Ele restaura e devolve a glória a Barbies antigas: 'Todas têm uma história'
Você pensa que boneca é coisa só de criança? Filipe de Marchi tem 20 anos e vive cercado de Barbies e outros modelos. Ele até trancou um curso superior em uma universidade federal para se dedicar integralmente às bonecas.
O criador de conteúdo de João Neiva (ES) restaura e coleciona bonecas: são centenas, entre Monster High, Barbie, Rainbow High, Bratz, LOL e outras tantas marcas que despertam memórias, principalmente de quem cresceu nos anos 2000.
"Eu tenho um apego por bonecas que têm a pretensão de ser fashion, que são articuladas, fazem poses. Elas vêm com uma roupa mais bem trabalhada, com aplicações de glitter, de pedraria, com muitos acessórios."
A coleção dele gira em torno de 380 bonecas. O número não é preciso porque ele sempre está esperando uma compra nova chegar. Parte delas fica exposta em seu quarto.
Todas que estão expostas já passaram pelas minhas mãos, pelos cuidados da minha restauração. Algumas ficam dentro da caixa. Porque elas têm uma história muito especial por trás.
Paixão vem de anos
Filipe coleciona bonecas desde 2012, quando tinha 10 anos. Seu primeiro contato com elas aconteceu na casa de uma amiga — quando queria brincar, ia para lá.
"Eu era livre para brincar com todas as bonecas dela. A gente tirava as roupas, brincava de Big Brother, quem era a mais bonita. Depois, comecei a pedir para a minha mãe", lembra ele.
Convencê-la não foi fácil. Filipe acredita que isso não tinha a ver com um preconceito da mãe propriamente, mas com uma barreira social. "A sociedade nega bonecas para meninos."
Na época, ele ganhou a mãe na insistência: sua primeira boneca foi uma Monster High, que guarda até hoje.
Depois, veio mais uma. Mais uma, mais uma, mais uma, mais uma. E hoje tenho mais de 300 dentro do meu quarto.
O acervo cresceu, e a paixão dele também. Na pandemia, Filipe chegou a iniciar um curso de artes visuais na Universidade Federal do Espírito Santo, mas trancou para se dedicar integralmente às bonecas.
Ele começou tanto a faculdade quanto a produção de conteúdo sobre as bonecas nas redes sociais durante o isolamento, mas percebeu que seu público esperava cada vez mais produções de melhor qualidade.
"Depois de pensar muito, decidi focar na minha criação de conteúdo. E eu digo que foi a melhor decisão que eu tomei até agora."
Restauração minuciosa
Todo mundo que já brincou com uma boneca na vida sabe: o cabelo é um item complicado. Ele é sintético e, se embaraça, é mais fácil cortar do que desfazer os nós.
É muita água, shampoo e condicionador para deixar o cabelo mais maleável e fácil de trabalhar. Depois, tem dois caminhos: ou eu aliso ou eu enrolo com água quente.
O objetivo é sempre o mesmo: deixar a boneca o mais parecida possível com a original, como estava na caixa.
As técnicas, para isso, são muitas: tirar mancha da "pele" dela com óleo de banana, passar roupas com mini chapinha, usar canudo para enrolar o cabelo — todas aprendidas na internet.
"Se vem faltando algum acessório, eu procuro na internet para comprar. Quero deixá-la o mais completa possível", diz. No final, a sensação é de satisfação. "Você sente que fez parte da história, da beleza daquela boneca."
As favoritas
A coleção de Filipe cresce de diversas formas. Além de sempre comprar novos modelos, hoje ele também ganha muitas bonecas das fabricantes devido ao seu sucesso como criador de conteúdo — são 56 milhões de curtidas apenas no TikTok. Ele também recebe doações de amigas e seguidores.
Com o boom do filme da Barbie, viu crescer ainda mais o interesse do público em geral pelas bonecas.
Tem muitas mulheres que me acompanham que na infância brincavam com bonecas, mas o tempo foi passando e elas foram ficando de lado. E elas aceitam se despedir para me mandar porque sabem que eu vou cuidar bem delas.
"Fico em um sentimento de dívida, porque elas vão me dar a boneca. O que eu vou fazer em troca? Aí, quando eu posto o vídeo, eu faço questão de mandar [o vídeo, com o resultado da restauração]", completa.
Entre tantas bonecas, Filipe tem algumas que guarda com carinho especial. Uma coleção de que ele gosta muito é a Shadow High, uma linha da MGA Entertainment Inc.
"Cada menina, cada personagem, tem uma cor. Tem a vermelha, a amarela, a laranja, a azul. E, dentro da história [o universo das bonecas é de uma escola de ensino médio], tem um plot twist, que são as bonecas pretas e brancas", explica ele.
Entre as raras, o jovem tem apreço maior por um modelo lançado pela Monster High em uma edição da San Diego Comic Con que foi vendida apenas no evento — a Webarella.
Consegui uma com uma parceria com uma loja e eles me mandaram ela lacrada. É mais uma das que não tirei da caixa, porque é extremamente rara e muito cara.
Coisa de menina? Que nada!
Filipe conta que recebe alguns comentários falando que, se ele tiver uma filha, ela vai adorar a coleção.
Não necessariamente é uma menina que vai gostar tanto, sabe? Pode ser um menino.
"Essa é a mensagem que trago nos meus vídeos: a boneca não é só para as meninas. É um brinquedo, assim como qualquer outro, feito de plástico e um pouquinho de tecido, que encanta."