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Piratas, escuridão e animais desafiam noite de ilhados na cheia do rio Acre

Carlos Madeiro

Do UOL, em Rio Branco

08/03/2015 18h00

O medo de ter os objetos furtados ou mesmo o apego à região onde mora fizeram com que muitos moradores de bairros alagados pelo rio Acre, em Rio Branco (AC), a desafiarem a escuridão, os animais e os constantes ataques de piratas --que realizam furtos noturnos de barco.

Na noite deste sábado (7), o UOL percorreu dois bairros onde a água do rio ainda cobre parte das casas e ouviu relatos moradores que vivem há oito dias à luz do candeeiro à espera do retrocesso do rio à sua calha.

Na Cidade Nova, o nível do rio Acre ainda deixa dezenas de casas com parte submersa. O fornecimento de água foi cortado na última semana e o cenário no local é de escuridão completo.

A família de João Carlos da Silva, 22, teve a casa coberta pela água e decidiu se abrigar na casa de um amigo vizinho, que possui um primeiro andar. “Meus familiares não quiseram sair e ir para um abrigo. Todos nós preferimos ficar aqui, perto de todos que já conhecemos”, contou o repositor de supermercado. Ele voltava para casa após o trabalho, na noite deste sábado, e foi obrigado a passar pela rua com água a pelo menos 50 cm para chegar à casa onde está abrigado.

O medo de perder bens deixou a dona de casa Gláucia Braga, 34, fincada no primeiro andar de sua casa, ainda ilhada pelo rio Acre. “Se sair, arrombam e levam tudo. Tem que enfrentar a escuridão, a falta de água, o medo. A situação é muito ruim. Quero mesmo é ganhar uma casa e sair daqui porque não dá mais para viver nesse local”, afirmou.

No bairro do Taquari, a situação é semelhante. A diferença é o movimento de barcos, que chegam e saem a todo instante durante a noite, levando pessoas de volta às suas casas.

“Eu aluguei um apartamento e mandei a mulher e os filhos, mas fiquei aqui para evitar o assalto. A polícia não consegue dar segurança, então não podemos perder mais do que perdemos com a cheia”, afirmou Leônidas Pereira, 55.

Quem saiu, reclama que teve a casa roubada. "Sai e na mesma noite levaram tudo. O que água deixou, os homens levaram”, lamentou a microempresária Evelyn Rodrigues, 26, que está alojada na casa de uma prima. “Só não roubaram quem ficou em casa, o resto, vieram de barcos e levaram o que puderam”, disse.

Outro problema citado por moradores é a quantidade de animais trazidos pela água do rio. “Até para falar tem que colocar a mão na boca para evitar que entre mosquitos. Sem contar as aranhas e cobras que aparecem direto, trazidas pelo rio”, afirmou Amanda Silva, 39.

Redução de nível

Segundo boletim divulgado na noite deste sábado, o governo do Estado informou que o nível do rio Acre vem caindo e atingiu marca de 17,13 metros às 18 horas --mais de um metro dos 18,40 metros alcançados na noite do dia 4.

Quem quiser fazer doações aos desabrigados pode participar da campanha "SOS Enchente Rio Acre". Depósitos devem ser feitos na conta corrente 500-2 do Banco do Brasil, agência 0071-x, CNPJ 14346589/0001-9.

8.mar.2015 - No bairro do Taquari, em Rio Branco, barcos chegam e saem a todo instante levando pessoas que decidiram ficar em casa com medo de assaltos. O medo de perder as coisas de casa deixaram a dona de casa Gláucia Braga, 34, fincada no primeiro andar de sua casa, ainda ilhada pelo rio Acre. ?Se sair, arrombam e levam tudo", conta ela - Carlos Madeiro/UOL - Carlos Madeiro/UOL
No bairro do Taquari, moradores continuaram nas casas alagadas para evitar furtos de "piratas"
Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Moradora de Rio Branco (AC) mostra altura de inundação em casa