Polícia aponta dívida de R$ 480 mil como motivo para execução de advogado
A cobrança por uma dívida de R$ 480 mil em pedras preciosas é o que teria motivado a execução do advogado Igor Martinho Kalluf, de 40 anos, em uma loja de conveniência no Centro de Curitiba. A hipótese é sustentada pela Polícia Civil, que apura as circunstâncias do crime ocorrido na última quinta-feira (11) e gravado pelas câmeras do estabelecimento.
Segundo a investigação da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Igor teria sido contratado por um ourives de Curitiba, que revendeu pedras preciosas avaliadas em quase R$ 500 mil de um fornecedor paulista para o empresário Bruno Ramos Caetano, de 24 anos.
A Polícia Civil apurou que Bruno não quitou o pagamento nem devolveu as pedras preciosas, passando a ser cobrado por Igor Kalluf, que foi contratado para fazer o serviço.
Bruno, de acordo com a investigação, é apontado como mandante e contratante dos atiradores que dispararam contra o advogado. Ele foi preso no dia seguinte ao crime.
Imagens das câmeras de segurança mostram Bruno entrando no local com dois dos atiradores e o ourives de Curitiba, que contratou Igor Kalluf.
Um dia antes do crime, Igor ligou para o suposto devedor e combinou a delegacia do bairro Santa Felicidade como ponto de encontro para acertarem o pagamento, mas ambos mudaram de ideia e seguiram para a loja de conveniência, no Centro.
"Esse ourives tinha um grande amigo, que era o Igor Kalluf, e o contratou para ajudar na cobrança. O advogado, por sua vez, dá a ideia de que diria ao empresário que também estaria contratado pelo fornecedor de São Paulo. Ele ligou para o empresário um dia antes e disse que estava cobrando essa conta severamente", disse a delegada da DHPP, Tathiana Guzella.
Após sentar de frente com Igor, Bruno se levanta e logo em seguida entra um terceiro atirador, que dispara contra o advogado e um amigo dele, que o acompanhava. A segunda vítima, Henrique Mendes Neto, de 38 anos, estava no estabelecimento para acertar a sua contratação como motoboy no restaurante mantido por Igor, aponta a Polícia Civil. Tudo aconteceu em menos de quatro minutos.
Pelas imagens, a Polícia Civil acredita que o comando para as execuções partiu do empresário no momento em que levanta da mesa e sai do estabelecimento.
"O atirador que chegou com o empresário faz menção de atirar no Igor, mas neste momento, o ourives pede para acalmar os ânimos. O atirador guarda a arma e em seguida o empresário sai do local e, por trás, conversa com os outros. A polícia acredita que neste momento ele deu o comando para a morte", sustenta a delegada. "Penso que foi uma execução planejada", completa.
Versão da polícia é fantasiosa, diz defesa
Para a defesa do empresário, a versão da Polícia Civil não se sustenta porque não existe documento que prove a transação das pedras preciosas.
"A versão da delegada de polícia é fantasiosa, que não tem nenhum respaldo com base nas próprias imagens. É uma versão midiática e que não corresponde [aos fatos]. Ela acabou embarcando em uma primeira versão, colocando esse ourives [intermediador de Curitiba e que chegou junto com o empresário] como testemunha, dizendo que o Bruno mandou matar", comentou o advogado Cláudio Dalledone Júnior.
O advogado afirma que Bruno chegou com os atiradores no carro para a sua segurança pessoal e não para mandar assassinar Igor Kalluf.
"Em nenhum momento o Bruno nega [que chegou com os atiradores]. Ele foi brutalmente ameaçado pelo Igor, pelo o que consta em seu histórico. Teve a família ameaçada por uma conta de quase R$ 500 mil, sem ter um documento para isso. Não existe nada no mundo fático nem jurídico que comprove essa dívida. Não é porque a delegada fala que é a versão oficial do fato. É a versão que ela optou", garante.
A defesa classifica o assassinato como um "desentendimento entre capangas".
"Um contratou para cobrar e outro levou para se proteger. Não existe mando de assassinato. Acha que o mandante contrata e vai na frente das câmeras e ainda leva no próprio carro? É uma fantasia", completou.
O crime
O assassinato foi registrado pelas câmeras de segurança do estabelecimento, que fica em um posto de gasolina no Centro de Curitiba.
O vídeo mostra que tudo aconteceu em menos de quatro minutos. Às 18h04, os atiradores chegaram em um carro com o empresário Bruno Caetano e o ourives que intermediou a suposta transação.
Eles cumprimentam Igor, que estava no caixa do estabelecimento. Logo depois, um atirador apontou uma arma para o advogado, que não apareceu nas imagens por causa de um "ponto cego" da câmera. O vídeo sugere que houve uma discussão entre os envolvidos.
Um outro suspeito então entra no estabelecimento e atira no amigo do advogado, iniciando as execuções.
É possível contar mais de dez disparos. O trio fugiu a pé, quando o sistema de monitoramento marcava 18h07. As duas vítimas morreram ainda no local do crime.
Os atiradores estão identificados e são procurados pela Polícia Civil. Eles não tiveram o nome revelados.
Polícia apurou motivação política
A Polícia Civil considerou uma eventual motivação política para o crime como uma das linhas de investigação, mas descartou logo nas primeiras horas após o início da apuração.
Igor Kalluf e mais 11 colegas de profissão assinaram, em junho de 2019, um pedido de investigação contra o ex-juiz Sergio Moro e os procuradores federais Deltan Dallagnol, Laura Tessler, Carlos Fernando dos Santos Lima e Maurício Gerum.
O requerimento foi motivado por mensagens vazadas que sugeriram por parte do então juiz da Operação Lava Jato orientações nas investigações da força-tarefa, conforme divulgadas primeiramente por "The Intercept Brasil" e depois pelo UOL. O pedido foi arquivado.
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