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Ritual e protestos marcam velório de índio morto em Sidrolândia (MS)

Luiz Felipe Fernandes

Do UOL, em Campo Grande

31/05/2013 15h13

Continua sendo velado em Sidrolândia (71 km de Campo Grande) o corpo do índio terena Oziel Gabriel, 35, morto durante reintegração de posse de uma fazenda nesta quinta-feira (30). A família se recusa a sepultar o corpo sem que seja feita uma segunda autópsia.

Apesar de o atestado de óbito já confirmar que o índio foi atingido por arma de fogo, parentes alegam que o exame feito logo depois da morte não está bem detalhado. Eles querem saber o calibre do projétil que atingiu o indígena.

Durante o velório, um grupo de líderes terena percorreu a aldeia clamando por justiça. Um cortejo de mulheres e crianças acompanhou o protesto. Em seguida, sob forte emoção, foi realizado um ritual ao redor do caixão.

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Índios das etnia guarani kaiowá e kaudiwéu, de Mato Grosso do Sul, e kaingang, do Paraná, foram ao velório prestar solidariedade à família de Oziel. Eles gritaram palavras de ordem, prometendo resistir até a morte em nome do “guerreiro Oziel”.

Jabes Gabriel, 41, irmão de Oziel, disse que está indignado com o que ele considera ter sido um assassinato. “Mataram meu irmão para defender um fazendeiro turco que massacrou nossos antepassados”, disse Jabes.

Os indígenas também acusam a Prefeitura de Sidrolândia e os governos estadual e federal pela violência na desocupação. A crítica também é direcionada ao agronegócio, que responde pela maior parte da economia do Estado.

Disparo

Um índio, que se identifica como Hanaiti Guerreiro, disse que estava ao lado de Oziel no momento do confronto com a polícia. Ele afirma que usavam apenas arcos e flechas quando foram surpreendidos pelos disparos. “Foi a Polícia Federal que disparou”, afirma.

A assessoria de comunicação da Polícia Federal informou que um inquérito será aberto para apurar as circunstâncias da morte. Já a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul divulgou um comunicado em que garante que foi usada apenas arma não letal, com balas de borracha, durante o cumprimento da reintegração de posse.

Ocupação

Mesmo depois da ação policial na fazenda Buriti, um grupo de índios passou a noite acampado na propriedade. Eles também bloqueiam o principal acesso à área.  O proprietário da fazenda, o ex-deputado estadual Ricardo Bacha, disse ao UOL que não pretender voltar ao local.

“Assim como fizeram no (complexo do) Alemão, no Rio de Janeiro, é preciso pacificar a fazenda Buriti. Sidrolândia vive um cenário de guerra”, afirmou. Segundo Bacha, não há mais nada a ser feito por vias judiciais, já que a própria Justiça Federal foi favorável ao proprietário.

Índio é morto em desocupação de área invadida no MS

A disputa

A Terra Indígena Buriti é um território que, nos últimos 12 anos, vem passando por indas e vindas, ora com decisões favoráveis aos proprietários, ora aos indígenas. Em 2001, a Funai aprovou a identificação da área como território indígena.  Em 2004,  a Justiça Federal declarou, em primeira instância, que as terras pertenciam aos produtores rurais.

Funai e Ministério Público Federal recorreram, e, dois anos depois, em 2006, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região  declarou a área como de ocupação tradicional indígena.

Os proprietários da área entraram com recurso e, em junho de 2012, tiveram decisão favorável a eles, ou seja, que as terras pertencem aos produtores rurais, não aos índios.

Os índios, que invadiram a área no dia 15 de maio deste ano, disseram que ficariam na área até que o TRF-3 (Tribunal Regional Federal), em São Paulo, julgasse o recurso movido por eles.

A Justiça determinou a reintegração de posse da área, realizada nessa quinta-feira (30) por homens da Polícia Federal e da Companhia de Gerenciamento de Crises e Operações Especiais (Cigcoe). Houve confronto entre índios e policiais. Além da morte de Oziel Gabriel, outros cinco índios e dois policiais ficaram feridos.

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