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Acusação tenta mostrar elo entre irmãos e executores do crime de Unaí (MG)

Carlos Eduardo Cherem

Do UOL, em Belo Horizonte

30/08/2013 16h14

O MPF (Ministério Público Federal) procurou mostrar os elos de ligação entre executores, intermediários e mandantes da chacina de Unaí (606 Km de Belo Horizonte), em janeiro de 2004, quando quatro funcionários do Ministério do Trabalho e Emprego foram assassinados, no quarto dia do julgamento dos executores do crime, nesta sexta-feira (30).

Estão sendo julgados Rogério Alan Rocha Rios, Willian Gomes de Miranda e Erinaldo de Vasconcelos Silva (réu confesso, que tenta obter benefício de redução da pena entre 1/3 e 2/3 com a delação premiada). Durante o tempo que tiveram para a acusação, os procuradores da República falaram durante duas horas e meia relatando as ligações entre os réus, sobretudo, com os acusados de mandantes, os irmãos Norberto Mânica, o "rei do feijão", um dos maiores produtores do grão no país, e Antério Mânica (PSDB), ex-prefeito de Unaí, entre 2005 e 2012, após as denúncias de sua participação no atentado.

"A motivação desse crime foi a desmedida ambição de fazendeiros que eram os maiores produtores de feijão do país. A motivação subjetiva é que eles [os irmãos Mânica] acreditavam que o dinheiro comprova tudo e todos. A motivação subjetiva era que o Nelson [José da Silva, um dos fiscais assassinatos] era um homem rígido em seu trabalho", afirmou o procurador da República Francisco Rogério del Corsi, assistente da acusação.

O procurador Antônio Francisco Patente buscou durante sua fala desmontar a tentativa apresentada na véspera, pelo acusado Rogério Alan Rocha Rios, em apresentar álibi de que não estaria em Unaí no dia do crime mas em Salvador. "Nem conheço Unaí", afirmou, no seu depoimento desta quinta-feira (29), dizendo ter confessado sua participação no crime por ter sido torturado pela PF (Polícia Federal), durante as investigação.

Os três acusados de execução do atentado estão presos há nove anos.

Patente apresentou ao conselho e sentença, composto de cinco mulheres e dois homens, uma carta de Rocha Rios ao réu confesso (Erinaldo de Vasconcelos Silva), cobrando-lhe parte do dinheiro prometido para que eles matassem os fiscais do trabalho. "Se precisar, ligo para a prefeitura, para a casa deles, para a fazenda. Eu quero o meu. Vou fugir e acerto com eles. Sou ladrão, não vou ficar sem receber."

"O dinheiro é a arma na mão do covarde que executa e sai da mão do covarde que não tem coragem de executar", afirmou Patente.

O procurador virou-se para o réu Rogério Alan Rocha Filho, que nega sua participação, dedo em riste, e mostrou-lhe fotografia, que faz parte do inquérito, com imagem do do fiscal Nelson José da Silva, com uma bala cravada na cabeça.

Apontando para a fotografia, Patente afirmou: "Você falou que não participou do crime e que passou sede na PF [Polícia Federal]. Você falou que estava com sede. Você queria água que não lhe foi servida. Mas sua sede era de sangue", disse.

A sentença dos três acusados de executarem os fiscais e o motorista do Ministério do Trabalho e Emprego em 2004 deve ser promulgada ainda nesta sexta-feira (30).

O período da tarde está sendo utilizado para a fala dos advogados de defesa dos três. Após isso, haverá réplica e tréplica. Na sequencia em 17 de setembro, começam a ser julgados os acusados Norberto Mânica (mandante), Hugo Alves Pimenta (intermediário), José Alberto de Carvalho (intermediário), além de Humberto Ribeiro dos Santos, acusado de ter atrapalhado as investigações.

A corte não marcou a data ainda somente do julgamento do ex-prefeito Antério Mânica, pronunciado no crime também como mandante do crime.