Da roça à fama, motorista fisiculturista faz virais dançando em rodoviárias
O paranaense Claudemir Ludugério, 52, tem uma rotina flutuante. Motorista de ônibus e fisiculturista, ele pode estar em uma rodoviária de Goiás, onde fica lotado, mas também se ver em São Paulo, Paraná ou Tocantins, a depender da escala de serviço. A constante da vida dele, porém, é a série de coreografias, que vão de Madonna a Michael Jackson, sempre com um sorriso no rosto, em frente aos veículos que dirige.
Os vídeos desses momentos inusitados já somam 50 milhões de visualizações nas redes sociais e lhe renderam meio milhão de seguidores em todo o país.
Os passos alusivos oitentistas não são criações recentes. Quando criança, morava em Santa Amélia (PR), município com pouco mais de 3 mil habitantes no norte do estado, que sequer tinha academia e poucas vias eram asfaltadas, mas a conexão com o mundo encantava a família por meio de músicas internacionais que chegavam pelo rádio.
"Eu e meus irmãos ficávamos ensaiando para ir à discoteca. Gostava muito de Flashback, Michael Jackson, Madonna, Cindy Lauper", recorda o motorista, em entrevista ao UOL. À época, já pensava em dirigir Brasil adentro e trabalhar esculpindo o corpo. "Para um garoto da roça que morava com uma família de 11 irmãos parecia um motivo de piada [querer ser motorista e fisiculturista]. Não era questão de tirar sarro, era porque as pessoas não viam uma maneira de prosperar, mas acreditei", conta.
Claudemir chegou a trabalhar como servente e lavrador antes de começar a correr atrás do objetivo. Casou-se, teve cinco filhos, divorciou-se e foi morar em Itatiba (SP), onde começou a atuar como cobrador de ônibus. Na empresa de transporte circular, fez curso de motorista e, em 2005, passou a conduzir. Primeiro em ônibus de linha e, quatro anos depois, nas redes intermunicipais e interestaduais.
Foi a cultura presente nas rodoviárias do país que o fizeram querer ser visto como alguém que faz os outros sorrirem.
Na rodoviária, muitas pessoas estão indo atrás de um sonho, de um trabalho, indo ver parentes que não veem há muito tempo. Alguns estão ansiosos, apreensivos. E aí chega um motorista dançando na frente do ônibus? É surreal.
Claudemir Ludugério, motorista, fisiculturista e dançarino influencer
Mudando de vida (e de nome)
A estreia de Claudemir nas redes sociais começou na pandemia, quando ele passou a publicar vídeos praticando exercícios físicos, a maioria com pesos de cimento ou com o próprio corpo.
"As pessoas não podiam treinar. Estavam presas. Comecei a fazer vídeos para incentivar as pessoas a treinarem, a usarem a saúde", recorda. Quando as viagens intermunicipais voltaram, ele levou as produções a outro patamar, gravando dentro das rodoviárias, às vezes com passageiros.
Os colegas de profissão e até mesmo os passageiros também passaram a ajudar nas produções dos vídeos. Seja gravando ou fazendo participações especiais, com danças a dois.
Logo, os milhares de seguidores foram acumulando. Hoje, além das mais de 500 mil pessoas que o acompanham, seus vídeos já foram vistos mais de 50 milhões de vezes.
O orgulho pelo atual momento foi grande a ponto de Claudemir abrir mão do nome de batismo nas redes e se tornar, até nas palavras, tudo que sempre quis ser: motorista fisiculturista. É assim que se apresenta em todas as redes e até no santinho eleitoral que usou nas eleições de 2022, quando tentou uma vaga de deputado federal, sem sucesso.
Dos passinhos à política
Em 2022, Claudemir se candidatou a uma vaga de deputado federal pelo estado do Paraná. Na época, ele declarou R$ 23,6 mil em bens, divididos em um carro popular ano 2006 e o saldo de R$ 117 na conta corrente.
Candidato pelo partido União Brasil, ele gastou R$ 58 mil na campanha, a maior parte em publicidade, mas obteve apenas 805 votos e não se elegeu. Ele atribui o resultado à falta de experiência e conta que só entrou na corrida eleitoral graças ao incentivo de terceiros, mas não descarta estudar melhor para uma nova tentativa no futuro.
"Se for um negócio bem conversado e bem feito, lá na frente, por que não? No momento eu não penso nisso, mas quem sabe? Aprendi que tudo precisa ser bem conversado antes, porque só palavra não adianta", conta.
Dança, a maquiagem preferida
A produção de vídeos para a internet do motorista fisiculturista já foi quase interrompida algumas vezes. Uma delas foi com a morte do filho de 26 anos, assassinado em Campinas (SP), em janeiro de 2021. Claudemir, então, voltou para a cidade natal e correu para o colo da mãe, de 84 anos, uma de suas mais assíduas seguidoras, sem saber se continuaria o trabalho. A dúvida foi renovada exatamente um ano depois, quando ela também faleceu.
Quando surgiu essa repercussão, eu fazia questão de ir até ela e fazer a dancinha com ela. Agora, infelizmente, ela não está presente, mas tenho certeza que ela está torcendo por mim. É o que sempre falo: levando a alegria para as pessoas, eu maquio a minha dor. Todo mundo tem problema. Eu tenho problema, você tem problema, mas levando, a alegria e as energias positivas para as pessoas eu me sinto feliz.
Apesar de se inspirar nas coreografias que passavam nas televisões de válvula, ainda em preto e branco, quando era adolescente, Claudemir afirma que é autodidata e que faz as próprias danças desde a infância, sem copiar passos e captando apenas referências de vídeos antigos.
Uma das performances que ele fez, dançando a música Sending All My Love no terminal da Barra Funda, em São Paulo, chegou ao vocalista da banda Linear, Charlie Pennachio, que enviou um vídeo o parabenizando.
"Já pensou, um garotinho da roça, que ia descalço para a escola e levava o caderno em um saco de arroz viralizando e um cantor internacional mandando um parabéns? Foi muita emoção. A mesma coisa quando eu chego na rodoviária, as pessoas pedem para tirar foto, as pessoas me reconhecem", afirma.
O hit da banda é a música que ele mais gosta de dançar e a que mais fez sucesso no TikTok do paranaense, com mais de cinco milhões de visualizações.
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