Órgãos perfurados e 42 mortes: o que se sabe sobre cirurgião preso em SP
Colaboração para o UOL*
16/12/2023 04h00
O médico-cirurgião João Batista do Couto Neto, de 46 anos, foi preso na quinta-feira (14) em Caçapava, no interior de São Paulo. Ele é investigado por 140 erros médicos, incluindo a morte de 42 pacientes no Rio Grande do Sul. Veja o que se sabe sobre o caso:
O que apontam as investigações
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul começou a investigar o caso após denúncias de pacientes. Em janeiro, o delegado Rafael Sauthier, que estava à frente do caso, disse à Folha de S.Paulo que 76 ocorrências haviam sido registradas. O titular da investigação é o delegado Tarcísio Kaltbac.
Os relatos apontam casos de infecção generalizada, trombose, embolia pulmonar e até demência após a realização de procedimentos pelo cirurgião. O médico atuava em Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre.
Segundo a polícia, Couto Neto realizava a cirurgia em um órgão e acabava perfurando outro. Testemunhas disseram que pacientes que tinham complicações após os procedimentos eram tratados com descaso.
O médico chegava a fazer até 25 cirurgias em um único turno. Segundo a polícia, um dos objetivos do profissional seria aumentar os ganhos financeiros, o que impedia que ele desse o tratamento adequado dos pacientes.
As investigações apontaram que Couto Neto fazia cirurgias de hérnia, vesícula e refluxo. Muitos procedimentos, porém, teriam sido realizados sem a autorização dos pacientes.
Em um dos casos, por exemplo, o médico teria cobrado pela retirada do útero de uma paciente com endometriose, mas não fez o procedimento.
Os três primeiros indiciamentos do médico dizem respeito às mortes de dois homens e de uma mulher.
O que o médico fazia em São Paulo
A prisão preventiva do médico foi decretada após ele ter sido acusado pela Polícia Civil de homicídio doloso, ou seja, em que há intenção de matar. O médico estava trabalhando no Hospital Municipal de Caçapava.
Mesmo respondendo a inquéritos, Couto Neto conseguiu se registrar no Conselho Regional de Medicina de São Paulo em fevereiro de 2023. O órgão afirmou que o pedido de registro não podia ser negado na ocasião, já que o profissional não estava totalmente impedido de exercer a Medicina.
Em São Paulo, o médico foi contratado como autônomo ou terceirizado para trabalhar em órgãos públicos e filantrópicos. Além do Hospital de Caçapava, ele atuou na AMA Sacomã e nos hospitais Mandaqui, Ipiranga, Pio 12 e São Francisco de Assis.
Em dezembro do ano passado, Couto Neto foi proibido pela Justiça de realizar cirurgias por seis meses. Depois, o prazo foi prorrogado por mais quatro meses. Ele continuava atuando em outros procedimentos não cirúrgicos, como intubações e colocação de dreno de tórax.
Nas redes sociais, Couto Neto chegou a comemorar, no ano passado, a marca de mais de 25 mil cirurgias realizadas. "Tenho plena consciência e certeza de praticar a Medicina para a melhor saúde dos pacientes", dizia o post.
O médico é formado pela Universidade Católica de Pelotas. Ele também tem formação em Cirurgia Geral pelo Hospital Nossa Senhora da Conceição, de Porto Alegre.
O que diz a defesa do médico
Os advogados de Couto Neto afirmaram que a prisão é descabida. Eles devem entrar com um pedido de habeas corpus para que o médico responda ao processo em liberdade.
Qualquer jurista vê que essa prisão não tem qualquer fundamento. Prisão preventiva é quando há risco de fuga ou ameaça a testemunhas, o que não existe. Ele sequer foi impedido de exercer a medicina. Essa medida decretada tem claro caráter intimidatório contra o médico. Vamos entrar com habeas corpus o mais breve possível.
Brunno de Lia Pires, advogado do médico
O Hospital Regina, em que Couto Neto atuava no Rio Grande do Sul, disse que acolheu prontamente as reclamações dos pacientes. Segundo o hospital, uma delas foi encaminhada à Comissão de Ética do corpo clínico.
*Com informações do Estadão Conteúdo.