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Vítimas das enchentes catam itens no lixo: 'Só tenho a roupa do corpo'

Do UOL, em Porto Alegre

23/05/2024 04h00

Com o recuo da enchente, uma caçamba de lixo a apenas 100 m do Mercado Público de Porto Alegre despertou o interesse de famílias que perderem quase tudo. Cerca de 30 pessoas pareciam não se importar com a lama que ainda estava por todos os cantos. Após jogarem os itens da lixeira no chão, eles se ajoelharam para vasculhar se havia algo de valor ali. E ninguém saiu de mãos vazias.

Algumas pessoas usavam luvas para vasculhar o lixo em meio ao entulho da rua. Outras, nem isso. Havia até crianças e idosos por ali, que tratavam os produtos de camelôs levados pela enxurrada no centro histórico da capital gaúcha como tesouros em meio a tantas perdas.

Sheila Meireles deixa centro histórico de Porto Alegre com a filha após encontrar produtos de camelô em meio ao lixo Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Sheila Meireles, 43, não conseguiu mais fazer bicos como diarista após os alagamentos. Ela estava com a filha de 7 anos em meio à lama. Saiu de lá com uma carteira e outros itens em uma sacola de plástico, como se estivesse deixando uma loja.

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"Ela quis pegar um estojo e a gente veio. Acho que não vai transmitir doença, é só lavar bem", disse. Duas pessoas já morreram por leptospirose no Rio Grande do Sul devido ao contato com a água contaminada após as enchentes.

Pessoas vasculham lixo em busca de produtos de camelô levados pela enchente no centro histórico de Porto Alegre Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

O autônomo Wuelinton Santos, 21, se mudou há apenas dois meses de Portão, no interior do Rio Grande do Sul, para morar com o pai no bairro Humaitá, um dos mais atingidos pelas enchentes na capital gaúcha.

A casa foi para o chão, na real. Agora, moro em um abrigo e não conheço nada na cidade. Não tenho nem documentos, só tenho a roupa do corpo. Mano, consegui brinco, alargador, uns bagulhos para a minha filha e até maquiagens para a mãe dela. Tem bastante coisa aqui, tá ligado? É só olhar com atenção e ter paciência para catar aqui.
Wuelinton Santos

Wuelinton Santos disse que a casa onde morava com o pai no Humaitá, um dos bairros mais atingidos pelas enchentes na capital gaúcha, foi levada pela enchente Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Ele estava com Lucas Nunes, 27. Os dois se conheceram no abrigo do Grêmio Náutico União. Lucas, que morava com a mãe no bairro Sarandi, também perdeu todos os seus pertences na enchente.

"A água subiu até o segundo andar e eu perdi tudo. Até a minha camisa do Grêmio foi. A gente não esperava por isso, mas tenho fé que a gente vai conseguir recuperar de novo".

Pessoas atingidas pelas enchentes procuram por produtos de camelôs em meio ao lixo no centro histórico de Porto Alegre Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Sem dinheiro, ele estava em busca de produtos levados pela enchente no centro histórico de Porto Alegre. "Encontrei um fone de ouvido na caixa, brinquedo para o meu sobrinho, bijuteria... Também achei uma carteira para a minha irmã, umas correntes, capa de celular. Peguei coisa que dá para aproveitar ainda".

Procurada pelo UOL, a prefeitura de Porto Alegre diz manter mais de 12 mil pessoas abrigadas em 140 instituições na capital gaúcha graças a parcerias e o auxílio de voluntários. A administração municipal diz ainda ter distribuído mais de 13 mil cestas básicas às vítimas dos alagamentos. Mas não quis comentar o episódio envolvendo a retirada de produtos no lixo no centro histórico de Porto Alegre.

Família separando brinquedos em meio ao lixo no centro histórico de Porto Alegre Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

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