Homem que agrediu mulher por pensar que era trans nega violência doméstica
Os advogados do homem que agrediu uma mulher porque pensou que ela era transsexual negaram que seu cliente tenha cometido violência doméstica e que seja homofóbico.
O que aconteceu
Os advogados Madson Aquino e Marília Franco publicaram nota em suas redes sociais. Eles são os defensores de Antônio Fellipe Rodrigues Salmento de Sá, que na antevéspera de Natal deu um soco no rosto de uma mulher que saía do banheiro feminino do restaurante Guaiamum Gigante.
Considerado desaparecido, Salmento de Sá se apresentará hoje à polícia. Segundos os advogados, ele "em momento algum furtou-se ou fugiu". A defesa afirma que só teria recebido a intimação policial no dia 25 para comparecimento no dia 27. Ainda assim, ele só deve prestar depoimento hoje.
Relacionadas
Os advogados também negaram histórico de violência contra mulher. Ontem, a polícia confirmou que Salmento de Sá foi reconhecido por uma ex-companheira, que o acusou de violência doméstica. Outras duas ex-parceiras também teriam relatado o mesmo. Uma delas chegou a dizer que o homem atirou contra ela.
O Sr. Antônio Felipe não responde a nenhum processo envolvendo violência sob o contexto doméstico e familiar, bem como não detém qualquer histórico de agressões ou discriminação com qualquer pessoa LGBTQIAPN+.
Madson Aquino e Marília Franco, advogados
Os advogados preferiram não comentar a agressão no restaurante. "A defesa se resguardará a prestar esclarecimentos específicos oportunamente após ter acesso aos autos de investigação", disse. "Todos os fatos serão esclarecidos perante a Autoridade Policial."
Como foi a agressão
No dia 23, a mulher do agressor disse ao marido que uma "mulher trans" usava o banheiro do restaurante Guaiamum Gigante. O homem levantou da mesa com a esposa e um primo e ficou esperando na porta do banheiro até a mulher sair.
Ele perguntou à vítima se ela era homem ou mulher. Quando a vítima questionou o motivo da pergunta, o homem respondeu que ela estava no "banheiro errado" e desferiu um soco no rosto da mulher, contou o publicitário e amigo dela, Hilário Júnior. O soco foi tão forte que quebrou os óculos da vítima.
Vídeos registraram a confusão. As imagens mostram o suspeito sendo contido por clientes e funcionários do restaurante após a vítima gritar.
Ao descobrirem que ela não era uma mulher trans, o restaurante tentou apaziguar. Segundo o amigo, "não queriam que o movimento fosse prejudicado na antevéspera do Natal", disse.
Salmento de Sá fugiu depois de retirado do estabelecimento. Ele foi retirado pelos próprios seguranças do restaurante, segundo a advogada e o amigo da vítima.
O restaurante nega. Em nota, o estabelecimento alega que "cuidou em promover a imediata retirada do agressor do ambiente, de modo a resguardar a integridade física e psicológica da pessoa agredida e demais clientes".
Preconceito contra LGBTQIA+ é crime
Em 2019, o STF decidiu que homofobia e transfobia devem ser punidas pela Lei de Racismo. A pena varia de um a três anos além de multa, podendo chegar a cinco anos se houver divulgação em meios de comunicação.
Para denunciar casos de homofobia no Brasil, disque 100. Ao presenciar agressão contra mulheres, ligue 190.
Também é possível denunciar pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher. O Disque 100 apura violações aos direitos humanos.
Casos de violência doméstica costumam ser praticados por parceiros ou ex-companheiros. A Lei Maria da Penha, porém, pode ser aplicada a agressões cometidas por outros familiares.
O Brasil foi país que mais matou transsexuais em 2022. Foram 131 mortes em um ano, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).