Pastores prometiam lucro de 1 octilhão de reais a fiéis, diz polícia do DF
Colaboração para o UOL, em São Paulo
20/09/2023 09h33Atualizada em 20/09/2023 20h18
Uma organização criminosa foi alvo de operação da Polícia Civil do Distrito Federal nesta quarta-feira (20) pelos crimes de estelionato contra 50 mil pessoas.
O que aconteceu
Segundo investigação da polícia, pessoas no Brasil e no exterior eram induzidas a investirem quantias em dinheiro com a promessa de recebimento futuro de valores superaltos, sendo persuadidos com o uso da fé alheia, da crença religiosa e invocando de uma teoria conspiratória apelidada de "Nesara Gesara". O golpe, aplicado por lideranças religiosas, consistia na conversa enganosa por meio de redes sociais, como YouTube, Telegram, Instagram e WhatsApp. A polícia detectou a promessa de que, com um depósito de R$ 25, as pessoas poderiam receber de volta o valor de um octilhão de reais, ou mesmo "investir" R$ 2.000 para ganhar 350 bilhões de centilhões de euros.
Denominada de "Falso Profeta", a operação cumpriu dois mandados de prisão preventiva e dezesseis mandados de busca e apreensão no Distrito Federal contra uma organização criminosa por prática de estelionato, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal, informou a Polícia Civil. A investigação começou há cerca de um ano. A investigação apontou movimentação superior a R$ 156 milhões nos últimos cinco anos, bem como foram identificadas cerca de quarenta empresas "fantasmas" e de fachada, e mais de oitocentas contas bancárias suspeitas.
Os alvos eram, em sua grande maioria, evangélicos, que investiam suas economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias, com promessa de retorno financeiro imediato e grande rentabilidade.
O golpe fez mais de 50 mil vítimas, que eram de "diversas camadas sociais" e localizadas em quase todos os estados. Para enganar as pessoas, os suspeitos tinham pessoas jurídicas "fantasmas" e de fachada simulando ser instituições financeiras digitais, com alto capital social declarado, por meio das quais as vítimas supostamente iriam receber suas fortunas.
A organização é composta por cerca de duzentos integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas intitulados pastores, que induzem e mantêm em erro as vítimas, normalmente fiéis que frequentam suas igrejas, para acreditar no discurso de que são pessoas escolhidas por Deus para receber a "Bênção", ou seja, as quantias milionárias. Para dar aparência de veracidade e legalidade às operações financeiras, os investigados ainda celebram contratos com as vítimas, com promessas de liberação de quantias surreais provenientes de inexistentes títulos de investimento, que estariam registrados no Banco Central do Brasil e no Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
A investigação
Em dezembro do ano passado, a Polícia Civil prendeu, em Brasília, um suspeito de envolvimento no esquema, após ele ter feito uso de documento falso em uma agência bancária, simulando possuir um crédito de aproximadamente R$ 17 bilhões. Mesmo após a prisão em flagrante do suspeito, o principal digital influencer da organização criminosa, o grupo continuou aplicando golpes.
Foram cumpridas medidas cautelares de bloqueio de valores, bloqueio de redes sociais e decisão judicial de proibição de utilização de redes sociais e mídias digitais. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e outros quatro estados: Goiás, Mato Grosso, Paraná e São Paulo.
Os alvos poderão responder pelo cometimento dos delitos de estelionato, falsificação de documentos, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem tributária e organização criminosa.
A Polícia Civil não divulgou os nomes dos alvos da operação. O UOL entrou em contato com a corporação em busca dos nomes e suas respectivas defesas. O texto será atualizado em caso de retorno.