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Arma usada em escola de GO é exclusiva das polícias e tem alto poder de fogo

Imagem da arma usada pelo adolescente de 14 anos que matou dois colegas em escola - Luciana Amaral/UOL
Imagem da arma usada pelo adolescente de 14 anos que matou dois colegas em escola Imagem: Luciana Amaral/UOL

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

20/10/2017 19h15Atualizada em 20/10/2017 22h55

As pistolas de calibre .40, como a usada nesta sexta-feira (20) no ataque a alunos de uma escola de Goiânia, são de uso exclusivo das forças policiais no Brasil e têm potencial para causar grande dano, segundo dois especialistas ouvidos pelo UOL.

No fim da manhã de hoje, um adolescente de 14 anos abriu fogo em sala de aula contra colegas, matando dois deles e ferindo outros quatro. O atirador é filho de policiais militares e usou uma arma da corporação para cometer o crime. Segundo o delegado Luiz Gonzaga Júnior, que investiga o caso, o jovem usou um carregador inteiro e parte de outro.

"É um calibre que faz um dano muito grande, tem capacidade para até 15 munições. Comparado com um revólver que tem cinco ou seis tiros, é um potencial de dano muito grande", disse Bruno Langeani, gerente de Sistemas de Justiça e Segurança Pública do Instituto Sou da Paz. 

Segundo Elisandro Lotin de Souza, conselheiro do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), as pistolas de calibre .40 são de "grande impacto". Apesar de destacar que toda arma necessita de instrução para ser usada, ele lembrou que, dependendo do modelo, uma pistola desse calibre pode não ter trava --o que facilitaria seu uso por alguém sem treinamento.

Souza também citou o fato de que, hoje em dia, é fácil encontrar vídeos na internet que ensinam a usar uma .40, o que também foi mencionado por Langeani.

"Tem muito vídeo que explica como municiar, tirar a trava e fazer o disparo", disse.

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Arma em casa

De acordo com o delegado Luiz Gonzaga Júnior, que investiga o crime em Goiânia, o pai do rapaz disse que a arma usada pelo filho ficava escondida em um móvel da casa, e o garoto teria visto um dos pais guardando a pistola. A arma teria sido pega pelo rapaz nesta quinta (19) à noite, sem o consentimento dos pais. Para a polícia, até o momento, ninguém o ensinou a atirar, ou seja, aprendeu a manusear a arma sozinho “por curiosidade”.

Para Souza, o problema não está no fato de um policial poder ter a arma em casa, já que ele tem treinamento para isso.

"A questão toda é o cuidado com a arma", declarou.

De forma similar, Langeani disse que policiais muitas vezes precisam fazer o percurso de casa para o trabalho armados. No entanto, disse o gerente do Sou da Paz, há pesquisas segundo as quais ter uma arma em casa quando se vive com crianças ou adolescentes traz um risco para quem mora no local, pois há uma "curiosidade natural" do menor de idade em manusear a arma.

"Quando há criança ou adolescente em casa, é preciso ter um cuidado muito maior em guardar essa arma. Tem que trancar, guardar em um cofre", disse. "Não é só uma questão de conversar, apresentar os riscos. Tem que estar em local seguro, eventualmente separada da munição."

Entenda o caso

Segundo o delegado Luiz Gonzaga Júnior, o adolescente se inspirou nos ataques de atiradores em escolas de Columbine (EUA), em 1999, e do bairro carioca de Realengo, em 2011. A motivação do ataque teria sido o bullying sofrido por um colega de classe, que foi um dos mortos por ele hoje.

“Primeiro, esse colega que era desafeto dele e depois, segundo ele, teve vontade de matar mais. Isso durante um momento da execução que ele até se prontificou e falou para todo mundo ‘vocês vão todos morrer’”, acrescentou o delegado.

Ele abriu fogo contra seus colegas do colégio Goyazes, na região leste de Goiânia, por volta das 11h40 de hoje. De acordo com o delegado, o atirador relatou em depoimento que tinha como alvo especificamente um dos dois jovens que morreram, que o "amolava muito".

O delegado disse à imprensa, entretanto, que o adolescente não relatou, em seu depoimento, já ter feito alguma reclamação à escola sobre ser vítima de bullying --questão que tem sido ventilada como motivação do atentado. Funcionários do colégio também afirmaram à polícia que não havia registro de bullying em relação ao jovem que cometeu o crime.

O atirador contou também que já passou por acompanhamento psicológico, o que foi confirmado por seu pai, mas nenhum dos dois especificou do que se tratava esse acompanhamento e o que o motivou, segundo Gonzaga.

Quatro vítimas do ataque estão internadas em hospitais de Goiânia, uma delas em coma induzido e em estado considerado gravíssimo.