Topo

Médico investigado por 42 mortes é solto em SP após habeas corpus

Couto Neto foi preso há 5 dias, enquanto trabalhava em um hospital em Caçapava (SP) Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

19/12/2023 15h23Atualizada em 19/12/2023 19h36

O médico-cirurgião João Couto Neto, investigado por 140 erros médicos, incluindo a morte de 42 pacientes no Rio Grande do Sul, foi solto na tarde de hoje em São Paulo.

O que aconteceu

O médico foi solto por volta das 14h10. Ontem, o Tribunal de Justiça aprovou liminarmente o habeas corpus, mas a soltura só aconteceu na tarde de hoje. "São muitos procedimentos burocráticos, como emissão do alvará de soltura e a comunicação ao estabelecimento prisional", disse ao UOL o advogado Brunno de Lia Pires.

Relacionadas

Couto Neto ficou preso por cinco dias e agora voltará para o Rio Grande do Sul. Ele foi detido na quinta-feira (14) em Caçapava, cidade do interior paulista, e foi levado para a Cadeia Pública de Caçapava. Agora decidiu voltar para Novo Hamburgo, onde mora sua esposa.

O julgamento do mérito do HC ainda vai acontecer. Como a decisão de ontem é provisória (liminar), o HC será julgado pelo colegiado do Tribunal de Justiça em 2024. "Para não ficar preso até lá, o relator concede liminar para soltar antes", explicou o advogado.

O médico foi preso enquanto atendia pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde). Ele atuava em um hospital municipal de Caçapava, a 116 km da capital.

João Couto Neto circula pelo Hospital Ipiranga, onde atende na UTI Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

Como foi a prisão

O médico foi preso preventivamente após pedido do delegado Tarcisio Lobato Kaltbach no dia 12. A solicitação recebeu parecer favorável do Ministério Público, e a prisão foi autorizada pela Justiça em Novo Hamburgo.

A prisão se refere a um caso envolvendo uma das supostas vítimas do médico. "[Foi] homicídio doloso [com intenção] qualificado pelo motivo torpe, meio cruel, recurso que dificultou a defesa da vítima, agravado por violação de dever inerente à profissão e praticado contra vítima maior de 60 anos", disse o delegado. "A pena é de reclusão de 12 a 30 anos."

Em dezembro do ano passado, Couto Neto foi proibido pela Justiça de praticar cirurgias por seis meses. No meio do ano, o prazo foi prorrogado por mais quatro meses.

Em outubro deste ano, ele foi autorizado a realizar cirurgias, mas não operou ninguém, segundo a defesa. "Ele não é bandido, tem endereço atualizado e fixo. A prisão era desnecessária", declarou Pires na ocasião da prisão.

Médico foi trabalhar em São Paulo

O médico atendia em hospitais no interior e capital. Couto Neto se mudou para São Paulo no começo do ano, quando conseguiu empregos para atender pacientes do SUS.

Conhecido em Novo Hamburgo como João Couto Neto, ele passou a se identificar em São Paulo como João Batista. Seu nome completo é João Batista do Couto Neto. No estado de São Paulo, ele foi contratado indiretamente como autônomo ou terceirizado para trabalhar em órgãos públicos e filantrópicos.

Montagem - João Couto Neto na UTI do Hospital Ipiranga Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

Além do emprego no Hospital de Caçapava, o médico atuou nas seguintes unidades de saúde:

  • AMA Sacomã, na capital paulista. Médico substituto, atendeu em março no ambulatório municipal na zona sul de São Paulo. A Secretaria Municipal da Saúde afirma "que o cirurgião atuou somente em um plantão noturno" e que, ao identificar restrição no CRM do médico, "o mesmo não realizou mais atendimentos".
  • Hospital Mandaqui. Estadual, a unidade é especializada em tuberculose e fica na zona norte. A Secretaria de Saúde afirma que "o profissional atuou em apenas três plantões".
  • Hospital Ipiranga. Couto Neto é responsável pela UTI adulto do hospital estadual, também na zona sul da cidade.
  • Hospital Pio 12. O hospital filantrópico é referência em oncologia em São José dos Campos, onde atende 80% de pacientes do SUS. Em nota, o hospital afirma que o "médico realizou apenas um plantão no Pronto Atendimento na especialidade clínica médica" e que não foi autorizado seu cadastro no hospital.
  • Hospital São Francisco de Assis. Também filantrópico, a unidade referência em cardiologia em Jacareí recebe 68% de pacientes do SUS. O hospital afirma que Couto Neto "não faz parte do quadro de plantonistas desde 13 de maio" e que ele "deu somente três plantões no hospital na área clínica".

Flagrado no Hospital Ipiranga

Couto Neto dá expediente no Hospital Ipiranga, zona sul de São Paulo Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

Couto Neto trabalhava no Hospital Ipiranga desde março. Plantonista, era responsável por dez leitos da UTI do 4º andar, cuja administração foi entregue à organização social Beneficência Hospitalar Cesário Lange.

Em junho, quando o UOL visitou a unidade, ele esteve escalado para trabalhar todos os dias, com folga aos domingos. Às segundas, dobrava o plantão, permanecendo 24 horas no trabalho, quando entregava o posto às 7h de terça-feira. Na época, ele estava proibido de operar.

Couto Neto era proibido de entrar no centro cirúrgico. Sua circulação teria sido restrita à UTI, onde recebia pacientes em estado grave que passaram pelo centro cirúrgico. Dentre suas atividades, fazia dreno de tórax e cuidava de intubação.

João Couto Neto é flagrado pelo UOL trabalhando na UTI Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

Como vestia roupa cirúrgica, de cor azul, ele não exibia seu nome no uniforme. Isso o que o ajudava a passar despercebido. Entre os colegas e na escala de plantão, no entanto, era chamado de João Batista, assim como nas outras unidades de saúde.

25 cirurgias em um dia

Couto Neto é investigado por realizar até 25 cirurgias em um único plantão. Atuou quase sempre no Hospital Regina, onde alugava o centro cirúrgico em troca de uma porcentagem dos procedimentos que realizava.

A vida do médico começou a mudar em novembro do ano passado. Foi quando um grupo de 15 pessoas procurou a polícia para denunciar supostos erros médicos, com relatos que chegam a 2010. Hoje, a polícia investiga 156 casos — como dilaceração de órgãos, perfurações no intestino e cortes desnecessários —, incluindo 42 mortes.

Eram intervenções cirúrgicas totalmente desastrosas, que beiravam a crueldade e desumanidade.
Delegado Tarcisio Lobato Kaltbach

Procurado, o Hospital Regina informou que "as reclamações [feitas na Ouvidoria] foram prontamente acolhidas e uma delas, inclusive, foi encaminhada à Comissão de Ética do corpo clínico".

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Médico investigado por 42 mortes é solto em SP após habeas corpus - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Cotidiano