Extração de sal-gema por 40 anos: o que são as minas da Braskem em Maceió?
Colaboração para o UOL*
01/12/2023 11h36Atualizada em 01/12/2023 18h36
Uma mina de sal-gema da Braskem pode colapsar a qualquer momento ainda hoje no bairro do Mutange, em Maceió. Ontem (29), o prefeito anunciou o decreto de situação de emergência no município.
O que são as minas da Braskem?
A Braskem é uma empresa de atuação global com unidades no Brasil, Estados Unidos, Alemanha e México. É controlada pela Novonor (ex-Odebrecht) e tem ainda a Petrobras com parte das ações. A companhia mantém atividades de mineração sob a superfície de Maceió desde a década de 1970 —antes de se chamar Braskem, a indústria responsável pelas atividades era a Salgema Indústrias Químicas S/A.
A extração feita no subsolo de Maceió é de sal-gema, cloreto de sódio acompanhado de outras substâncias e utilizado para produzir soda cáustica e policloreto de vinila.
O sistema usado pela empresa para explorar as minas era feito da seguinte maneira: um poço era cavado, então a água era injetada para a camada de sal, gerando assim uma salmoura. A solução era retirada das minas para a superfície. Por fim, os poços cavados eram preenchidos para dar estabilidade ao solo.
Porém, parte dessas minas teve vazamento do líquido ao longo desses mais de 40 anos de exploração —o que causou instabilidade no solo, gerando buracos. Ao todo são 35 minas na área urbana da cidade —elas estão sendo preenchidas novamente.
Em março de 2018, um tremor de terra foi sentido na cidade. O evento causou o afundamento do solo em cinco bairros: Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e em uma parte do Farol. Cerca de 60 mil moradores deixaram a área na época. A Braskem, responsável pelo problema, passou a indenizar os moradores. No total, mais de 200 mil pessoas foram afetadas pelo desastre. Os tremores sentidos seriam justamente a acomodação do solo diante dessa instabilidade causada pelos vazamentos.
A Braskem encerrou a extração de sal-gema em maio de 2019 na região. As 35 minas da companhia começaram a ser fechadas em 2019, depois que a empresa foi responsabilizada pelo surgimento das rachaduras em casas e ruas de alguns bairros de Maceió no ano anterior.
A crise se aprofundou recentemente com uma nova previsão de colapso. O colunista do UOL Carlos Madeiro apurou que a Defesa Civil de Maceió trabalha com a hipótese repassada pela Braskem de que a mina que está na iminência do colapso vai desabar e causar tremor e cratera hoje. As consequências ainda são incertas, mas toda área do Mutange e entorno está desocupada.
Maceió declara emergência
Ontem (29), o prefeito de Maceió anunciou o decreto de situação de emergência no município. A Defesa Civil de Maceió enviou mensagem por SMS e por WhatsApp aos moradores da capital alagoana informando que uma das minas de sal-gema explorada pela Braskem está em "risco iminente de colapso" e pedindo que as pessoas evitem as proximidades da área. Caso o colapso ocorra, uma cratera gigante se abrirá na superfície em uma área desabitada do bairro do Mutange.
Os últimos sismos ocorridos se intensificaram e houve um agravamento do quadro na região já desocupada, próximo ao antigo campo do CSA. Estudos mostram que há risco iminente de colapso em uma das minas monitoradas. Por precaução e cuidado com as pessoas, reforçamos, mais uma vez, a recomendação de que embarcações e a população evitem transitar na região até nova atualização do órgão.
Nota da Defesa Civil de Maceió
O prefeito também anunciou a criação de um gabinete de crise para acompanhar a situação. A Braskem informou que "acompanha de forma ininterrupta os dados de monitoramento, que são compartilhados em tempo real com a Defesa Civil Municipal."
*Com Reuters e Estadão Conteúdo