Seguranças de shopping de Belo Horizonte usam taser para barrar rolezinho
Seguranças do Shopping Estação BH em Belo Horizonte utilizaram taser (arma que dá choques, imobilizando a pessoa) e cassetete para barrar o acesso de adolescentes às dependências do estabelecimento na tarde deste domingo (4). Único shopping da região norte da capital mineira, o Estação BH tem 207 lojas, 1.877 vagas de estacionamento e está instado nas dependências da estação Vilarinho do metrô de Belo Horizonte. Os jovens foram barrados antes da entrada do shopping, ainda nos corredores de acesso à estação do metrô. Com isso, eles ficaram sem acesso ao metrô e ônibus da estação Vilarinho.
Centenas de jovens combinaram durante a semana realizar um "mega rolezinho" no Estação BH. O shopping tem liminar expedida no início do mês pelo TJ-MG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais) que proíbe rolezinhos no local. Com isso, o shopping só permitiu a entrada de menores de 18 anos neste domingo (4) acompanhados dos pais ou de um responsável maior de idade. Seguranças faziam o controle de acesso. Os jovens começaram a se aglomerar na calçada em frente ao shopping, na avenida Cristiano Machado, após serem barrados, no início da tarde.
Por volta de 16h, centenas de adolescentes, que foram barrados, começaram a entrar e se concentrar nos corredores da estação do metro, que dão acesso também às lojas do Estação BH, correndo e gritando palavras de ordem: "humanidade, humanidade" e "vamos invadir. U-hu, vamos invadir". O tumulto durou cerca de 20 minutos.
Dezenas de seguranças, sem identificação, alguns sem uniformes, barraram a entrada dos jovens, utilizando taser e cassetete contra os jovens que, se sentindo ameaçados, recuaram. Ninguém ficou ferido.
Houve correria nos corredores da estação do metrô. Seguranças do shopping procuraram impedir a filmagem do tumulto pela reportagem do UOL e tentaram confiscar os equipamentos. Após o ocorrido, a assessoria de imprensa pediu desculpas pelo fato e disse que a orientação do shopping para os seguranças é para que as coberturas da imprensa no local "sejam facilitadas". Indagada se a reação do shopping não teria sido desproporcional e se teria havido excesso por parte da segurança do Estação BH para barrar os jovens, a assessoria de imprensa disse que comentaria o fato por meio de nota.
Os jovens correram dos seguranças e voltaram a se concentrar na calçada em frente ao shopping, na avenida Cristiano Machado.
Três carros da PM (Polícia Militar) de Minas Gerais e diversos integrantes da corporação acompanharam a movimentação, mas não fizeram intervenções. O sargento responsável pela operação disse que não poderia comentar o episódio e não fez estimativas do número de jovens que participaram da tentativa de entrar no shopping. O militar também não informou o efetivo de policiais.
Poucos minutos depois, uma van com uma equipe de oito integrantes do Juizado de Menores de Belo Horizonte chegou ao local, vestidos com uniformes pretos. Desceram do veículo e a aglomeração começou a se dispersar. Com a chegada dos agentes do Juizado de Menores e sem qualquer diálogo, os jovens, meninos e meninas com idades variando entre 11 e 18 anos, foram embora. A maior parte ocupou os pontos de ônibus da avenida Cristiano Machado, já que o acesso ao metrô ficou interrompido.
Jovens trocam de shopping após confusão
"Tô bolado (com raiva). Pô, ia comprar um tênis de R$ 200. Onde é o ônibus pro Minas Shopping?", indagou o estudante do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual Francisco Tibúrcio, em Santa Luzia, município da região metropolitana de Belo Horizonte, André Ramos, 17, após ter sido barrado de entrar no Estação BH.
"Não acho certo o que fizeram com a gente. Eu preciso comprar o tênis. Só ia encontrar o pessoal e dar um rolê. Usaram até corrente para tirar a gente de lá", disse. O estudante disse que ganhou o dinheiro do pai, que vende cerveja e refrigerante nas ruas, por o ter ajudado no trabalho.
A estudante do 2º ano do ensino médio da Escola Estadual Carlos Drummond de Andrade, no bairro Floramar, nas proximidades do shopping, Larissa Danka, 16, também não pode comprar um tênis. "Minha mãe que me trouxe de carro. Ela que me deu o dinheiro. Vim para olhar as lojas e comprar um tênis de R$ 100. Azar deles, vou comprar em outro lugar. Só porque a gente tinha combinado o rolezinho no Facebook. O que tem de demais?", indaga a garota.
A estudante do 9º período da Escola Estadual Machado de Assis, na região do shopping, Vitória Alves Siqueira, 14, ficou revoltada por ter sido impedida de entrar no shopping. "Não tenho nada para fazer. Só fico em casa. Meu pai só me deixa sair de dia. Isso é uma falta de respeito. Não tem armação, só vim fazer um lanche no Bob´s", disse.
O estudante do 1º ano do ensino médio também da Escola Estadual Francisco Tibúrcio, em Santa Luzia, Jhonatan Oliveira, 18, explicou que, embora pudesse entrar, ia embora com os 12 colegas, com idades variando entre 11 e 17 anos, para outro lugar. "Não sei. Acho que vamos para o centro. Vamos para o Shopping Cidade (na área central de Belo Horizonte", afirmou. "Pode fazer a conta. Somos 13 e não estamos sem dinheiro para gastar. Cada um tem uns R$ 50", disse.
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