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'Não sobrou nem a casa, tem corpos no rio', relatam moradores do RS

Moradores com medo de abandonar suas casas permanecem em alguns locais Imagem: Arquivo Pessoal

Vinícius Rangel

Colaboração para o UOL

06/09/2023 12h51

Uma das maiores enchentes da história da Bacia do Taquari, no Rio Grande do Sul, causada por um ciclone extratropical, afetou mais de 52 mil pessoas e deixou dezenas de mortos. As informações são da Brigada Militar e da Defesa Civil Estadual.

Ao menos 50 cidades foram atingidas e centenas de casas acabaram encobertas pela água carregada de sujeira, empresas foram destruídas e o comércio afetado em massa, levando a um prejuízo financeiro ainda incalculável pelas autoridades. Moradores ainda tentam avaliar o que sobrou das últimas 48h de destruição no estado.

O empresário Luciano Felix Misiuk, de 44 anos, contou que soube da situação pelo irmão que mora com a mãe de 67 anos na cidade de Arroio do Meio. A água começou a subir cedo e logo chegou ao teto da casa. Eles conseguiram resgatar a mãe pelo forro da residência, mas tiveram que sair pelo telhado.

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Eles rasgaram o forro do teto e ficaram lá em cima vendo a água subir cada vez mais. Ela continuou subindo e eles quebraram o telhado e subiram ainda mais. Lá, eles não tiveram escolha a não ser nadar e ir para outra casa. Meu irmão e minha mãe ficaram em cima do telhado por mais de cinco horas. Foram os voluntários que retiraram eles nadando de lá. Desesperador." Luciano Felix Misiuk, empresário.

Uma senhora de 67 anos foi resgatada pelo forro da residência e precisou sair pelo telhado Imagem: Arquivo Pessoal

O episódio aconteceu entre a madrugada e tarde de ontem. Hoje pela manhã ainda existiam residências tomadas pela água e lama. Com medo de abandonar suas casas, alguns moradores permanecem no local. O empresário revelou ainda que outros dois irmãos voltaram para a casa da mãe para tentar resgatar algo, mas nada foi recuperado.

Não sobrou nada, nem a casa. Eu trouxe a minha mãe para morar comigo em outra cidade. Meus irmãos voltaram lá para tentar ver se não tinham roubado algo. 50 anos morando e nunca vivenciamos nada igual a isso. Nunca houve enchente aqui dessa forma. Foi devastador. Eu não consegui dormir até agora.

Corpos em Rio

Na mesma cidade, o corretor de imóveis Darci Hergessel, de 59 anos, foi mais uma vítima da tragédia. Por telefone à reportagem do UOL, o homem chorou de tristeza ao contar que perdeu praticamente sua casa e que ajudou a salvar moradores que estavam ilhados. De acordo com o trabalhador, corpos foram encontrados no Rio Taquari em meio a lama e ao lixo arrastado pelas águas.

A cidade foi destruída. Acabaram com Arroio. Eu perdi praticamente tudo, mas ainda consegui escapar e ajudei a salvar outras pessoas que estavam ilhadas. Hoje, eu caminho em meio aos destroços e por ruas ainda alagadas. Eu nunca passei por isso aqui, nunca aconteceu isso. É uma tragédia que não tem explicação. Encontraram corpos no meio do rio cheios de lama. Tem muito lixo pela cidade toda. Acabou tudo, misericórdia. Darci Hergessel, corretor de imóveis.

A preocupação agora é com os alertas de mais chuva e ventos fortes carregados de raios que podem atingir as áreas já castigadas. "A gente não sabe o que está por vir. Vivemos com medo, sem saber o que vai acontecer nas próximas horas. Tá muito difícil olhar isso tudo", desabafou o corretor de imóveis.

Até o momento, a tragédia afetou mais de 52 mil pessoas, segundo a Brigada Militar e a Defesa Civil Estadual Imagem: Arquivo Pessoal

Idosa resgatada de barco

A comunicação nessas regiões afetadas pelas chuvas é outro desafio entre as famílias. Magda Lazzaretti, aposentada, recebeu notícias de que sua mãe, de 85 anos, foi resgatada com ajuda de alguns moradores pela sacada do segundo andar da residência, na cidade de Muçum.

Foram os meus amigos e voluntários que socorreram a minha mãe pela sacada. A água subia muito rápido e só conseguiram fazer isso lá de cima com a ajuda de um barco. Ela conseguiu sair e está segura na casa de outros parentes. Eu moro em Porto Alegre e a gente está com dificuldade de comunicação na cidade e para chegar lá. Vários pontos sem água e luz. O telefone não pega com facilidade. Os relatos são de que muitos perderam tudo e ficaram presos nos telhados sem saber que horas iriam ser resgatados. Ainda tem gente desaparecida. Magda Lazzaretti, aposentada.

A Defesa Civil ainda não divulgou informações sobre o número de desaparecidos vítimas da enchente no estado. Não há uma previsão de quando esses dados serão contabilizados.

Ajuda com doações

A Defesa Civil divulgou que está aceitando doações de materiais de higiene pessoal e limpeza. Além de cestas básicas, agasalhos e roupas de cama. Os materiais podem ser entregues na Central de Doações, que fica na Avenida Borges de Medeiros, 1.501, em Porto Alegre, das 9h às 15h. Outros pontos também foram destinados:

  • Central de doações da Defesa Civil em Porto Alegre (Avenida Borges de Medeiros, 1.501);
  • Palácio Piratini (Praça Mal. Deodoro, s/n - Porto Alegre);
  • Quartéis da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros;
  • Prefeituras dos municípios do Estado;
  • Agências do Banrisul;
  • Pontos de doação da campanha do agasalho.

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