'Era seu 1º flagrante criminal, estava feliz', diz sócia de advogada morta
Maurício Businari
Colaboração para o UOL
01/02/2024 04h00
Ela [Brenda Oliveira, advogada] estava atuando no primeiro flagrante criminal da carreira e mandou mensagem da delegacia, dizendo estar muito nervosa, mas feliz. Não me contou detalhes sobre o cliente. Pediu apenas para que eu elaborasse uma procuração em nome dele.
Eu estava em Natal e sabia que ela [Brenda] ia acompanhar o depoimento de um cliente na delegacia. Meu coração estava apertado. Depois, ela tinha de comparecer a uma audiência on-line e não se conectou na hora, não compareceu. Senti que havia algo errado, enviei mensagem, mas ela não leu e também não respondeu. Já estava morta.
Ilanna Arquilino, advogada, sócia de Brenda
Este é o relato da advogada Ilanna Arquilino, sócia de Brenda Oliveira, 26, morta na terça (30), enquanto saía com um cliente de uma delegacia na cidade de Santo Antônio (RN).
Área criminal não era meta
Amiga desde os tempos de faculdade, a advogada Ilanna contou que conheceu Brenda em 2017. As duas começavam a frequentar o curso de direito do Uniceuna (Centro Universitário Natalense).
Graças ao jeito carinhoso, responsável e prestativo de Brenda, não demorou muito para as duas se tornarem melhores amigas. "Ela era maravilhosa, sempre disposta a ajudar as pessoas", afirmou.
Brenda decidiu seguir a área trabalhista do direito. No ano passado, abriu um escritório de advocacia e chamou a amiga, focada nas áreas previdenciária e de família, para ser sua sócia.
Nenhuma das duas tinha como meta enveredar pelo direito criminal. Pelo contrário, Ilanna dizia que jamais atuaria nessa área e aconselhava a amiga a pensar duas vezes sobre os riscos antes de buscar clientes.
A gente sabe que essa é uma área complicada. Mas que possibilita um retorno financeiro importante. E a Brenda acreditava que isso poderia alavancar o trabalho do escritório. Mas eu nunca gostei da ideia.
O crime
O cliente que Brenda defendia era Janielson Nunes de Lima, de 25 anos, também conhecido como "Gordo da Batata". Ele estava no carro da advogada, com três familiares, no momento do crime. Brenda dirigia o veículo, Janielson seguia no banco do passageiro e os parentes estavam no banco de trás, segundo Ilanna. Eles saíam da delegacia da cidade, onde ele havia prestado depoimento e sido liberado por falta de provas.
Minutos após a saída da delegacia, o automóvel dirigido pela advogada foi seguido por quatro pessoas em duas motos. Os atiradores abriram fogo contra Janielson, mas também balearam Brenda Oliveira. Os autores dos disparos fugiram e não foram identificados.
A advogada não era alvo dos criminosos, mas teria sido morta por estar no mesmo carro que Janielson, segundo a Polícia Civil. Os agentes acreditam que o crime teria sido motivado por vingança pela morte do vaqueiro João Victor Bento da Costa, 19, pela qual o cliente de Brenda foi apontado como suspeito.
Somente após a audiência à qual ela não compareceu fiquei sabendo, por uma ex-estagiária nossa, que a Brenda havia morrido. No começo, falou-se em acidente, mas depois ficou esclarecido que ela foi assassinada. Eu queria que fosse um pesadelo, fiquei desolada. Não sei como será sem a presença dela. A gente se falava o tempo todo, o dia inteiro.
Ilanna Arquilino, advogada
A advogada afirma que a família de Brenda está sofrendo demais com sua morte. Ela viajou de Natal para Santo Antônio, para se encontrar com os pais da amiga. Segundo conta, a mãe de Brenda está "sem chão" e teve de ser medicada para suportar a dor da perda.
Ilanna diz que lutará para que a morte da melhor amiga seja esclarecida e a justiça seja feita. Ela entrou em contato com uma advogada criminalista especializada, que acompanhará o inquérito e dará apoio à família. "Faremos justiça. Justiça por Brenda."
A área criminal do direito no Brasil é muito arriscada. Além do risco de vida que o advogado corre, tem também o preconceito da sociedade, que acha que se defende bandidos quando, na verdade, o que se defende é o direito. A Brenda chegou a postar um story no Instagram, enquanto ainda estava na delegacia, para chamar a atenção para esse julgamento injusto e prévio.
Ilanna Arquilino, advogada