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Ex-funcionária de Klein acusa média de 200 a 230 mulheres abusadas por ano

Saul Klein fotografado em uma de suas festas  - Reprodução/TV Globo
Saul Klein fotografado em uma de suas festas Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

27/12/2020 22h38

Uma ex-funcionária de Saul Klein, filho do fundador das Casas Bahia, estima que em um ano, uma média de 230 mulheres tenham passado pela casa do milionário de 66 anos. Recentemente, o herdeiro foi acusado de abuso sexual e estupro por mulheres que contam ter sido aliciadas para festas e eventos na casa de Klein, em Alphaville, São Paulo.

As mulheres relatam que eram submetidas a controle de peso, pressionadas por terceiros a realizarem procedimentos estéticos e a manter relações sexuais com Klein, sempre sem o uso de preservativos, mediante remuneração de R$ 3 mil a R$ 4 mil por semana.

Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, a ex-funcionária, que foi uma das vítimas de Klein antes de trabalhar para o milionário por 12 anos, revela que não consegue nem mesmo estimar quantas mulheres — algumas menores de idade — passaram pelas festas.

"Eu não tenho estimativa real. Mas eu tenho uma média de 200 a 230 meninas por ano". Os abusos, segundo ela, são incontáveis. "Na casa de centenas, com certeza", conta a funcionária, que tinha ciência do que ocorria. "O abuso físico era horrível, era uma situação péssima."

A ex-funcionária conta como os eventos eram organizados. "Chegamos a contratar uma equipe de músicos que tocavam música clássica. Em um aniversário dele, arrumamos fantasias. E quando essa festa acabava, a certo ponto que também já estávamos um pouco alcoolizados, íamos para um outro local 'acústico', que não vazava som", lembra.

"Lá dentro ele fazia uma entrega de presentes, sapatos, bolsas, bichos de pelúcia, perfumes, joias, coisas assim, e depois a gente iniciava um jogo de perguntas e respostas que poderia levar a tirar a roupa", relata.

Uma outra vítima não identificada, na época com apenas 17 anos, também recordou os 'jogos' promovidos pelo herdeiro. "Quem errava os jogos tinha que fazer sexo com outra menina. Se ele ficasse excitado o suficiente com a nossa performance, poderia fazer sexo com ele. Eu, que tinha dez dias que tinha completado 17 anos, fiz aquilo na frente de quase trinta meninas, com um cara de uns cinquenta anos, mais velho que eu", conta ela, que também relembrou um outro episódio de abuso.

"Em três minutos de conversa ele falou: 'Então levanta que eu quero ver o seu corpinho'. E, na hora que eu levantei, essa menina veio, abaixou o meu vestido. Ele pediu para eu deitar e começou ali o ato sexual. Eu chorava. E tentava esconder o rosto, abaixar o rosto na cama, mas ele pegava no meu cabelo, virava o meu rosto e falava: 'Olha para mim, eu quero que você olhe para mim'", relata.

"Quando acabou, eu fui para o quarto com uma governanta que trabalhava na casa dele, e ela falava: 'Fica calma, eu vou aumentar em R$ 1 mil o seu cachê. Aí eu fui para esse sítio, eu não queria ter ido, mas me convenceram. Eu queria muito um celular, porque eu era uma menina de 17 anos que não tinha celular", finaliza.

A defesa de Klein alega que as relações eram todas consensuais, e que o empresário era um 'sugar daddy', termo que designa homens mais velhos que têm o fetiche de sustentar financeiramente mulheres mais novas em troca de afeto e/ou relações sexuais. O Ministério Público, que pediu a instauração do inquérito com base em 14 denúncias, contesta essa versão.

A defesa das vítimas nega o vínculo "sugar" usado pela defesa. "A diferença é o consentimento das vítimas", afirma.

"Não é só um caso de abuso sexual, é um caso contra a dignidade da pessoa humana, e eu acredito que existam muito mais vítimas do que já nos procuraram", disse a promotora de Justiça Gabriela Manssur.

Klein terá que se submeter a uma perícia psicológica por decisão da Justiça, após uma ação movida por seu filho, Philip Klein, que pediu a interdição do empresário alegando que ele está dilapidando o patrimônio de forma "acelerada" e "inconsequente".