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Pastores são condenados por tortura em clínica clandestina em Goiás

Ângelo Mário Klaus Júnior e Suelen Amaral Klaus foram condenados por torturarem internos na clínica clandestina Imagem: Reprodução

Tiago Minervino

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/05/2024 15h07Atualizada em 24/05/2024 15h07

Um casal de pastores foi condenado por torturar e manter em cárcere privado pelo menos 73 pessoas em duas clínicas clandestinas em Anápolis (GO).

O que aconteceu

Ângelo Mário Klaus Júnior e Suelen Amaral Klaus foram condenados, cada um, a 10 anos e três meses de prisão. Outras cinco pessoas que ajudavam os pastores nos crimes também foram condenadas a penas que variam de dois anos e oito meses a oito anos e dois meses de detenção. Decisão é do último dia 15 de maio, mas foi divulgada nesta semana.

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Casal submeteu os internos a abusos físicos e psicológicos. Essa foi a conclusão da juíza Lígia Nunes de Paula, da 2º Vara Criminal de Anápolis. Para a magistrada, ficaram comprovados os maus-tratos e também não restam dúvidas de que os pastores mantinham "presença constante" nas clínicas, interagiam com os internos e tinham conhecimento do que acontecia.

Sem sombra de dúvidas [havia] ciência e supervisão por partes dos mesmos [Ângelo e Suelen] quanto à rotina, as condições físicas do local, as condições sanitárias, os tratamentos dispensados aos internos e, por extensão, das torturas impingidas.
Juíza Lígia Nunes de Paula em sua sentença

Juíza afirmou que "seria impossível" os líderes religiosos não terem conhecimento do que acontecia nas clínicas. Para a magistrada, Ângelo e Suelen sabiam "das condições desumanas e dos crimes ali cometidos", haja vista que os internos eram forçados a conviver em um espaço pequeno e insalubre.

Casal passou a ser investigado após uma vítima de 96 anos conseguir fugir da clínica em agosto de 2023. Os pastores mantinham em funcionamento pelo menos duas clínicas irregulares na zona rural de Anápolis e submetiam os internos a maus-tratos e outros tipos de tortura, além de proibirem que eles deixassem o local. Em uma clínica, a polícia achou 43 internos e, em outra unidade, tinham mais 30 pessoas internadas.

Veja quem são os condenados:

  • Ângelo Mário Klaus Júnior -- condenado a 10 anos e três meses de reclusão em regime fechado;
  • Suelen Amaral Klaus -- condenada a 10 anos e três meses de reclusão em regime fechado
  • Ruimar Márcio Silva Qualhato -- condenado a oito anos e dois meses de reclusão em regime fechado;
  • Jhonathan Alexandre Silva Santos -- condenado a seis anos e nove meses de reclusão em regime semi-aberto;
  • Francisco Carlos Lira Júnior, Jonas da Silva Geraldo e Cleiton dos Santos Silva tiveram penas inferiores a quatro anos de reclusão, cada um deles, e poderão cumprir a pena em regime aberto.

Outras três pessoas suspeitas de envolvimento nos crimes não foram localizadas. Eles foram identificados apenas como Maicon, Marcos e João Paulo. A Justiça de Goiás determinou que eles sejam encontrados para julgamento.

Todos os sete condenados recorreram da decisão na Justiça. Dos sentenciados, apenas Ângelo, já encarcerado, teve a prisão mantida. Os outros seis condenados continuarão em liberdade até o trânsito em julgado dos autos para o cumprimento de suas penas se forem mantidas as condenações.

O UOL tenta localizar a defesa dos condenados. O espaço fica aberto para manifestações.

Como funcionava a clínica

Polícia localizou pelo menos 73 vítimas em duas clínicas mantidas pelos pastores. Os internos eram homens, com idades entre 14 e 96 anos.

Entre os resgatados havia pacientes com deficiência intelectual, cadeirantes e alguns dependentes químicos. Segundo a investigação, eles foram levados de forma ilegal e involuntária ao local.

As vítimas eram trancadas, em ambiente insalubre, com alimentação precária, sem medicação ou acompanhamento médico e psicológico. Alguns apresentavam lesões graves, desnutrição e confusão mental compatível com sedação no momento do resgate.

O valor cobrado variava de um salário mínimo a R$ 2,5 mil por mês de cada paciente. A polícia não explicou, porém, quem pagava o valor, se eram familiares dos internos ou eles mesmos.

Os resgatados foram acolhidos pelos serviços de saúde mental e assistência social da prefeitura de Anápolis. As vítimas foram identificadas e iniciou-se uma investigação para localizar os familiares.

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