'Pula na água ou morre': como 'piratas do PCC' atacam motos aquáticas em SP
Uma quadrilha de criminosos chamados por investigadores da Polícia Civil de "piratas do PCC" vem cometendo uma série de roubos de motos aquáticas no litoral de São Paulo há pouco mais de um mês.
Como o grupo age
Do fim de setembro para cá, a Polícia Civil registrou ao menos seis ataques no litoral paulista —cinco deles contra turistas. O último caso ocorreu no dia 22 de outubro, no Guarujá. Somados, os roubos causaram um prejuízo estimado de cerca de R$ 2 milhões, segundo estimativa de investigadores.
Armados e encapuzados, os criminosos roubam motos aquáticas, celulares e cartões. Após anunciar o assalto, o grupo ordena que as vítimas abandonem o veículo e pulem no mar, onde ficam à deriva. Os crimes ocorreram em um raio de cerca de 10 quilômetros pelo canal de Bertioga.
Relacionadas
A Polícia Civil suspeita que as motos aquáticas estão sendo roubadas para que possam ser utilizadas em fugas pelo mar em outros crimes ligados ao PCC ou na locação clandestina desses veículos para turistas. Os investigadores estão atrás de câmeras de vigilância nos locais onde ocorreram os crimes para identificar os suspeitos de integrar a quadrilha.
Criamos uma força-tarefa com patrulhamentos ostensivos por mar e terra para evitar que ocorram novos crimes. Estamos tentando identificar os autores e investigando a ligação desse grupo com o PCC.
Delegado Fabiano Barbeiro, do Deic (Departamento de Investigações Criminais) de Santos
'Pula na água ou morre'
Eram 11h30 do dia 23 de setembro quando um homem tirou a foto do passeio em uma moto aquática com a esposa em Riviera de São Lourenço, no litoral de São Paulo. Quinze minutos depois do registro, ele foi rendido por dois homens encapuzados a bordo de outra moto aquática, quando já estava em alto-mar.
A vítima, um engenheiro civil de 56 anos, disse que dois criminosos em uma moto aquática passaram na sua frente em velocidade, obrigando-o a parar. Foi quando o homem que pilotava o veículo sacou uma arma e apontou para a sua cabeça, ordenando que ele e sua esposa pulassem no mar.
Em seguida, a vítima entregou a chave da moto aquática, que estava acoplada ao seu colete. Segundo ele, a ação contava com a cobertura de criminosos em outra moto aquática, que acompanhavam o roubo à distância.
Após a fuga dos criminosos, o casal ficou à deriva em alto-mar por cerca de 20 minutos, quando foi resgatado por uma embarcação. A vítima disse que conseguiu monitorar o deslocamento do seu celular, também levado na ação, até Rodovia Rio-Santos, pouco mais de três horas depois do crime.
Fui pego de surpresa, porque nunca imaginei que pudesse ser assaltado em alto-mar. Um dos criminosos apontou a arma na direção da minha cabeça e disse: 'Pula na água ou morre! Pula agora ou você vai tomar um tiro.' Se resolvesse me matar, ninguém ficaria sabendo. Estou traumatizado com o que aconteceu.
Engenheiro civil, 56 anos
Assalto em garagem náutica
A mesma quadrilha é suspeita de ter participado de uma ação mais ousada e planejada na madrugada de 5 de outubro. Na ocasião, ao menos 20 criminosos armados e encapuzados invadiram uma garagem náutica em Bertioga para roubar sete motos aquáticas e dez motores de popa, indicados para embarcações menores.
Os criminosos inutilizaram as câmeras de vigilância e renderam os vigilantes da marina. Em seguida, ordenaram que eles ajudassem a levar os motores até uma caminhonete. Posteriormente, os guardas foram amarrados e trancados em um banheiro.
O grupo arrastou as motos aquáticas até uma rampa para pilotá-las. Na fuga, quatro delas foram abandonadas após apresentarem problemas mecânicos e acabaram sendo recuperadas pela Polícia Civil. Dois dias após o crime, uma denúncia anônima levou os investigadores a uma casa abandonada perto da marina, onde foram encontrados oito dos dez motores de popa roubados.
Os criminosos conheciam o funcionamento da marina e sabiam exatamente o que queriam roubar. Eles arrancaram as câmeras de vigilância que estavam ao alcance e evitaram passar nos locais onde havia monitoramento pelo alto.
Administrador da marina, que optou pelo anonimato
Apreensão de motos aquáticas irregulares
A Polícia Civil fez mais de dez operações nas últimas semanas, apreendendo oito motos aquáticas irregulares. Mas ainda não há suspeita de relação entre os casos e os ataques dos "piratas do PCC".
Em uma dessas ações, passaram por um muro onde se lia "1533", em referência à facção criminosa paulista. A área era de domínio do crime organizado, apontam os investigadores.
Quatro das motos aquáticas foram encontradas sem a documentação em um lava a jato no Guarujá. Os investigadores também verificaram veículos com indícios de fraude por apresentarem a numeração adulterada, a documentação falsificada, casco adulterado ou em nome de terceiros.
Os proprietários podem ser indiciados por lavagem de dinheiro ou receptação.