Topo

Esse conteúdo é antigo

Homem acusa segurança de mercado de agressão e racismo em Florianópolis

Renan da Silva Rodrigues acusou um segurança de agredi-lo em um supermercado de Florianópolis - Arquivo pessoal
Renan da Silva Rodrigues acusou um segurança de agredi-lo em um supermercado de Florianópolis Imagem: Arquivo pessoal

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

10/01/2020 19h33Atualizada em 10/01/2020 22h10

Um homem negro de 26 anos registrou boletim de ocorrência por lesão corporal e pretende apresentar uma ação por injúria racial contra um segurança terceirizado do supermercado BIG, localizado no Shopping Iguatemi de Florianópolis (SC). O caso teria acontecido na última terça-feira (7), próximo do horário de fechamento do estabelecimento, e está sendo investigado pela Polícia Civil. Em nota, o BIG informou que interrompeu os serviços prestados pela empresa terceirizada Onseg, com sede em Chapecó (SC).

Renan da Silva Rodrigues, contou para o UOL que saiu do trabalho - em uma loja no shopping - e passou no supermercado para comprar cerveja. Sem encontrar o que queria, decidiu ir até outro estabelecimento, do outro lado da rua. Mas antes de deixar o BIG, foi abordado pelo segurança.

"Ele parou na minha frente, disse para lhe acompanhar até um lugar, mas não fui, pedi esclarecimento. Daí ele pegou no meu braço, disse para guardar o celular que estava na minha mão e deu uma chave de pescoço (mata-leão)", disse o rapaz.

Segundo Renan, ele foi acusado pelo segurança de estar furtando produtos da loja. "Ele disse que eu estava escondendo coisas para outras pessoas. Que tinha furtado carne, mas eu não como carne há anos. Sou vegetariano", afirmou.

O homem disse que não foi revistado em nenhum momento. No meio do caminho para o interior do supermercado, a bolsa que ele carregava rasgou, e seus objetos pessoais se espalharam pelo chão. "Meu salário inteiro estava na bolsa", afirmou Renan, que trabalha há cinco anos no shopping.

Um casal de namorados - que preferiu não se identificar - estava no caixa do supermercado, já passando as compras, quando ouviu os gritos de socorro da vítima.

"Mesmo distante de onde a gente estava, eu vi o segurança dando o mata-leão nele, torcendo com muita força o braço. O menino ficou se debatendo. Eu olhei para outras pessoas do supermercado e ninguém fez nada. Eu e meu namorado saímos correndo até onde ele tinha levado o jovem", declarou ao UOL um estudante de 24 anos, que pediu para não ser identificado.

O casal se aproximou e pediu para o segurança parar. Outro homem, que se identificou como policial, exigiu que o funcionário soltasse Renan. "Ele contou que ele não podia fazer aquilo", disse o estudante.

Renan foi liberado, com um corte no rosto e com as roupas rasgadas. Ele voltou para casa, a cinco minutos de distância do shopping, e foi com os pais à delegacia registrar ocorrência.

A ocorrência foi registrada na 1ª Delegacia de Polícia e chegou ontem para a 5ª DP, responsável pela área. No dia seguinte ao ocorrido, o jovem fez o exame de corpo delito. Procurado pela reportagem, o delegado Attílio Guaspari Filho se limitou a dizer que o inquérito foi instaurado e que a investigação está em curso. "Não posso passar mais detalhes."

Caso pode mudar para injúria racial, diz defesa

Nas redes sociais, o jovem disse que se sentiu humilhado pelo ocorrido. "Fui vítima de racismo e isso não vai ficar impune, porque hoje foi comigo, e amanhã não vai ser com outro preto", desabafou em uma postagem.

O advogado da vítima, Eduardo Herculano, disse que a ocorrência foi registrada como lesão corporal, mas que a tipificação criminal pode ser alterada para injúria racial pelo delegado.

A defesa solicitou que um inquérito policial seja aberto, que a delegacia emita ofício requisitando as imagens do sistema de segurança do mercado e do shopping e que o segurança seja apontado como agressor, assim como a empresa Onseg. O escritório de advocacia ingressará com duas ações: uma na área cível, pedindo indenização por danos morais e materiais, e outra na área criminal, por lesão corporal e injúria racial.

Outro lado

Em nota, divulgada nas redes sociais o Iguatemi Florianópolis lamentou o fato. "O nosso shopping lamenta o ocorrido e reitera que não compactua com qualquer tipo de preconceito. Todos são e serão bem-vindos ao shopping. Informamos que assim que ficamos sabendo do caso, acionamos o lojista para que tomasse as medidas cabíveis."

Já o BIG informou que, além de interromper os serviços prestados com a terceirizada de segurança, estuda outras medidas. "Repudiamos veementemente qualquer ato de desrespeito e violência em nossas lojas", disse a nota.

O UOL tentou entrar em contato por telefone com a Onseg, mas ninguém atendeu. O espaço está aberto para a empresa se manifestar.

A reportagem não conseguiu o contato do segurança acusado de agressão. A polícia não informou se ele já prestou esclarecimentos.