Helicóptero desaparecido em SP: o diálogo entre piloto e dono de heliponto
O piloto do helicóptero que desapareceu em São Paulo no último domingo (31) relatou dificuldades devido às condições climáticas, em conversa com o dono e coordenador do heliponto em Ilhabela. As buscas continuam —o piloto e três passageiros estão desaparecidos.
O que aconteceu
O piloto, identificado como Cassiano, narrou a Jorge Maroum as condições climáticas ruins durante o voo. O UOL teve acesso às conversas entre a aeronave e o heliponto em que estava previsto o pouso.
Veja os diálogos em diferentes momentos do voo:
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- Oi, Jorge.
- Oi.
- Tá tudo colado aqui. Não vai dar certo não, Jorge ["colado", no jargão técnico, significa visibilidade ruim].
- Mas vem por cima. Tem um buraco aqui ["buraco" seria um espaço limpo no céu].
- É, mas aqui onde eu estou não tem condição de subir.
- Por quê?
- Porque não dá para subir. Está tudo colado. Estou com o 44 [helicóptero modelo Robinson R44].
- Mas não dá para ir por cima da camada?
- Se tivesse. Está tudo colado, não consigo ir para cima da camada.
- Aqui está um tempo bom, meu.
- É?
- Eu digo por cima. Não por baixo. Por cima.
- Eu sei. Por cima não consigo subir.
- Mas acha um buraco. Você sobe e vem para cá, tem um buraco.
- Tá bom. Se eu achar, eu vou.
- Tem gasolina aí, né?
- Gasolina não. O táxi tá esperando.
- Tá bom.
- Tá bom. Falou.
Em outro áudio, o heliponto tenta se comunicar com o helicóptero.
- Tem um buraco aqui ó. Cassiano? Cassiano? Cassiano? Alô.
Em outra ligação, o piloto fala que tentaria seguir as orientações.
- Vou tentar ir por cima.
- Tá. Você viu a imagem que eu te mandei?
Nesse momento a ligação é cortada. Jorge Maroum narrou que o primeiro contato com o piloto aconteceu às 11h09. Às 14h42, devido ao atraso do voo, tentou outra vez ligar para o helicóptero.
O dono do heliponto diz ter enviado ao piloto uma foto da condição climática no local do pouso às 14h42.
Às 15h13, Maroum relata ter tentado contato mais uma vez com o piloto, mas sem sucesso.
Fiquei chamando no VHF na frequência do corredor litoral 122.925 por aproximadamente uma hora e sem resposta.
Dono do heliponto em Ilhabela
O dono do heliponto afirmou que passou todos os detalhes e conversas para as autoridades. Além das coordenadas do último contato, ele ainda narrou que o local em que os pilotos costumam cruzar é chamado de fazendinha (Fazenda Serramar).
A FAB (Força Aérea Brasileira) reforçou hoje, em nota, que Maroum não é controlador de tráfego aéreo. "O tom informal e as informações repassadas não condizem com a prática diária dos profissionais habilitados para tal função."
O desaparecimento
O helicóptero modelo Robinson R44 desapareceu na véspera do Réveillon. A aeronave saiu do aeroporto Campo de Marte, na capital paulista, rumo a Ilhabela.
A suspeita inicial é de que o sumiço tenha ocorrido na região da Serra do Mar. De acordo com a PM, o helicóptero decolou às 13h15 e fez o último contato às 15h10.
Os passageiros no helicóptero são: Letícia Rodzewics, a mãe dela, Luciana Rodzewics, e Raphael Torres. Segundo Silvia Rodzewics, irmã de Luciana, Raphael é amigo da mulher e a convidou para o passeio bate e volta, para o qual ela levou a filha.
Letícia disse ao namorado que a aeronave fez um pouso de emergência numa mata antes de perderem contato. A informação foi confirmada pela tia da passageira, Silvia Santos.
Luciana gravou um vídeo mostrando a decolagem e início do voo, ainda em São Paulo. As imagens foram postadas nas redes sociais.