'Curti festa, trabalhei': ele levou tiro na cabeça e soube só 4 dias depois
Simone Machado
Colaboração para o UOL, em São José do Rio Preto (SP)
16/02/2024 04h00Atualizada em 16/02/2024 14h09
O estudante de medicina Mateus Facio Rezende, de 21 anos, morador de Juiz de Fora (MG), ficou quatro dias com uma bala alojada na cabeça sem saber que havia sido atingido por um tiro.
Ele passava o réveillon em Cabo Frio (RJ) e acreditava que tinha sido atingido por uma pedrada enquanto estava na praia. Mateus contou essa história ao UOL.
Pedrada na cabeça
Era véspera de réveillon e eu passava o final do ano em Cabo Frio com um grupo de amigos. Passamos o dia na praia e ficamos para ver o pôr do sol.
Havia pouca gente na faixa de areia, a maioria das pessoas já tinha deixado a praia para se arrumar para as festas da noite.
Era por volta das 18h30, também estávamos quase deixando o local quando ouvi uma explosão muito forte. Olhei para o meu amigo e perguntei se ele havia ouvido aquele barulho e ele me perguntou 'qual barulho?'.
Fiquei sem entender, mas segundos depois senti uma dor de cabeça muito intensa. Sentei na areia e quando coloquei as mãos na cabeça vi que estava sangrando.
Levantei, olhei para os lados para ver se alguém poderia ter jogado algum objeto em mim e não vi nada. Eu e meus amigos olhamos no chão e também não encontramos nenhum objeto que pudesse ter me atingido.
Tinha um ferimento bem pequeno no meu couro cabeludo, como se fosse um pequeno corte feito por faca, e, como não encontramos nada, pensei que poderia ter sido atingido por uma pedra e ela se misturado na areia.
Logo o sangramento parou. Fomos para a casa onde estávamos hospedados para nos arrumar para a festa que iríamos à noite em Búzios.
Curti a festa com meus amigos sem sentir absolutamente nada na cabeça. E assim foi o dia seguinte também.
No dia 3, voltamos para Juiz de Fora. Dirigi por quase 7 horas porque pegamos muito congestionamento, o que atrasou nosso retorno.
Vida normal
No dia seguinte acordei cedo e fui trabalhar, na época eu trabalhava no setor administrativo de uma empresa. Viajei para uma cidade próxima a trabalho e, quando cheguei em casa, no fim do dia, estava muito cansado e resolvi tirar um cochilo.
Quando acordei, no início da noite, senti que meu braço estava meio 'bobo', não respondia muito aos meus comandos. Achei aquela situação estranha e fui até o quarto da minha mãe contar para ela.
Chegando no quarto, meu braço começou a tremer sozinho. Vendo a situação, minha mãe se desesperou e corremos para o hospital. Alguma coisa estava acontecendo com o meu corpo, e eu imaginei que poderia ser consequência da pedrada que eu pensava que havia levado.
No hospital logo pediram uma tomografia da região da cabeça. Quando o médico voltou com o resultado veio o baque: ele falou que eu tinha levado um tiro, a bala estava alojada e já estava começando a pressionar meu cérebro.
Na hora eu não consegui pensar em nada. Olhei para cima e fiquei em estado de choque. Minha mãe se desesperou ainda mais.
No mesmo instante, os médicos me encaminharam para o CTI (Centro de Terapia Intensiva) e marcaram a cirurgia para a retirada da bala para o dia seguinte.
Foram pouco mais de duas horas de cirurgia e uma bala de pistola 9 milímetros foi retirada. Devido à gravidade da situação, foi preciso raspar parte do meu cabelo e fazer um corte grande no couro cabeludo.
Fiquei em observação no CTI por mais dois dias e depois fui transferido para o quarto onde fiquei mais um dia em observação até ter alta médica e poder voltar para casa.
A primeira semana de recuperação foi complicada, precisei fazer muito repouso, mas pós esse período comecei a caminhar e a voltar à vida e à rotina.
Não fiquei com nenhuma sequela do tiro e ainda é difícil de acreditar em tudo o que aconteceu no último mês.
Investigação
Ainda no hospital, Mateus registrou um boletim de ocorrência online sobre a bala perdida.
No dia do ocorrido não houve nenhum registro de disparo de arma de fogo em Cabo Frio. Segundo a Polícia Civil, nenhum autor foi identificado até o momento.