Topo

RJ: Delegado cita ex-chefe de polícia em planos de matar Rogério de Andrade

O delegado Allan Turnowski, ex-secretário da Polícia Civil do RJ - Divulgação/Polícia Civil
O delegado Allan Turnowski, ex-secretário da Polícia Civil do RJ Imagem: Divulgação/Polícia Civil

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

09/09/2022 20h11

A denúncia do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) que terminou com a prisão na manhã de hoje do ex-chefe da Polícia Civil Allan Turnowski destaca uma relação muito próxima entre ele e o delegado Maurício Demétrio, preso no ano passado acusado de chefiar um esquema que exigia propina de comerciantes de Petrópolis, na Região Serrana fluminense.

De acordo com o MP, desde 2016, eles integram uma organização criminosa voltada para a exploração do jogo do bicho.

Em mensagens extraídas de celulares apreendidos de Demétrio, aliado do bicheiro Fernando Iggnácio —genro do também contraventor Castor de Andrade e assassinado em 2020—, o delegado cita ao menos três planos para matar o bicheiro rival Rogério de Andrade, sobrinho de Castor.

Na primeira troca de mensagens, Demétrio faz referência a uma suposta participação de Allan Turnowski, citado nas mensagens como Israel.

"Vamos ver, mas só semana que vem. O Israel foi surfar em El Salvador! Putz grila, cara, o mundo desabando e o cara foi surfar em El Salvador", diz Demétrio em uma das mensagens que tratava sobre a possibilidade de matar o bicheiro até 30 de dezembro de 2016.

Segundo o MP-RJ, o registro de entradas e saídas do país fornecido pela Polícia Federal aponta que Turnowski viajou para El Salvador na data das mensagens trocadas.

O MP destaca ainda na denúncia que Maurício Demétrio e o interlocutor —Marcelo José Araújo de Oliveira [outro denunciado à Justiça]— estabeleceram o valor a ser pago a Jorginho [ex-policial civil Jorge Luiz Fernandes] para providenciar o assassinato do bicheiro.

Três milhões de reais a serem divididos em partes iguais por Maurício, Marcelo e Turnowski", diz o documento do MP-RJ.

A investigação diz que o assassinato de Rogério Andrade seria uma contrapartida para Jorginho se juntar ao grupo de Urubu —apelido de Fernando Iggnácio.

Rogério e Iggnácio disputavam o controle de pontos de contravenção. De acordo com o MP, Demétrio atuava como um braço da quadrilha de Iggnácio na Polícia Civil, enquanto Turnowski operava como agente duplo, atuando em favor dos dois bicheiros rivais.

'A gente é um CNPJ só', disse Turnowski

Outra troca de mensagens encontrada pela polícia mostra que em período não datado, com medo de ser preso, Turnowski pede ajuda a Demétrio e diz que se caísse, o parceiro cairia também, pois "a gente é um CNPJ só".

"Guru [Demétrio], se ele me pegar ele vai te pegar, Guru. Tem que me proteger por você! Po***, tá maluco? Nós somos um CNPJ, um CPF só! Irmãos de embrião", diz Turnowski em mensagem.

Demétrio responde: "Vou fazer de tudo".

Segundo a denúncia do MP-RJ, a conversa recuperada do celular de Demétrio é uma das principais evidências de ligação entre os dois policiais para beneficiar contraventores.

No documento, os promotores afirmam que "Allan Turnowski e Maurício Demetrio se uniram para integrarem ORCRIM (Organização Criminosa) liderada por Fernando Iggnácio, o primeiro, como já dito, de forma velada, atuando como agente duplo entre essa ORCRIM e a de Rogério Andrade, ao passo que o último, de forma mais franca e definida".

A operação deflagrada hoje para prender Turnowski foi uma continuação das operações Carta do Corso I e II, que apura o esquema de extorsão praticado pela quadrilha comandada por Demétrio.

Turnowski e Demétrio vão responder por organização criminosa, corrução ativa e passiva e violação de sigilo funcional, cujas penas somadas superam 30 anos de reclusão; Uma possível condenação também leva à perda do cargo público.

O que dizem os acusados

O UOL fez contato com o advogado de Allan Turnowski e ainda não obteve um posicionamento sobre o caso.

Em um vídeo datado de 11 de agosto e publicado hoje nas redes sociais, o ex-chefe da Polícia Civil do RJ diz que estava sendo perseguido politicamente e acusou um grupo do MP de armar contra ele.

"Por que vão entrar na minha casa? Por perseguição política, vocês sabem que tô forte na minha campanha e como deputado federal. Hoje só vocês podem armar, mentir para tentar me desmoralizar e eu não posso investigar vocês porque vocês são protegidos. Só que vocês não merecem a proteção que o MP tem", disse ele.

Turnowski deixou o cargo no governo do RJ para concorrer a uma vaga de deputado federal nas eleições deste ano pelo PL.

A reportagem faz contato com a defesa do delegado Maurício Demétrio sobre as acusações do MP-RJ.