Idosa viaja mais de 2 mil km e reencontra irmã gêmea que não via há 70 anos
A aposentada Maria Gomes da Silva, 82, viajou mais de 2 mil quilômetros de Caracaraí, no sul de Roraima, até o interior do Piauí, para reencontrar os quatro irmãos que não via há 70 anos, incluindo sua gêmea.
A idosa descobriu o paradeiro dos familiares com a ajuda dos netos e do filho mais novo, que pagou pela viagem. Ela contou que o amor pelos irmãos é igual, mas a maior saudade era da irmã gêmea, Francisca Gomes Pessoa, 82.
"Era muita saudade. A maior alegria que to tendo. Sentia muita saudade da minha Francisca, minha irmã. Eu não estava esperando a gente se ver mais, nem ela também. Mas encontrei. Eles [irmãos] não querem que eu vá, querem que eu fique", contou a aposentada ao UOL, eufórica com o reencontro. "Quando me disseram [sobre a viagem] eu fiquei feliz, fiquei bem".
O neto da idosa, Denison Gomes, 27, ajudou a localizar os irmãos da avó por meio das redes sociais, em dezembro do ano passado. Ele disse que a aposentada sempre buscou notícias da família, principalmente da irmã gêmea. Maria é analfabeta; por isso, chegou a pedir para os netos escreverem cartas para rádios locais buscando notícias dos familiares.
"Nós colocamos as informações no Facebook e no mesmo grupo que eu postei a neta da tia Francisca também estava procurando por uma irmã gêmea com o nome de Maria. Aí a gente começou a bater as informações com as nossas e vimos que realmente se tratava da pessoa que nós estávamos procurando", contou o neto, que registrou com fotos e vídeos os momentos de reencontro.
A partir daí, netos e filhos se mobilizaram para realizar o sonho da matriarca. "Ele [filho mais novo] disse: 'Mamãe, não vou conseguir enviar a senhora agora, mas, se a senhora esperar um pouquinho, eu vou pagar todas as despesas para a senhora ir ver os seus familiares", relatou Denison.
Avião, ônibus, caminhonete e moto
Maria e Denison desembarcaram no Piauí no dia 7 de março. Eles vão permanecer no estado até 7 de abril, quando retornarão para Roraima. Ela disse que estava ansiosa para abraçar os parentes. "Essa família é grande, olha, e eu não encontrei nem metade", contou a aposentada sobre os sobrinhos, netos e bisnetos que conheceu. "Estamos aqui juntas, nós duas [ela e a irmã]."
A idade avançada não impediu os abraços apertados entre irmãos, que moram em diferentes regiões do Piauí. O mais velho tem 100 anos, o aposentado Manoel Temista. Os outros são: João Culete, 99, e Antônio Gomes, 84.
Para chegar a cada um, Maria não poupou esforços. Além da viagem área, também precisou viajar de ônibus, caminhonete e até na garupa de uma moto numa estrada de terra. "Que alegria, meu Deus. Não sei nem como te dizer", comemorou ela.
Fuga da fome
Maria morou com os irmãos no bairro Povoado de Cigana, em Santa Cruz do Piauí (PI), até os 12 anos, quando precisou sair de casa para fugir da pobreza e da fome.
Casou-se aos 16 e foi com o marido para o Maranhão, onde permaneceu por mais de dez anos. Em meados da década de 1970, o casal chegou a Roraima e viu no estado uma oportunidade de sustentar os nove filhos com a pesca e venda de peixes.
"Foi uma luta danada. Saímos do Piauí e entramos no Maranhão. Lá passamos dias de sofrimento. Passamos sufoco, andando na mata, carregando água. Era muito trabalho. Aí fui para Roraima", contou a idosa, que perdeu o marido em 2016. "Depois de tudo o que eu passei, eu só dou graças a Deus por ter encontrado eles [irmãos]."
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