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Helicópteros e pequenos aviões levam doações a isolados do RS

Luís Adorno e Marcelo Ferraz

Do UOL, em Novo Hamburgo (RS)

23/05/2024 04h00

Pequenos aviões, como monomotores e bimotores, têm sido utilizados para chegar com doações e suprimentos às regiões afetadas pelas enchentes e deslizamentos de terra que acometem o Rio Grande do Sul desde o dia 4 deste mês.

Até agora, foram centenas "voos humanitários", decolando e aterrisando somente do aeroclube de Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre. A maioria desses voos é feita de maneira voluntária, por donos de aeronaves. Mas o espaço também é utilizado, quando preciso e possível, para as forças de segurança.

O piloto Renan Raphaell, 35, voou mais de 35 horas desde o início da enchente, levando suprimentos a locais de difícil -ou impossível- acesso.

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"Operamos bastante na região de Garibaldi e também Eldorado, Arroio dos Ratos, São Jerônimo, que estão precisando bastante. Ainda tem bastante pessoas isoladas nessas áreas. Então, a gente tem a ideia de ajudar mais", diz o piloto.

20.mai.2024 - Piloto Renan Raphaell logo após pousar no aeroclube de Novo Hamburgo (RS) Imagem: Marcelo Ferraz/UOL

Raphaell afirma que pousou em lugares como avenidas e estradas interditadas, lugares que seriam impossível de ser acessados por terra. Mas também sobrevoou por lugares que não tinham local seguro para pouso e, mesmo assim, entregou mantimentos para pessoas que estavam ilhadas.

"Teve uma fábrica que a gente teve que ficar parado em cima e tocar os alimentos no telhado, porque eles não tinham como sair. Eram 16 pessoas há mais de três dias sem comida. Entregamos comidas e mantimentos que eles estavam precisando na hora", relembra.

Como essas pessoas estavam ilhadas em uma fábrica, não conseguiam cozinhar. "Então, a gente deu alimentos, tipo atum, sardinha enlatada, proteínas, massas, bolachas, pão, tudo isso aí. Eles estavam precisando muito", complementa.

O piloto também afirma que ajudou na logística de coletas de sangue e de insulina. "A gente recebeu muitos retornos de que salvou crianças que precisavam de insulina, crianças que precisavam de nutrição. Então, assim, tá sendo essencial a ajuda dos helicópteros", diz.

Traslado de medicamentos

Rudolf Oxendorf, 36, comercializa aeronaves em Bragança Paulista (SP). Ele afirma que levou ao Rio Grande do Sul dois bimotores e um monomotor para fazer o traslado de medicamentos de São Paulo até a população gaúcha. Ele coletou remédios com uma empresa privada, com a prefeitura de Mogi-Mirim (SP) e também com um batalhão da Polícia Militar de Bragança.

"A gente se responsabilizou de entregar aqui em mãos seguras, porque isso é importante. Muita coisa está vindo e nem sempre está chegando onde tem que chegar. Mas todos os nossos voos chegaram no hospital Oswaldo Diesel, de Três Coroas, e o que sobrou da nossa carga que tá em Vacaria", diz.

No fim da manhã de segunda-feira (20), ele teve de retornar para São Paulo às pressas porque seu filho foi hospitalizado e está na UTI. Outros dois pilotos, que foram ao Rio Grande do Sul com ele nas outras aeronaves, continuaram no estado. "Se Deus quiser, tudo vai ficar bem e a gente volta assim que for preciso", destaca.

20.mai.2024 - Avião pilotado por Rudolf Oxendorf com destino a São Paulo Imagem: Marcelo Ferraz/UOL

Livros sobre chuva para crianças

Felipe de Paula, 40, é de Belo Horizonte e esteve no aeroclube de Novo Hamburgo, depois de realizar voos humanitários, para entregar, em terra, doações destinadas a crianças. Entre os itens escolhidos, estão bonecos, carrinhos e livros.

"Inclusive, a gente tem um livro que justamente fala sobre a chuva, porque a criança não entende, acha que a chuva é o mal. O livro mostra a importância da chuva também, os benefícios, porque elas estão vendo, infelizmente, só o estrago", explica, enquanto mostra o livreto que estava dentro da sacola de doações.

20.mai.2024 - Livro educativo sobre chuvas doado para crianças do Rio Grande do Sul Imagem: Marcelo Ferraz/UOL

A preocupação do piloto é relacionada com o que as crianças afetadas podem pensar de chuva e de água, após esse período traumático. "Para a criançada também ter a consciência de poder ser harmônico com o meio ambiente, porque essa destruição veio também, com certeza, por ações dos seres humanos que não respeitam o meio ambiente", diz.

Novo Hamburgo vira hub

A cidade de Novo Hamburgo teve aproximadamente 1/3 da população de alguma maneira atingida pelas enchentes que acometem o Rio Grande do Sul. Um dos lugares que não teve interdições foi o aeroclube da cidade. O local passou a ser um ponto estratégico para helicópteros e pequenos aviões que levam suprimentos a locais de difícil acesso no estado.

O instrutor Pedro Dieter, 27, explica que o local está recebendo, em um hangar, doações da população que as entrega pessoalmente, por terra. Mas também é o ponto de encontro de muitos pilotos que desejam realizar voos a cidades da região.

"Assim que começou a abrir o tempo, a gente começou a poder fazer os voos. O pessoal conseguia trazer [doações] em aviões maiores até a Serra Gaúcha e a gente conseguia, em aviões menores, trazer pra cá. Daqui, vai sendo distribuído para quem está fazendo separação dos donativos", afirma.

A maior parte das doações foram de roupa e água. A demanda agora é para materiais de limpeza e de higiene, além de medicamentos e comida.

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