Homem arrasta em carro aluna que protestava contra cortes na educação em MG

Uma aluna que participava hoje de uma manifestação contra o confisco de verbas para a educação em frente à UFV (Universidade Federal de Viçosa) foi vítima de um motorista que furou o bloqueio realizado nas principais entradas da instituição de ensino e a arrastou no capô do carro que conduzia. A cena foi flagrada em vídeo e mostra o momento em que o motorista acelera, com ela na frente do veículo tentando se segurar limpador de para-brisas até que o automóvel fosse parado.

O protesto integra o "Dia Nacional em Defesa da Educação", promovido pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Nacional dos Estudantes Secundaristas (Ubes). Em 2022, a universidade sofreu bloqueios na ordem dos R$ 8 milhões pelo MEC.

Mas alguns poucos veículos, como o Fiat Uno que aparece no vídeo, conseguiram furar o bloqueio. No vídeo, é possível ver quando o motorista avança em direção aos manifestantes e chega a levar a universitária, de 23 anos, deitada de bruços sobre o capô.

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Os manifestantes então começam a xingá-lo e correm atrás do carro em movimento, gritando para que ele pare o veículo e o acusando de atropelar a jovem. O motorista então para o veículo e manda os estudantes liberarem a passagem. Numa manobra rápida, e já com a jovem fora do capô, o condutor sai acelerando.

Ação foi avisada

A estudante de ciências biológicas que foi arrastada pelo motorista conta que o episódio se deu por volta das 10h25, quando foi formado um cordão humano em uma das entradas da universidade. Ela, que não teve o nome divulgado por medo de represálias, diz que o condutor foi instruído a fazer um desvio de 10 minutos, mas que ele insistiu em passar no local e teria dito "vou fazer vocês de boliche".

Neste momento, eu estava na frente do carro, que acelerou de uma vez sem dar a chance de sequer escapar da frente, como eu estava no meio, não tinha jeito de sair pelas laterais me dando a única opção de subir no capô por medo de ser passada por cima e me arrastou presa no capô, enquanto eu gritava e batia no capô pedindo para ele parar o carro, assim como todos os alunos que estavam próximos tentando diminuir a velocidade do carro e pedindo para parar. Outras pessoas que estavam em volta também foram atingidas. Depois de mais de 25 metros, o carro freou bruscamente, e foi quando caí e bati a cabeça no chão, não cheguei a machucar muito por que por sorte eu segurei o para-brisa para ter em algum lugar para me firmar.
Universitária arrastada por veículo em protesto na UFV, 23

A jovem precisou ser atendida em um hospital da região, com um ferimento na cabeça. Em conversa com o UOL, ela disse que está bem, apesar de muito assustada. Sem sintomas que indicassem trauma, ela recebeu alta às 14h30.

Investigação

O homem que aparece nas imagens ainda não foi identificado. O UOL tentará acioná-lo para saber suas versões sobre os fatos tão logo a polícia o identifique ou ele se manifeste.

Por outro lado, o estudante que gravou a cena e se revoltou com o motorista pode ser indiciado.

Nós chamamos a polícia, eles não presenciaram a cena. Daí alguém postou um vídeo onde eu apareço chutando o Fiat e eles viram. Acabou que eu fui enquadrado por ter chutado o carro, mas não falaram nada sobre a menina se equilibrando no capô, o risco que ela sofreu. Eu chutei, mas foi uma reação à maneira com que ele avançou com o carro pra cima da gente. Foi automático, eu só queria que ele parasse para ela não se machucar.
Estudante de enfermagem, 19, pediu para não ser identificado

Os jovens ouvidos pelo UOL e que participaram do protesto de hoje demonstraram muito medo em revelar suas identidades. Eles temem represálias. "Essa gente que se diz de bem é capaz das piores atrocidades", disse outra testemunha da cena. "Se levar uma menina no capô do carro em velocidade está de boa, imagine o que não se sentem autorizados a fazer?".

A Sejusp-MG (Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais) foi procurada pela reportagem para saber se o motorista já foi identificado e quais serão os próximos passos da investigação, mas, até o momento, não respondeu ao contato. Este espaço será atualizado tão logo haja posicionamento.