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Polícia ocupa cracolândia em Florianópolis

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis

11/04/2014 16h38

A Polícia de Santa Catarina ocupou na manhã desta sexta-feira (11) o morro do Mocotó, considerado a cracolândia de Florianópolis, que fica a 500 metros do TJ (Tribunal de Justiça) e da Assembleia Legislativa. Não houve confronto. Os policiais buscavam também suspeitos de incendiar ônibus a mando de presidiários ligados ao crime organizado.

Algumas rajadas de tiros foram ouvidas durante a ação, mas não foi possível saber seus autores. Ninguém ficou ferido. Dez pessoas foram presas.

A operação foi batizada pelas autoridades de "Limpa Lixeira", porque a "Boca da Lixeira", no alto do Mocotó, é o ponto de drogas mais quente da cidade.

Os cerca de 200 agentes agiram de surpresa, iniciando a operação às 6h. Soldados do Bope e do batalhão de choque da PM invadiram ruas e becos. Muitos moradores aplaudiram a passagem dos policiais.

O morro é um conjunto de cerca de 500 casas onde vivem quase 2.000 pessoas de baixa renda, há anos tiranizadas por traficantes.

O faxineiro C., que preferiu não se identificar, funcionário terceirizado da Assembleia, disse que "os bandidos invadem nossas casas, nos obrigam a esconder drogas, quem reclamar perde tudo e tem a casa incendiada".

É a segunda ocupação do Mocotó em dois anos. De acordo com o coronel Araújo Gomes, comandante do policiamento da capital, "desta vez vamos permanecer, consolidando postos no morro, levando também agências de serviço público". 

Agentes da recém-criada Delegacia de Combate às Drogas procuravam por 27 suspeitos de pertencerem às facções Serpente Negra e PGC (Primeiro Grupo Catarinense), que dominam o tráfico local.

Alguns dos procurados estavam relacionados aos recentes ataques incendiários a sete ônibus e dois veículos, o último deles na terça-feira (8).

A ocupação do Mocotó veio um dia depois dos secretários de Segurança, César Grubba, e Justiça, Sady Beck Júnior, admitirem que os ataques foram ordenadas de dentro das cadeias, por presos insatisfeitos com o corte de regalias provocado pela greve dos carcereiros --a versão oficial durante duas semanas sustentava que era ação de vândalos.

Grubba disse que o detonador da violência de agora é idêntico ao dos ataques incendiários de 2012 e 2013, mas não praticado pelos mesmos condenados --os 40 líderes do PGC daqueles ataques foram removidos em março do ano passado para cadeias fora do estado, onde estão incomunicáveis desde então.

Segundo o setores de inteligência da PM e do Deap (Departamento de Administração Prisional), os ataques de agora foram ordenados por presos da Serpente Negra, facção opositora  ao PGC.

O secretário Beck Júnior disse que "eles já foram identificados e vamos tentar transferi-los para cadeias fora do estado". A greve dos carcereiros acabou na terça-feira.