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"Vimos os primeiros passos", diz professora de crianças de família morta em incêndio em SP

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

05/07/2018 15h33

As professoras da creche Cantinho do Progresso amanheceram em luto na manhã desta quinta-feira (5) com a notícia de que dois dos seus alunos tinham morrido junto com os pais em um incêndio que destruiu quatro barracos na comunidade do Tiro, no bairro de Brasilândia, zona norte de São Paulo.

Os irmãos Lucas, de 4 anos, e Eric, de 10 meses, foram identificados por moradores como vítimas da tragédia assim como os pais, Ana Célia Santana e Anderson Gomes. A família inteira estava na moradia que foi consumida pelas chamas de causa ainda desconhecida. Moradores registraram a luta para tentar salvar os vizinhos (veja no vídeo acima).

Família morta - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Anderson Gomes e Ana Célia Santana morreram com os filhos, um de 4 anos e outro de 10 meses, no incêndio
Imagem: Reprodução/Facebook
“Tanto nós aqui da creche, como todo mundo do bairro, estamos comovidos”, contou a coordenadora da creche, Márcia Paula. Lucas e o irmão, afirma, estudavam no local desde os primeiros meses. “Acompanhávamos ele há quatro anos, das 7h às 17h, de segunda a sexta. Vimos os primeiros passos, os primeiros sorrisos, tudo. É uma fatalidade”, lamentou.

A SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) não confirma oficialmente os nomes das vítimas. Segundo a pasta, familiares estiveram no IML (Instituto Médico-Legal), mas não conseguiram identificá-los devido ao estado em que ficaram os corpos. Exames de DNA foram solicitados, mas não há um prazo para que os resultados fiquem prontos.

O Corpo de Bombeiros foi acionado e chegou à comunidade localizada na rua Antônio Rocha Mattos Filho às 2h38. Segundo a corporação, as chamas foram controladas rapidamente. Mas não foi possível salvar a vida da família. Pelo Twitter, a corporação lamentou a morte dos quatro familiares.

A coordenadora da creche conta que os pais eram bastante trabalhadores e que sempre estavam presentes no dia a dia das crianças na creche. “Eles deixavam as crianças aqui e iam trabalhar. Sempre que tinha eventos culturais eles vinham, participavam. Eram pais muito presentes, tanto que a gente nunca precisou ir na casa deles”, afirma.

Ana Paula Vilaverde é diretora de outra creche, a Imaculada Coração de Maria, que fica atrás da rua onde os barracos pegaram fogo. Ela conta que na região as construções não têm saneamento básico nem energia elétrica. “É uma área de risco, fica na encosta da Serra da Cantareira, bem carente mesmo”.

Ana Célia e Anderson, segundo Vilaverde, eram conhecidos na comunidade e às vezes passavam pela creche para pegar donativos. “Era mais leite que eles recebiam, por isso conhecíamos eles de vista. Eles eram pais muito atenciosos, pessoas trabalhadoras que cuidavam bem das crianças”.

Os corpos da família foram encaminhados ao IML, após a perícia no local. O Instituto informou ao UOL que aguarda um boletim de ocorrência complementar do 72º DP (Vila Penteado), delegacia que está responsável pela investigação do caso

A Prefeitura de São Paulo informou que quatro famílias foram atingidas pelo incêndio na comunidade, que fica em um terreno particular e tem ocupação irregular. Segundo a gestão municipal, as famílias foram convidadas a irem para os centros de acolhida. A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social informa prestou atendimento nas primeiras horas do dia às famílias, fornecendo colchões, cobertores, cestas básicas e kits de higiene e limpeza para aquelas que não aceitaram acolhimento.

Segundo informações da Secretaria Municipal de Habitação, atualmente mais de três milhões de pessoas vivem em condições insatisfatórias. Na capital paulista, o déficit habitacional quantitativo está estimado em 358 mil novas moradias. Outros 830 mil domicílios estão em assentamentos precários, favelas, loteamentos irregulares e precisam de algum tipo de melhoria. Hoje, mais de 28 mil famílias recebem auxílio-aluguel, removidas de áreas de risco, frentes de obras públicas ou por determinação judicial, aguardando atendimento habitacional definitivo. A previsão da prefeitura é que até 2020 18,8 mil famílias seja beneficiadas com novas moradias, cujas obras estão em andamento. 

Incêndio mata casal e duas crianças da mesma família

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