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Moradores comparam cheia histórica do rio Acre a tsunami e contam perdas

José Fernando, 22, mostra casa ainda coberta por água. "Acho que perdi tudo" Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Carlos Madeiro

Do UOL, em Rio Branco

07/03/2015 17h40

Os moradores de muitos dos bairros inundados pela maior cheia registrada em 135 anos em Rio Branco (AC) começaram a voltar para suas casas neste sábado (7), com o nível do rio Acre abaixando após chegar ao nível de 18,40 metros. Eles desobedecem a uma orientação do governo acriano, que afirma ainda não ser seguro retornar, já que as águas podem voltar a subir nos próximos dias.

Nesta manhã, o UOL visitou o bairro Ayrton Senna, um dos mais atingidos pela alagação. No local, o cenário mais parece de pós-guerra. “Isso não foi uma cheia, foi um tsunami. Ninguém nunca viu nada parecido aqui no Acre não”, conta o proprietário de mercado Domingos Costa de Lima.

Pelas ruas do bairro, móveis e objetos destruídos dividem espaço com lama que ainda cobre as ruas. Muitas das pequenas casas da comunidade ainda estão com água.

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Domingos Lima foi um dos que, neste sábado, começava a fazer limpeza e contabilizar o prejuízo com a água. “Perdi uns R$ 30 mil, fora o que estou deixando de vender. Os meus botijões de gás estão todos vazios e o caminhão não veio reabastecer”, lamentou.

Em muitas ruas da região só possível ter acesso de barco. Pedro Silva, 55, colocou sua canoa à disposição dos moradores e perdeu as contas de quantas pessoas transportou esta semana. “Estou fazendo o que posso para ajudar, porque foi uma cheia pesada demais. Mas já está baixando a água e as coisas vão melhorar”, disse.

Se uns já conseguem ver novamente o chão de casa, outro ainda terão de esperar. José Fernando, 22, estava ainda com a casa com água até o telhado. “Acho que perdi tudo. Vou saber quando voltar. Por enquanto estou ajudando quem já voltou”, disse.

Maria de Nazaré, 43, também recompunha a casa neste sábado. Ela conta que, à medida em que água subia, os móveis eram suspensos em caixas. “A gente só não esperava que a água chegasse a tão alto. À medida que água ia subindo, íamos pendurando as coisas, mas tem tudo salvamos. Perdi o guarda roupa da minha filha porque ele era de compensado, ele não deve servir para mais nada”, lamentou.

Apesar de o rio baixar, algumas pessoas ainda preferem ficar em abrigos. Em uma pequena igreja no bairro, sete famílias ainda dividem dois cômodos improvisados e só pretendem voltar quando o rio baixar mais.

Um dos desabrigados no local é Raimundo Lopes Viana, 38. Ele conta que morava em área de alagação, no bairro do Aeroporto Velho, quando, em 1997, sofreu com a até então pior cheia da história da cidade. “Vim morar no Ayrton Senna porque não tinha esse risco, e agora acabou que estou de novo aqui fora de casa”, afirmou.

Nível diminui

Segundo boletim da Defesa Civil, a medição das 9 horas deste sábado mostrou que o rio estava com 17,33 metros de altura. Ao todo, 10.599 pessoas estão em 26 abrigos montados pelo poder público na capital acriana. Quarenta e três bairros foram atingidos.

O governo do Estado e a prefeitura de Rio Branco informaram que a operação de limpeza dos bairros começa nesse domingo (8), quando 30 equipes vão iniciar uma operação as ruas atingidas pela cheia.

Segundo a prefeitura, somente após essa limpeza e a confirmação que o nível do rio vai continuar baixando é que começará a ser discutida a operação de volta para casa das famílias desabrigadas.

Quem quiser fazer doações aos desabrigados pode participar da campanha "SOS Enchente Rio Acre". Depósitos devem ser feitos na conta corrente 500-2 do Banco do Brasil, agência 0071-x, CNPJ 14346589/0001-9.

Moradora de Rio Branco (AC) mostra altura de inundação em casa

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