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Garoto morre após surra em centro de reabilitação em Belém, acusa família

Fachada do centro terapêutico Força do Querer, na ilha de Mosqueiro, em Belém do Pará - Reprodução/Youtube
Fachada do centro terapêutico Força do Querer, na ilha de Mosqueiro, em Belém do Pará Imagem: Reprodução/Youtube

Aline Brelaz

Colaboração para o UOL, em Belém

04/11/2016 18h38

O adolescente Carlos André Pinheiro, 15, teria morrido vítima de espancamento ocorrido em um centro de reabilitação de dependentes químicos no distrito de Mosqueiro, em Belém, segundo denúncia do conselho tutelar e de seus familiares à Polícia Civil e ao Ministério Público do Pará.

O espancamento teria ocorrido dia 24 de outubro, praticado pelo diretor e proprietário da Comunidade Terapêutica Força do Querer, Luciano Queiroz Santos Júnior, que acusou o garoto de roubo de um celular. O empresário nega o fato, mas afirma que houve realmente o roubo do aparelho celular. “O que houve foi um desentendimento do adolescente com outro rapaz dependente. Mas, não houve espancamento. Estou aqui em Fortaleza, mas estou à disposição da Justiça”, informa Luciano. Ele também assegura que o desentendimento ocorreu em sua residência e não no centro terapêutico.

O enterro de Carlos André ocorreu hoje pela manhã, em Mosqueiro, sob forte comoção dos familiares.

O Instituto Médico Legal do Pará ainda não divulgou o laudo da perícia no corpo do garoto, mas o atestado de óbito revela três causas da morte, hemorragia interna, politraumatismo e anemia aguda.  “Vamos exigir que o Ministério Público peça a prisão preventiva do Luciano Queiroz”, contou o pai do adolescente, José Carlos Pinheiro.  A família e o conselho tutelar de Mosqueiro afirmam Luciano fugiu para não ser preso.

Segundo o delegado da Seccional de Mosqueiro, Magno Costa, o garoto contou que havia conseguido fugir após o espancamento e fez a denúncia à polícia e ao conselho tutelar do distrito. De volta à casa da vó, com quem morava em Caranduba, uma vila de Mosqueiro, o pai levou o filho para Belém, onde ele começou a sentir fortes dores.

“Ele foi levado pra vários postos de saúde, davam remédios e mandavam pra casa. No dia 2 ele voltou pra casa da vó, mas novamente passou mal e levamos  ao hospital. De lá, transferiram meu filho pro Hospital Metropolitano, em Belém, onde ele não resistiu e morreu. Meu filho pediu pra se tratar das drogas e provocaram a morte dele num lugar que era pra salvar a vida dele”, disse o pai.

“Instauramos inquérito e vamos chamar todos os envolvidos para depor. Após esse procedimento, se for comprovada a agressão, o empresário poderá ser indiciado por lesão corporal, seguida de morte”, explicou o delegado de Mosqueiro.

Denúncia ao conselho tutelar

Ao conselheiro tutelar de Mosqueiro Josenildo Almeida, o adolescente contou que o espancamento teria ocorrido porque Luciano e a esposa Débora acharam que o celular dela teria sumido e o acusaram de ter roubado o aparelho. “O menino contou que recebeu socos, chutes, pisões e teria ficado caído no chão”, informou o conselheiro. Porém, Almeida admite que o garoto aparentemente não estava mal na hora em que fora entregue à família, após o boletim de ocorrência.

José Carlos afirma que visitou o filho na comunidade terapêutica no dia anterior ao espancamento. “Ele estava internado lá sim. Me mostrou até o quarto que ele dividia com outros três rapazes. Estamos lidando com pessoas influentes em Mosqueiro, mas não podemos deixar que fiquem impunes”, ressaltou.

O pai admite que a família não tinha como pagar o valor de R$ 3 mil pela internação, mas o diretor aceitou ajudar o garoto, que estava consumindo drogas há cerca de um ano. Como a família é pobre, eles apenas ajudavam levando alimentos para ajudar. “Eu não sei que história é essa de que meu filho estava na casa do diretor”, assegura José Carlos.

Mas Luciano Queiroz afirma que por se tratar de um menor de idade, a comunidade terapêutica não poderia abrigar junto a outros rapazes maiores em tratamento. Ele afirma que além de psicólogo e assistente social a Força do Querer disponibiliza uma equipe técnica que atua na instituição. Além de acusar o adolescente de roubar o celular, Luciano diz que o garoto também pegou a renda de um restaurante da esposa naquele dia.

Luciano Queiroz é vice-presidente da Federação Paraense de Comunidades Terapêuticas e já foi conselheiro estadual e municipal antidrogas. Ele garante que sua viagem a Fortaleza já estava programada anteriormente e que lá é empresário do setor de hotelaria. “É estranho a morte ocorrer quinze dias após a denúncia na polícia. Não há ligação de um fato com o outro. É isso que a polícia precisa investigar”, afirma.