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Morador grava casa sendo revirada por policiais no RJ; PMs acabam afastados

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

10/02/2022 22h23Atualizada em 11/02/2022 07h05

Uma câmera de segurança instalada no interior de uma casa na Vila Aliança, comunidade da zona oeste do Rio de Janeiro, flagrou na última segunda-feira (7) policiais militares do BAC (Batalhão de Ações com Cães) circulando dentro do imóvel e revirando pertences da família, que não estava em casa e apontou que objetos teriam sido furtados após a ação. Hoje, segundo a corporação, os agentes foram identificados e afastados das funções.

O caso foi revelado pela TV Globo. Nas imagens, obtidas pelo UOL, é possível ouvir parte da conversa entre três policiais que andam pela casa e mexem em bebidas, jogos de vídeo games, entre outros pertences.

"Que é isso, aqui? [Whisky] Black Label?", diz um dos agentes. Em outro momento, um deles chama atenção para os jogos encontrados: "Cheio de jogo maneiro. Só que é Xbox". Um terceiro PM aparece nas imagens e diz: "Pra não falar que nunca te dei nada na vida" e aponta para uma caixa de som, que a família aponta como ausente da residência. O colega responde: "Caixinha, né? Essa é boa, é JBL!".

A ação dos PMs foi acompanhada pelo dono do imóvel através de aplicativo de monitoramento remoto. Ele relatou à reportagem que sumiram da residência 1 kg de carne congelada, oito caixinhas de água de coco, uma caixa de som e um perfume. Ele disse ainda que essa foi a 11ª vez que teve a casa invadida por policiais sem mandado de busca e apreensão ou flagrante.

Na penúltima vez, a residência foi invadida com o auxílio de uma chave-mestra. "Eu estava acordado, era madrugada quando eu comecei a ouvir barulho no meu portão. Nesse dia, não houve nenhum furto porque eu estava em casa. Em quatro meses, já é a 11ª vez que eles vão à minha casa. Eu já não aguento mais", disse o morador à TV Globo.

O porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz, disse ao UOL que a família ainda não denunciou o caso às autoridades, mas que mesmo assim a Corregedoria da PM já foi acionada e um inquérito policial militar foi aberto para apurar o caso. Os agentes podem ser expulsos da corporação no final do processo apuratório.

Sem dúvida é inaceitável. Eles podem ser excluídos da Polícia Militar. A corporação vai convidar os denunciantes para que a gente possa robustecer o inquérito e ter acesso a mais informações. A PM ainda não tem o vídeo nas mãos, só temos a matéria da imprensa. A família não fez denúncia, mas só a reportagem já serve como peça para abertura do procedimento apuratório.

Operação na região

No dia da invasão, registrada por câmeras, a PM fazia uma operação na Vila Aliança, que contou com agentes de seis batalhões e do Centro de Operações Especiais (COE). Na ocasião foram apreendidos três fuzis, uma pistola, um revólver, uma granada, uma pistola de airsoft, diversas munições e vasta quantidade de entorpecentes. Seis homens foram presos na ação.

No domingo (6), duas pessoas morreram e outras quatro ficaram feridas em um confronto entre PMs e bandidos na região. A operação na comunidade foi realizada depois de a corporação receber a informação de que criminosos do Jacarezinho, comunidade ocupada pelo programa "Cidade Integrada", teriam fugido para Senador Camará.

A operação também tinha como objetivo coibir roubos de veículos e cargas na região.

Apenas 0,3% de "atos inaceitáveis", diz PM

Procurada, a Secretaria de Estado de Polícia Militar informou em nota que "o comando da corporação não compactua com desvios de conduta.

"A SEPM ressalta que não há, em qualquer outra instituição pública ou privada do país, uma corregedoria tão atuante como a de Polícia Militar do Rio de Janeiro. Somente nos últimos 10 anos, a corporação excluiu de suas fileiras 1.536 maus policiais, o que representa uma média anual de cerca 153 militares desligados".

Ainda de acordo com o posicionamento, apesar do número expressivo, os policiais militares que cometeram atos considerados inaceitáveis representam menos de 0,3% da corporação. "Nesse contexto, a esmagadora maioria de nossa Corporação é composta por homens e mulheres que se dedicam integralmente à defesa da sociedade".

A nota termina dizendo que a população pode formalizar qualquer denúncia relativa a conduta de policiais militares através da Corregedoria, através do (21) 2725-9098, pelo whatsapp (21) 97598-4593 ou ainda pelo e-mail denuncia@cintpm.rj.gov.br.