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'1ª da família na faculdade': Quem era a aluna da UFPI morta após estupro

Janaina da Silva Bezerra era estudante de jornalismo da UFPI (Universidade Federal do Piauí) - Reprodução/Redes sociais
Janaina da Silva Bezerra era estudante de jornalismo da UFPI (Universidade Federal do Piauí) Imagem: Reprodução/Redes sociais

Do UOL, em São Paulo

30/01/2023 04h00Atualizada em 30/01/2023 18h13

A estudante de jornalismo Janaina da Silva Bezerra, 21, foi a primeira pessoa da família a entrar na faculdade e tinha o sonho de se formar e trabalhar na televisão, conta a irmã, Janiele Silva. No início de janeiro, ela publicou uma poesia em que dizia ansiar pelo futuro.

A jovem foi morta anteontem (28), em Teresina (PI), após ser estuprada e ter tido o pescoço quebrado, segundo a polícia. O crime ocorreu durante uma calourada em um prédio da UFPI (Universidade Federal do Piauí), onde a jovem estudava.

Thiago Barbosa foi preso por suspeita de estuprar e matar Janaina - Reprodução/Redes sociais - Reprodução/Redes sociais
Thiago Barbosa foi preso por suspeita de estuprar e matar Janaina
Imagem: Reprodução/Redes sociais

A Justiça decidiu manter preso por tempo indeterminado o suspeito pelos crimes de feminicídio e estupro. Thiago Mayson Barbosa, de 29 anos, é estudante de mestrado em matemática na UFPI e foi preso em flagrante. Ele foi ouvido ontem em audiência de custódia.

Venda de bolos para comprar um computador

Janaina entrou na universidade no segundo semestre de 2020. No início do curso, vendeu bolos de pote, com a ajuda da mãe e da família, para comprar um computador para estudar. Faltavam dois anos para concluir a graduação.

Ela já se apresentou em rádio. Também tinha o sonho de escrever um livro. O que ela queria mesmo era ser jornalista. Era o sonho dela trabalhar na televisão."
Janiele Silva, irmã da vítima

O pai da estudante, Adão Bezerra do Nascimento, mecânico, também falou da paixão da filha. "Ela era do jornalismo. Já estava terminando [a faculdade], faltava dois anos para se formar. Só ela fazia faculdade [na família]. Seria a primeira a se formar. Era uma boa menina, não tinha negócio de bebedeira. Tinha vez que ela saía às 14h e, quando era 22h, já estava em casa", disse em entrevista ao jornalista Efrem Ribeiro.

"Era o sonho dela se formar em jornalismo", afirmou o pai da vítima ao Portal RP50.

O corpo de Janaina foi velado neste domingo, em Teresina. Uma vaquinha está sendo promovida para ajudar a família da estudante.

Última publicação da jovem falava de 'futuro'

Janaina gostava de escrever e tinha uma página no Instagram para compartilhar suas poesias. Na última postagem, em 2 janeiro, escreveu que ansiava pelo futuro.

Anseio o que o futuro tem para mim / mais ainda o que penso ter no presente instante / no ministério das dobras em que o destino dá / ou arranca / fazendo parecer que foi meu algum dia do passado / aponto pela hora que ele me devore por um enigma mal decifrado / no momento me vivo e vivendo me viro / as vezes me retiro / na pausa, me celebro / e vejo / e vou / com os pulmões arfando ao encontro do que me esperava.
Poesia de Janaina da Silva Bezerra

Jovem publicou reportagem sobre literatura negra e recomendou autores

Nos stories, Janaina compartilhou uma matéria sobre literatura negra, de sua autoria, publicada no jornal laboratório da faculdade com o título "O apagamento de escritas negras é mais uma forma de violência".

Leia o texto completo de Janaina na página 2.

Texto escrito por Janaina da Silva Bezerra, estudante de jornalismo da UFPI (Universidade Federal do Piauí), para a disciplina de jornal laboratório - Reprodução/Redes sociais - Reprodução/Redes sociais
Texto escrito por Janaina da Silva Bezerra para a disciplina de jornal laboratório
Imagem: Reprodução/Redes sociais

Reestabelecer a ancestralidade e fortificar a identidade do povo afro-brasileiro por meio da escrita é uma grande ferramenta de poder, num meio onde, até 2014, apenas 2,5% dos autores publicados eram não-brancos, conforme pesquisa do Grupo de Estudos de Literatura Contemporânea da Universidade de Brasília (UnB). Homens e mulheres negras representando a nova geração com conteúdos literários riquíssimos, expressando as suas subjetividades ignoradas cotidianamente num país racistas, é um ato de resistência.

Em junho de 2022, deu dicas de cinco poetas negros: Ruth Guimarães, Solano Trindade, Carlos de Assumpção, Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo.

Hoje, a partir das 16h, estudantes da UFPI pretendem fazer uma vigília em sua homenagem, com ponto de encontro na praça em frente à reitoria da universidade.