ (Movimento Homofobia Já).

Além de classificar negros e gays como “lixo”, o documento afirma que a comunidade local “não aceita essas atitudes imorais (...) e partirá para a ação” caso o casal permaneça no bairro. "Queremos vocês fora daqui. Vão ser felizes no inferno. Gays e negros são lixo. Coisas vão acontecer", diz a carta.

Segundo a delegada responsável pelo caso, Sandra Santarosa, da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), dois investigadores da DDM foram designados para cuidar do caso e farão visitas à rua onde elas residem para conversar com vizinhos na tentativa de levantar vestígios sobre o autor do documento.

Sandra afirmou ainda que se trata de o primeiro caso de homofobia na história da DDM de Santa Bárbara. “Não podemos fechar os olhos. Seguiremos investigando até que venha a surgir algo. É um caso de intolerância, que muito nos entristece”, afirmou.

Ainda nesta semana, as mulheres serão intimadas para prestar depoimento. Representantes de associações do bairro também serão ouvidos. De acordo com a delegada, o trabalho vai prosseguir até que algum indício seja coletado.

Repercussão

D.B.V.D., 33, e R.F., 25, moram juntas há pouco mais de dois anos e afirmaram ser a primeira vez que algo do tipo acontece a elas. Segundo relato de ambas, elas fazem questão de ser discretas e evitar demonstrações públicas de afeto. "Acho que incomoda ver duas mulheres vivendo juntas, independentes e felizes", disse D.

Elas afirmam ainda ter uma rotina convencional e dizem desconhecer a autoria das ameaças. “Temos um relacionamento normal, que é discreto e respeitoso. Trabalhamos o dia todo e mal temos tempo de ficarmos juntas”, disse R.

Para D. que tem uma filha de nove anos que vive com o casal, a situação é inadmissível. “Não dá para admitir que até minha filha seja envolvida nesse episódio lamentável. Ninguém tem esse direito”, afirmou.

Para Paulo Mariante, coordenador de Diretos Humanos do Grupo Identidade, que atua em prol da causa gay na região de Campinas (93 km de São Paulo), a ação foi covarde e precisa ser punida exemplarmente. “Não podemos ficar calados. É fundamental que as autoridades identifiquem e punam o autor dessa carta, que é uma afronta a décadas de conquistas do movimento gay e da sociedade brasileira”, disse.