MP recebe denúncia de suposto diálogo entre Zinho e subsecretário em prisão
Do UOL, em São Paulo
29/12/2023 04h00Atualizada em 29/12/2023 13h40
O Ministério Público do Rio de Janeiro recebeu denúncia sobre uma suposta conversa suspeita entre o subsecretário estadual de Administração Penitenciária, Igor Bicaco, e Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho. O UOL teve acesso ao documento com exclusividade. A Seap (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária) nega que a conversa tenha existido.
O que aconteceu
Zinho ordenou a presença do subsecretário assim que chegou ao presídio, segundo a denúncia feita ao MInistéro Público. Ele, então, teria sido advertido pelos plantonistas de que não poderia escolher os agentes responsáveis pelo seu ingresso no sistema prisional.
Um funcionário do sistema prisional fez a denúncia de forma anônima. O episódio ocorreu na noite de 24 de dezembro, após Zinho se entregar na sede da PF e ser encaminhado para o Complexo de Gericinó, em Bangu, zona oeste do Rio.
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Mesmo sem ser chamado pelos policiais penais, o subsecretário se encontrou com Zinho no presídio, de acordo com o relato encaminhado ao MP. O denunciante disse à Promotoria ter presenciado parte da conversa entre os dois.
Zinho teria se queixado aos gritos com Bicaco por ter sido obrigado a raspar a cabeça. O UOL teve acesso à foto dele com os cabelos cortados. A medida é praxe na chegada à prisão — os presos costumam passar por isso.
O agente penal disse na denúncia ter tirado um print da imagem das câmeras de segurança que registraram o episódio e encaminhado ao MP. Segundo ele, Bicaco ordenou que alguns plantonistas saíssem do local e só permanecessem ali os "seus fiéis" — o que a Seap nega (leia mais abaixo).
Fontes ligadas à investigação dizem ter solicitado à Seap as gravações das câmeras de segurança da noite em que Zinho ingressou no sistema prisional. O objetivo é apurar se houve possíveis irregularidades e investigar se há associação entre o subsecretário e a milícia. Na denúncia, o agente público que diz ter testemunhado parte da conversa com o subsecretário afirmou acreditar que Zinho terá "a fuga facilitada".
Ao avistar Bicaco, o preso [Zinho] exigiu-lhe rispidamente explicações sobre o cabelo raspado e exigiu que [cita o nome de um policial penal], que é quem verdadeiramente manda nas cadeias do Rio (...) e pilota as 'correrias', fosse acionado para explicar a humilhação.
Trecho de denúncia obtida pelo UOL
O que diz a Seap
A Seap nega que o subsecretário tenha conversado com Zinho. Em nota, a pasta afirma que a orientação foi para que nenhum subsecretário tivesse comunicação com o homem apontado como principal líder miliciano do Rio — já que ele é considerado um criminoso de alta periculosidade.
Secretaria diz que Zinho é monitorado 24 horas por dia. Desde a prisão, relata, não foi identificado nenhum tipo de movimentação suspeita. A Seap também nega ter recebido qualquer pedido por imagens das câmeras de segurança do momento em que Zinho se apresentou no presídio.
Nenhum membro da gestão em tempo algum esteve em contato com o custodiado, tendo havido, inclusive, determinação expressa da secretaria no dia de sua prisão para que nenhum subsecretário tivesse qualquer tipo de conversa com o preso.
Nota da Secretaria de Administração Penitenciária
Ministério da Justiça cogita transferência
O Ministério da Justiça cogita possível transferência de Zinho para um presídio federal. Ricardo Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça, disse ao UOL que ele será levado para uma unidade de segurança máxima do governo federal, caso haja solicitação do governo estadual do Rio de Janeiro. Essas unidades são destinadas a líderes de organizações criminosas e criminosos de alta periculosidade.
Zinho estava foragido desde 2018. Ele tem ao menos 12 mandados de prisão expedidos pela Justiça por crimes como homicídio, organização criminosa e lavagem de dinheiro.