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Morador de biblioteca pública no Rio, gato Drummond recebe "ordem de despejo"

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

16/06/2013 06h00

O gato Drummond chegou à biblioteca pública Carlos Drummond de Andrade, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, há dois anos, em circunstâncias até hoje desconhecidas. Festejado por crianças e adultos, logo tornou-se uma espécie de mascote no local. Mas a estadia tem data para acabar: 23 de julho. Despejado, Drummond será adotado por uma funcionária da biblioteca.

A notícia sobre a iminente despedida de Drummond fez com que os leitores, em especial a estudante Natália Becacici, 32, se mobilizassem para conseguir junto à SME (Secretaria Municipal de Educação) a permanência do felino. Um abaixo-assinado com cerca de 120 assinaturas foi entregue ao órgão, no dia 29 de maio, anexado a documentos como a carteira de vacinação e vermifugação do animal.

A "ordem de despejo" foi notificada através de um e-mail da Gerência de Educação e Mídia da SME, segundo Natália, que se responsabilizou pelo animal em conjunto com a funcionária da biblioteca que pretende adotá-lo após o dia 23. Ao UOL, a assessoria do órgão limitou-se a dizer, por telefone, que "o gato fica", o que foi ratificado por meio de nota.

A secretaria não explicou os motivos pelos quais o felino deveria deixar a biblioteca nem esclareceu a origem da determinação sobre a possível permanência de Drummond. Nas últimas semanas, o assunto ganhou força nas redes sociais e na mídia. Questionada se o abaixo-assinado entre por Natália teria motivado a suposta mudança de postura, a assessoria da SME não entrou em detalhes, reiterando a resposta inicial: "o gato fica".

Porém, a estudante afirma não ter recebido qualquer resposta da secretaria desde a data da entrega do abaixo assinado, e que voltará a procurar o órgão a fim de obter, por escrito, a garantia de que o gato poderá permanecer nas dependências da biblioteca Carlos Drummond de Andrade.

DE DRUMMOND PARA DRUMMOND

Reprodução
É próprio do gato sair sem pedir licença, voltar sem dar satisfação. Se o roubaram, é homenagem a seu charme pessoal, misto de circunspeção e leveza; tratem-no bem, nesse caso, para justificar o roubo, e ainda porque maltratar animais é uma forma de desonestidade. Finalmente, se tiver de voltar, gostaria que o fizesse por conta própria, com suas patas; com a altivez, a serenidade e a elegância dos gatos.

Trecho da crônica "Perde o Gato", de Carlos Drummond de Andrade

A estudante afirma ter deixado o seu telefone pessoal com os seguranças e funcionários da biblioteca. "Falei que eles poderiam ligar em qualquer horário do dia caso alguém tentasse levar o Drummond", disse.

Drummond, o "Garfield" da biblioteca

Natália, que frequenta a biblioteca há quatro meses, diz que "se apaixonou" pelo gato a ponto de prejudicar os estudos para iniciar a mobilização em face da permanência do "Garfield da biblioteca" --a maioria das pessoas que o vê pela primeira vez costuma notar a semelhança do felino com o personagem criado pelo cartunista Jim Davis na década de 70.

Estudante de Direito e prestes a tentar aprovação em concursos públicos, Natália vai à biblioteca todos os dias. "Não só para estudar. Para ver o Drummond também", disse. Ela conta que Drummond buscou abrigo na biblioteca provavelmente após fugir de alguma residência, pois estava com uma coleira no dia em que foi encontrado pelos funcionários. Além disso, ele já havia sido castrado.

Desde então, Drummond tem recebido cuidados como se fosse um gato doméstico. Alimenta-se com uma das melhores marcas de ração do mercado, a partir de doações de leitores.

Ele também passa por consultas periódicas com um veterinário voluntário, e tem sua carteira de vacinação e vermifugação em dia. "Não sei onde eles inventaram que o Drummond poderia oferecer algum tipo de risco aos leitores", questionou Natália.