"Nasci de novo", conta navegador após nove dias à deriva em alto-mar em SC
Nove dias à deriva, em um veleiro sem motor, rádio ou piloto automático. Essa foi a aventura e o drama do navegador argentino Carlos Marcelo Klain, 46, no litoral de Santa Catarina nos últimos dias. Ele acabou resgatado no dia 22 de julho, na costa catarinense, com a ajuda da Marinha do Brasil. Ele teve de enfrentar tempestades com ondas de mais de dez metros de altura, entre outras coisas. “Não estou traumatizado. Ainda não tive tempo para fazer uma avaliação real do que vivi. Mas, uma coisa é certa: nasci de novo”, disse Klain.
Klain é um navegador experiente. Na infância já conduzia lanchas, aos 20 anos começou a navegar. Por isso não se preocupou quando zarpou de Florianópolis às 15h do dia 9 de julho, no veleiro Taipan, de dez metros de comprimento. Ele queria chegar a La Plata, na Argentina, no dia 14 de julho.
Entretanto, no dia 13, muita coisa começou a dar errado. O rádio parou de funcionar e o veleiro não apareceu nos sinais de satélite. Amigo de Klain e proprietário do Taipan, Cristian Ernesto Bratulich acionou as Marinhas do Brasil, Uruguai e Argentina, além da FAB (Força Aérea Brasileira). As buscas se concentraram entre Florianópolis e Chuí (RS), no extremo sul do Brasil.
Na análise meteorológica que fez, o navegador argentino sabia que enfrentaria chuva no dia 13. Ele a encarou, como previsto, a cerca de 370 quilômetros da costa do Rio Grande do Sul. O problema é que a chuva comum era "elétrica”.
Quando constatou a natureza da chuva, Klain tentou proteger o barco dos raios fechando as velas e desligou o motor, trancando-se em seguida na cabine. "Eu estava cozinhando quando ouvi um forte barulho no mastro. De repente, tudo ficou escuro - um raio danificou todo o sistema elétrico. Eu teria que abrir as velas novamente para evitar mais problemas, mas não tempo, a chuva virou tempestade."
Não demorou muito para que o navegador percebesse que o barco estava sem controle, à deriva. “Eu imaginava que cada onda seria a última. Elas tinham muito mais de dez metros. O barco navegava de lado, sendo carregado pelo oceano. Já esperava pela quebra do mastro e do leme, e as velas rasgaram. Mas o Taipan suportou a tormenta. O esforço para viver era tanto que não tive tempo para sentir medo. Somente agora estou refletindo sobre o que passei.”
Com a melhora do tempo, Klain contou que usou velas pequenas e as direcionou de volta para Santa Catarina. Na sexta-feira de madrugada (22), o barco foi visto pelo pesqueiro Matos nas imediações na Ilha dos Corais, a 16 quilômetros de Florianópolis. Avisada, a Capitania dos Portos providenciou o reboque do Taipan com a ajuda de uma avião da FAB. O barco está na marina de Florianópolis para ser reparado.
Ele foi resgatado em seguida e recebido pelo cônsul da argentina Gustavo Coppa. Carlos é natural da província argentina Santa Fé, mas há três anos vive em Paraty, no Rio de Janeiro.
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