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RS: Voluntários dizem ter sido coagidos para retirada de armas de aeroporto

Colaboração para o UOL e do UOL, em São Paulo

16/05/2024 20h46

Um grupo de voluntários diz ter sido enganado e coagido para resgatar mais de 3.000 armas no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre (RS). A operação para realizar a retirada da carga milionária do local alagado foi concluída no dia 9 de maio.

O que aconteceu

Informação foi divulgada inicialmente pelo jornal ABC e confirmada pelo UOL. O grupo de voluntários atuava há cerca de dez dias em resgates de vítimas das enchentes, quando foi abordado por um homem que pedia a ajuda deles para o salvamento de cem crianças.

O grupo aceitou ajudá-lo, se mobilizou e montou uma equipe de resgate com recursos próprios. Na sequência, eles foram para Canoas, região metropolitana de Porto Alegre (RS). Chegando ao local, a BR 290, os voluntários se encontraram com outras pessoas que não conheciam. O homem (que pediu a ajuda) estava acompanhado de uma mulher, que se identificou como funcionária da Taurus, empresa dona da carga. Foi aí que, segundo o grupo, a verdadeira informação foi revelada a eles.

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Aí [ela] revelou pra gente que, na verdade, não se tratava de crianças, e sim, de armas. A gente ficou bem balançado. Ela nos persuadiu dizendo que o bem que faríamos para a sociedade seria mais relevante do que se nós fossemos resgatar pessoas ou animais. Nicolas Vedovatto, um dos voluntários, de 26 anos, em entrevista ao UOL

Ele diz que o grupo usou os próprios barcos. "Ela [funcionária da Taurus] pediu para guardarmos os celulares e não fazermos movimentos bruscos, porque estávamos entrando na linha de tiro dos snipers [que faziam a segurança da carga]. Fizemos o percurso até [área de] carga e descarga do aeroporto. Lá, nos deparamos com vários policiais. Começamos a fazer a logística das armas."

Após a conclusão da missão, Vedovatto diz que descobriu todos os detalhes. "Depois da missão concluída, foi revelado que, na verdade, tudo era uma grande mentira, que bandidos já sabiam das cargas, que o aeroporto já estava sob intenção de ataque e que a inteligência da polícia já tinha interceptado grupos de WhatsApp. Isso aí nos deixou em choque. Foi negado o uso de colete [à prova] de balas. Foi negado proteção. Eram civis no meio de uma situação... Fomos coagidos pela nossa boa intenção de salvar vidas", concluiu.

Em nota, a Taurus diz desconhecer a participação de voluntários. Além de Vedovatto, o UOL conversou com outros dois envolvidos na ação. Os três dizem que pretendem processar a empresa.

Nicolas Vedovatto (à esq.), Igor Oliveira (centro) e Isaac Lopes (à dir.) Imagem: Arquivo pessoal/Nicolas Vedovatto

"Nos desanimou completamente"

Ambos moram na cidade de Capão da Canoa, no litoral norte do Rio Grande do Sul. Nicolas Vedovatto, investidor de 26 anos, Igor Garcia, analista de sistemas, 26, e Isaac Freire Lopes, empresário no ramo metalúrgico, 25, foram para a capital no início do mês para ajudar os gaúchos castigados pelas enchentes.

Fomos lá para salvar vidas, aconteceu esse episódio e isso nos desanimou completamente. A gente veio até embora. Muitas vidas poderiam ter sido salvas aí, mas perderam uma equipe com sete pessoas graças a essa atitude da Taurus", afirmou Vedovatto. "Depois disso só ficamos nos bastidores ajudando na organização das operações.
Igor Garcia de Oliveira

Além dos três amigos, outras pessoas que optaram por não se identificar também foram chamadas para o falso salvamento de crianças.

O que diz a Taurus

A Taurus é uma Empresa Estratégica de Defesa, credenciada pelo Ministério da Defesa, atua há 85 anos de acordo com as diretrizes legais e regulatórias, e esclarece que a operação de retirada das armas no aeroporto foi coordenada na parte fluvial pelo Comando de Operações Táticas da Polícia Federal (COT) e na parte terrestre com veículo de transportadora credenciada pelo Exército Brasileiro, escoltada por dois veículos de segurança privada armados e acompanhada por três viaturas da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) da Polícia Civil do Rio Grande do Sul. A conferência e manuseio das armas foram feitas por 12 funcionários da Taurus, da área de logística, devidamente capacitados. A empresa desconhece a participação de voluntários e vai levantar os fatos junto às autoridades policiais que participaram da operação.

O que diz a PF

A retirada das armas que estavam depositadas no Aeroporto Internacional Salgado Filho foi coordenada pela Polícia Federal, em articulação com a Fraport, administradora do Aeroporto Internacional Salgado Filho, e com a empresa proprietária da carga e as pessoas contratadas por ela, sendo esses, exclusivamente, os participantes envolvidos com a logística de remoção do armamento.

A PF mobilizou o Comando de Operações Táticas (COT), especializado em missões de risco diferenciado, para garantir a segurança de todos os envolvidos na logística de retirada das armas.

Como foi a operação

A operação da Polícia Federal para retirar cerca de 3.000 armas do aeroporto foi feita para evitar saques de grupos criminosos, segundo apurou o UOL. O aeroporto está alagado e fechado por tempo indeterminado devido às enchentes que atingem o estado e já mataram mais de cem pessoas.

O COT (Comando de Operações Táticas) da PF passou a vigiar na quarta-feira (8) os arredores do aeroporto com barcos. O motivo do cerco era evitar saques em geral na área, que é de responsabilidade da PF.

A carga estava prestes a ser exportada. Segundo quatro fontes, o destino eram os Estados Unidos. A Taurus nega, e não revela qual era o destino da carga.

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