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Prédio que desabou em Aracaju tinha andar irregular e estava sem engenheiro

Prédio de quatro andares desabou em Aracaju no sábado (20). Quatro pessoas ficaram soterradas por mais de 30 horas - Reprodução/Globonews
Prédio de quatro andares desabou em Aracaju no sábado (20). Quatro pessoas ficaram soterradas por mais de 30 horas Imagem: Reprodução/Globonews

Paulo Rolemberg

Do UOL, em Aracaju

21/07/2014 16h12Atualizada em 21/07/2014 19h12

O prédio que desabou na madrugada do último sábado (19), no bairro Coroa do Meio, zona sul de Aracaju, que deixou quatro pessoas soterradas, entre elas ítalo Miguel, de 11 meses, que morreu momentos depois de ser resgatado, apresentava irregularidades e estava há um ano sem acompanhamento de um engenheiro responsável.

As informações foram dadas pelo CREA-SE (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Sergipe).

Segundo informações do presidente do órgão Jorge Roberto Silveira, o imóvel --que estava em fase de conclusão--, apresentava um pavimento a mais do projeto inicial. A obra também estaria sem o acompanhamento de um engenheiro ou técnico responsável há um ano.

“Seriam três pavimentos, mas um quarto andar foi erguido sem a devida autorização ou acompanhamento técnico. Seriam de 20 a 25% de peso na estrutura. Obra nenhuma resiste a esse sobrepeso”, afirmou Silveira.

No entanto, Silveira não afirmou que esta é a causa principal do desabamento. “Esse é um trabalho lento, pois depende de análises de materiais em laboratório, mas em um prazo de 30 a 60 dias estaremos entregando o laudo pericial”.

Sobre a obra estar sendo realizada sem o acompanhamento de um engenheiro ou técnico responsável há cerca de um ano, Silveira considerou como um erro gravíssimo.

O engenheiro – que ainda não teve o nome revelado pelo CREA – teria entregue o projeto e obteve a licença da Prefeitura de Aracaju para início das obras em 2012, mas durante o andamento – ainda na fase de fundação –, por desacerto financeiro entre o dono da obra e o profissional, o engenheiro acabou abandonando o projeto.

“Ele se retirou da obra e não comunicou ao CREA. Uma obra sem o acompanhamento de um engenheiro ou um técnico responsável, isso é gravíssimo. A obra tinha que ser paralisada. Mesmo com o desentendimento, o proprietário do imóvel achou desnecessário contratar um novo engenheiro para acompanhar dizendo que já tinha experiência com obras”, informou o Silveira.

O CREA iniciou nesta segunda-feira (21) a montagem de uma equipe que coordenará a perícia do acidente.

O Conselho disse que não emite laudos ou autorização de funcionamento. Esclareceu ainda que em visitas a obras eles pedem a apresentação da ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), documento que define os responsáveis técnicos pelo empreendimento.

Desabamento deixou família soterrada; filho mais novo morreu após ser resgatado

Na madrugada do último sábado (19) um prédio em fase de acabamento localizado na rua Poeta José Sales Campos, bairro Coroa do Meio, na zona sul de Aracaju, desabou deixando uma família de quatro pessoas entre os escombros.

O servente de pedreiro, Josivaldo da Silva, 24, a esposa dele, Vanice de Jesus, 31, a filha dela, Ane Gabriele de Jesus, 8, e o filho do casal, Ítalo Miguel, de 11 meses, passarem cerca de 34 horas debaixo dos escombros. O menino acabou morrendo de parada cardiorrespiratória, momentos após o resgate.

De acordo com relato de Silva ao Corpo de Bombeiros, eles dormiam no primeiro pavimento do prédio quando o mesmo ouviu, o barulho vindo dos pavimentos superiores, na tentativa de proteger a família ficou sobre eles. Caixas de cerâmicas e uma viga teriam evitado que os escombros caíssem sobre as vítimas.

Os pais e a filha de oito anos permanecem internados no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) e segundo o médico Johnson Lucas, que também participou do salvamento, o estado de saúde deles é estável.

“Eles não tiveram fraturas, mas escoriações pelo corpo”, disse ele.  O corpo do bebê de 11 meses ainda se encontra no Instituto Médico Legal (IML), já que, segundo familiares da vítima, a mãe quer acompanhar o enterro.