Jovem invade casa de vizinho, mata cachorro e fere outros 2 com faca em SC
Do UOL, em São Paulo
20/03/2024 18h13
A Justiça de Santa Catarina mandou soltar um homem de 18 anos que havia sido preso por confessar ter esfaqueado três cachorros de um vizinho, na segunda-feira (18), em Florianópolis, por se irritar com os latidos. Um dos animais não resistiu aos ferimentos e morreu.
O que aconteceu
Daniel Hazan Rodrigues pulou o muro e usou uma faca de cozinha para golpear os animais. O tutor dos três cachorros não estava em casa no momento do crime, por volta das 17h, de acordo com o boletim de ocorrência.
O agressor confessou que estava irritado há meses com o latido dos cachorros. O próprio Daniel procurou a Polícia Militar após esfaquear os animais para relatar o crime. Ele foi preso em flagrante pelo crime de maus-tratos.
Um dia depois, durante audiência de custódia, a Justiça de Santa Catarina mandou soltá-lo. Em nota, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina informou que na terça-feira (19) foi deferido o pedido de concessão de liberdade provisória, formulado tanto pelo Ministério Público quanto pela defesa, mediante o cumprimento de medidas cautelares.
A Justiça proibiu o homem de entrar em contato com o tutor dos cães. Na decisão, o TJSC determinou que ele fique a uma distância de, no mínimo, 20 metros, dos animais agredidos. Além disso, ele deve informar e manter atualizado seu endereço e comparecer em juízo para informar e justificar suas atividades.
Daniel é estudante e foi expulso de um colégio particular de Florianópolis. Ao UOL, a escola confirmou que ele não faz mais parte da instituição de ensino.
Um cachorro morreu e outro está internado
O tutor dos animais, João Mário Dumoncel Hoff, disse que foi informado pela Polícia Militar do crime. Ele estava na academia.
Ao chegar em casa, encontrou os animais golpeados no chão. Havia sangue espalhado por toda a casa. "Quando abri a porta, eu vi um rio de sangue, comecei a chorar e gritar, percebi que os meus cachorros ainda estavam vivos, vieram se arrastando até a porta. Eu peguei os três e os levei ao veterinário", contou ao UOL.
Malo, o cão mais velho e pai dos outros dois feridos, não resistiu. O tutor contou que ele foi esfaqueado três vezes, no tórax, pescoço e coxa. O filhote Guapo levou dois golpes de faca. O cão perdeu o baço e está internado sem previsão de alta. A fêmea Gaya também ficou ferida, mas já recebeu alta. O crime ocorreu no bairro de Santa Mônica.
João Mário relatou que está "indignado" após o agressor ser solto pela Justiça. "Estou indignado com a frieza do rito da lei, soltaram um invasor. Não sei se ele invadiu a minha casa para matar os cachorros ou me matar. Ele invadiu a minha casa com uma arma. Foi um crime assustador, destruiu os meus cachorros e foi solto em menos de 24 horas", lamentou.
Ele explicou que não se sente seguro em voltar a morar na casa. E teme pela vida dos cachorros. "Eu não tenho condições de voltar. Não estou sentindo proteção da Justiça. Não há nenhum cuidado preventivo sendo feito para ele não fazer a mesma coisa", contou João, ao relatar que o imóvel em que reside atualmente é alugado.
O que diz a defesa
O advogado Carlos Rodolpho Glavam, que representa Daniel Hazan, informou que o cliente será punido pelo crime, mas defendeu que a família também sofreu maus-tratos do tutor dos animais. "Os cachorros passam dias abandonados, ele tem uma vida diferente, sai e deixa os cachorros sozinhos. Eles têm que aguentar latidos 24 horas por dia, uivos 24 horas por dia, cocô, xixi, o tempo inteiro, e ninguém fez nada", disse ao UOL.
A defesa diz que reclamações já haviam sido feitas na imobiliária. "Se a imobiliária tivesse atendido os inúmeros pedidos da mãe do rapaz, talvez pudéssemos ter feito uma reunião entre eles há um ano, quando começou o problema, e tudo estaria certo. Agora, a dona do imóvel, ao invés de tentar interceder, porque é o patrimônio dela que estava em risco, não fez nada e não adiantou", afirmou.
O advogado esclareceu que Daniel não tem transtornos mentais. "Não é um menino que tem um problema mental, tem alguma situação diferente, e por esse motivo ele atacou. Não, teve um motivo, por isso que eu preciso falar, porque isso aí vai ter que ser apurado, se for o caso, numa sentença judicial. Tudo está seguindo religiosamente o que a lei determina", argumentou.
Ele denunciou que o tutor dos animais tentou agredir a mãe de Daniel na delegacia. "Ele estava transtornado, sofrido com o ato, mas, em contrapartida, no dia da delegacia, tentou me agredir e tentou agredir a mãe do rapaz".
Carlos Rodolpho Glavam defendeu que não havia "nenhum elemento que pudesse impedir a soltura do jovem". "Rapaz primário, bons antecedentes, estudante, tem renda, porque a mãe trabalha, casa própria, não havia qualquer elemento que pudesse impedir a liberdade provisória do rapaz". "Ele praticou um fato descrito como crime e vai responder. O Estado não está dando nenhuma moleza para ele", acrescentou.
Ele criticou a cobertura do caso e classificou a repercussão como "inversão de valores". "Agora, por causa de um cachorro, nós estamos saindo em jornal nacional". Também criticou a expulsão do jovem da escola. "O menino não vai conseguir estudar em Florianópolis a pedido do dono do cachorro, então quer dizer, nós vamos acabar com a vida de um menino por causa de uma vida de um cachorro, qual que vale mais para nós?", questionou.
Nós estamos vendo apenas a ponta do iceberg, a ponta do gelo que está para cima da água. Nós não estamos vendo para baixo da água, então assim, nós só vemos os animais machucados, certo? E isso é exatamente em função de uma sociedade doente em que nós estamos vivendo, onde os casais não desejam mais ter filhos, eles têm cachorros, em que a vida de um animal é mais importante do que a de um rapaz.
Carlos Rodolpho Glavam, advogado