Familiar denunciou réu da maior chacina de SP, diz Ministério Público
O DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) recebeu duas denúncias anônimas no ano passado contra o policial militar Thiago Henklain. Uma delas, segundo o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira, foi de um de seus familiares, que narrou ter escutado uma briga entre o soldado do 42º batalhão, de Osasco, e sua mulher por causa daquela que é considerada a maior chacina ocorrida em São Paulo.
A chacina ocorreu em 13 de agosto de 2015 e deixou 23 mortos em cidades da periferia de São Paulo. Dois policiais militares e um guarda civil estão sendo julgados pelos crimes.
Segundo a denúncia apresentada à Polícia Civil, a mulher do policial Henklain teria reconhecido a jaqueta e a calça do marido em imagens registradas por câmeras de segurança e divulgadas na imprensa. Elas mostram mostram homens com toucas e luvas matando algumas pessoas dentro de um bar. À época, as investigações apontaram que os assassinos perguntaram quem tinha passagem pela polícia antes de selecionar quem iria morrer: quem tinha histórico criminal morreu.
Em meio à discussão, segundo a denúncia relatada pelo promotor, o familiar afirmou que Thiago teria dito à mulher: "você prefere que os nóia (usuários de drogas) mate os polícia? Nóis tem que matar os nóia mesmo". A testemunha também relatou à Polícia Civil ter visto Thiago com a jaqueta. A roupa teria sido queimada. As investigações não encontraram vestígios dela.
As três primeiras horas deste quarto dia de julgamento, no Fórum de Osasco, na Grande SP, onde são julgados, além de Henklain, o policial Fabrício Eleutério e o guarda municipal Sérgio Manhanhã, foram dedicadas ao Ministério Público tentar convencer os sete jurados, sendo quatro homens e três mulheres, de que os três agentes de segurança tiveram participação em 17 das 23 mortes ocorridas em 8 e 13 de agosto de 2015 em Osasco, Barueri, Carapicuíba e Itapevi.
"Quero que entendam que não estamos apontando aqui que todos atiraram. Mas todos corroboraram com a prática desses homicídios múltiplos", afirmou Oliveira. Após a sessão ter sido pausada para almoço, por volta das 13h25, o promotor afirmou que pensou muito antes de revelar a informação. "Era preciso os jurados saberem de quem partiu a acusação. Não se trata de um diz que me diz. É uma acusação forte, com relevância", disse.
Aos jurados, o promotor afirmou que nem o medo nem a condição social podem ser fatores preponderantes para a absolvição dos réus. "Sei que existe esse receio, porque já vi PM flagrado sem luva e com a cara lavada assassinando uma pessoa e ser absolvida", disse. No entanto, ele reiterou que os jurados não serão identificados.
Apesar da promessa, na tarde de ontem, o sargento Adriano Henrique Garcia, que ainda é investigado pela maior chacina de São Paulo, depôs olhando aos jurados a pedido da defesa. A situação causou constrangimento. As testemunhas que depuseram depois não foram autorizadas pela juíza Élia Kinosita Bulman a olhar para os jurados.
Na tentativa de convencer os jurados, o promotor chegou a comparar os réus ao ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral. "Dois assassinos. Um das contas públicas de um Estado já defasado, e os outros de homicídios múltiplos", afirmou.
Réus gargalharam em audiência anterior
Os policiais Fabrício Eleutério e Thiago Henklain foram flagrados gargalhando em uma audiência de instrução que ocorreu no ano passado. Enquanto uma testemunha afirmava que outro policial acusado, Victor Cristilder, que não está no júri que ocorre esta semana, Eleutério cutucou Henklain e gargalhou. Henklain acompanhou com uma risada mais contida.
Enquanto o MP mostrava as imagens ao público e aos jurados, os advogados Nilton Nunes (de Eleutério) e Evandro Capano, Fernando Capano e Renato dos Santos (de Henklain) se posicionaram lado a lado em frente à imprensa, para dificultar a visualização. O argumento era de que a ação era necessária para que eles pudessem assistir.
Os jurados só conseguiram assistir às imagens porque a defensora pública Maira Coraci Diniz, assistente de acusação, mostrou o arquivo em um notebook. "São essas as pessoas que choraram na frente dos senhores, ontem. Assim que eles agem quando acham que não estão sendo gravados", afirmou.
Na tentativa de convencer os jurados da culpabilidade dos réus, ela contou a relação que passou a ter com as famílias das vítimas. Relatando caso a caso, começou a chorar. O advogado Nilton Nunes questionou se era uma "farsa", e ela respondeu pedindo que ele fizesse a pergunta às mulheres. Uma das juradas também chorou ao fim do depoimento.
Os três advogados de defesa terão direito a falar durante uma hora na tarde de hoje. Amanhã, deve haver réplica e tréplica, de duas horas cada. Na sequência, o conselho de sentença se reúne e o julgamento determina se os réus são culpados ou inocentes.
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