Amigos resgatam 20 pessoas em colchão inflável: 'água estava no nariz'
Um colchão inflável, guardado no fundo de um armário, virou objeto valioso em meio aos alagamentos em Porto Alegre. Dois amigos comandavam a "embarcação" improvisada, empurrando pelas laterais e com os corpos parcialmente submersos (veja vídeo).
O que aconteceu
Colchão foi usado no sábado (4) e no domingo (5). Os amigos Maick Soares Moreira, 26, e Michel Chamberlain Ponciano, 36, fizeram os resgates na Ocupação Cobal, no Quarto Distrito, zona norte de Porto Alegre. Eles contam que não dormiram por causa dos salvamentos. "Quando a água chegou no peito, lembrei do colchão que estava guardado e a gente começou a usá-lo", conta Maick.
Plástico estava furado em três pontos. "A gente precisou fazer um remendo, com cola e pedaço de plástico", diz Michel. Mesmo assim, deu pra usar a "embarcação" e retirar cerca de 20 pessoas da água. Uma mulher grávida, ao ver a fragilidade do colchão inflável, titubeou. "Quando ela subiu no colchão, entrou em pânico. Era um momento de ficar calma, e ela entrou em pânico. Aí o marido dela e eu a agarramos e a levamos junto no colchão".
Mulheres, crianças e idosos foram primeiro. Porém, havia pessoas que não queriam sair, como um casal com duas filhas, lembra Maick. Da área alagada, as famílias eram levadas para um pavilhão de uma empresa, que inicialmente estava em um ponto seco, mas que depois também foi tomada pela água.
Inicialmente, famílias saíram a pé. Maick e Michel decidiram ficar em suas casas, feitas de madeira, por medo de furtos. Acabaram sendo alguns dos últimos a sair. "No final, era a gente que estava precisando de socorro. Quando levamos as últimas quatro pessoas no colchão, a água já estava no nariz", relembra Maick. "Levamos um casal, meu avô e meu tio, além do cachorrinho do meu tio. Tu pensa num frio que estava a água. Eu só estava de bermuda e camiseta", complementa Michel.
Houve quem não quisesse sair. "Eu me comovi com uma pessoa que eu não consegui tirar de lá. Subi até a casa dele, era um senhor, por volta de 60 anos de idade, a mulher dele e duas crianças. Eles não quiseram sair", diz Maick.
Líder comunitária avisou famílias na sexta-feira (3). A recicladora Cinara da Luz Salles, 43, vizinha dos socorristas, conta que alertou sobre os alagamentos na quinta-feira (2). Porém, ninguém imaginava que a água subiria tanto. "Foi tudo muito rápido. A água subia cada vez mais e atingia as casas com ondas. Foi batendo o desespero."
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