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Polícia apreende 16 cobras exóticas; estudante picado por naja seria o dono

Jéssica Nascimento

Colaboração para o UOL, no Distrito Federal

09/07/2020 17h44

O Batalhão da Polícia Militar Ambiental do Distrito Federal (BPMA-DF) encontrou 16 serpentes exóticas em uma fazenda no Núcleo Rural Taquara, em Planaltina. Segundo a corporação, a suspeita é que os animais sejam do estudante de veterinária de 22 anos que foi picado por uma naja na última terça-feira (07).

O estado de Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkul é grave. O jovem está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Maria Auxiliadora, onde foi medicado com soro vindo do Instituto Butantan, de São Paulo, e apresentou leve melhora.

Após horas de busca, a naja foi encontrada ontem pela polícia por volta das 19h (de Brasília) dentro de uma caixa atrás de um morro no terreno de um shopping localizado no Setor de Clubes Sul. Segundo o batalhão, um amigo da vítima informou a localização da cobra.

Na manhã de hoje, dez políciais foram até uma chácara, a 73 km de distância de onde o estudante foi picado, e encontraram outras serpentes após uma denúncia anônima.

Serpente foi encontrada escondida em caixa  - Divulgação/Polícia Militar Ambiental do DF - Divulgação/Polícia Militar Ambiental do DF
Serpente foi encontrada escondida em caixa
Imagem: Divulgação/Polícia Militar Ambiental do DF

Ao UOL, o major Elis Cunha explicou que as 16 serpentes - que não fazem parte da fauna brasileira - estavam dentro de caixas escondidas em uma baia de cavalo. O caseiro da fazenda informou aos policiais que o amigo da vítima deixou os animais ontem à noite no local.

"O caseiro nos informou que o amigo do jovem que foi picado é conhecido do dono da fazenda. Ele apareceu ontem no local com as 16 caixas, disse que deixaria por lá e buscaria no dia seguinte. O caseiro também relatou que ele foi embora com uma cobra, possivelmente a naja que encontramos no shopping", disse.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) informou que o estudante de medicina veterinária será multado. O valor pode variar entre R$ 500 e R$ 5 mil.

Policiais apreendem serpentes exóticas após denúncia - Divulgação/Polícia Militar Ambiental - DF - Divulgação/Polícia Militar Ambiental - DF
Policiais apreendem serpentes exóticas após denúncia
Imagem: Divulgação/Polícia Militar Ambiental - DF

A naja, segundo a Polícia Militar, era criada ilegalmente na casa do jovem. Nas redes sociais, o jovem publicava várias fotos com cobras. Depois do caso ser publicado na mídia, as imagens foram apagadas. O animal está na Fundação Jardim Zoológico dentro de uma caixa. Segundo o Ibama, ele só poderá sair do local quando o soro contra o veneno do bicho for produzido.

"O jovem será ouvido sobre o caso, assim que tiver condições. A família precisa colaborar. Se eles estão com medo, quando o rapaz acordar, ele precisará dar satisfações sobre a cobra. É ilegal mantê-la na casa dele", declarou. A Delegacia de Combate à Ocupação Irregular do Solo e aos Crimes contra a Ordem Urbanística e o Meio Ambiente (Dema) também investiga o caso.

Veneno pode matar em 60 minutos

Segundo o biólogo e diretor de répteis, anfíbios e artrópodes do Zoológico de Brasília, Carlos Eduardo Nóbrega, o veneno da naja pode matar um ser humano em apenas 60 minutos após a picada.

"Não existe registro oficial de entrada desse animal no DF. Ele não poderia estar sendo criado por uma pessoa física. Essa espécie é encontrada principalmente na Tailândia. É uma das grandes responsáveis por acidentes na Ásia", explica

A cobra do gênero naja é encontrada especialmente na África e no sul asiático. Nóbrega também informou que o veneno da cobra atinge o sistema neurológico central do ser humano, afetando a respiração e a noção de espaço e tempo. A vítima também fica sonolenta.

"Se você não mexer com essa espécie, ela vai embora. Não ataca. Mas se sentir ameaçada, ela levanta o corpo e se prepara para o bote. Porém, se o humano ou animal insistir, a naja vai picar. Ela picou exclusivamente por defesa. Até porque essa cobra não tem capacidade física de engolir um ser humano", pontuou.

De acordo com o biólogo, o tempo que Pedro está aguardando o soro antiofídico é preocupante. O indicado é receber o tratamento específico em até duas horas.

"Não temos como afirmar como vai ficar o estado de saúde dele. Mas existe o risco de morte. Como a cobra não é encontrada no Brasil, os estoques para esse tipo [de veneno] são realmente bem pequenos", disse.

Soro foi enviado emergencialmente, diz Butantan

O soro enviado pelo Instituto Butantan é usado para emergências caso ocorram ataques no local, já que a entidade de pesquisa possui algumas espécies da cobra naja.

"O Instituto Butantan informa que não produz e nem disponibiliza soro antiveneno para acidentes com naja, uma vez que é uma espécie exótica. A instituição somente mantém o soro em sua unidade hospitalar de atendimento para eventuais acidentes com pesquisadores que realizam estudos com o animal na instituição", informa o Butantan.

"Nesta terça-feira (7), foram enviadas doses desta reserva para o Hospital Maria Auxiliadora (DF) atendendo a uma solicitação em caráter emergencial O Butantan ainda conta com uma pequena reserva do soro e já está providenciando a reposição do estoque para uso interno por meio de importação", acrescenta em nota.

Segundo o instituto, novas doses não serão enviadas ao Distrito Federal, pois o tratamento é de responsabilidade da Secretaria de Saúde local. A Secretaria de Saúde disse que não tem informações sobre o caso.

As serpentes foram encaminhadas para a 14ª Delegacia de Polícia, localizada no Gama, onde serão incorporadas ao processo. Após o procedimento, serão encaminhadas ao Ibama para reconhecimento das espécies.

Cobra nasceu em cativeiro, diz Ibama

Segundo o Ibama, a naja tem coloração diferente da espécie, sem melanina. Por isso, acredita-se que ela nasceu e foi mantida em cativeiro. Ela não deve ficar no zoológico, e provavelmente será encaminhada para um instituto de pesquisa.

"Acreditamos que o próprio Instituto Butantan receberá a cobra. Mas ainda estamos estudando qual local poderá recebê-la. Estamos tendo todo o cuidado. Portanto, para evitar qualquer acidente, é procedimento padrão a deixarmos dentro da caixa ", disse o Ibama.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado na primeira versão do texto, naja não é uma espécie, e sim um gênero. O erro foi corrigido.