Falsa biomédica foi ao hospital e aplicou injeção em modelo morta após PMMA
Colaboração para o UOL, em São Paulo
09/07/2024 14h17
A falsa biomédica Grazielly da Silva Barbosa, dona da clínica de estética em que uma modelo fez um procedimento com PMMA nos glúteos pouco antes de morrer, chegou a aplicar uma injeção na vítima enquanto ela estava hospitalizada. As informações são do SBT Brasil.
O que aconteceu
Marido disse em depoimento que ligou para Grazielly após Aline começar a passar mal. Segundo declarou aos investigadores, a falsa biomédica tentou persuadi-lo a não levar a modelo para o hospital e que, após Aline ser hospitalizada em uma clínica particular no Distrito Federal, ela foi até o hospital e injetou um suposto medicamento para evitar trombose. Grazielly também teria entregado uma segunda seringa com o produto para que o marido aplicasse.
O que restou do medicamento será entregue à polícia para passar por perícia. Grazielly também teria perguntado ao marido de Aline se ele conhecia alguém que poderia vender medicação sem receita porque a modelo precisava tomar um antibiótico. O marido falou que não conhecia. Pouco tempo depois, Grazielly teria retornado ao hospital com o suposto antibiótico, mas a família de Aline não autorizou a aplicação.
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A falsa biomédica relatou aos investigadores que realizou três procedimentos com PMMA, incluindo o da modelo. Em depoimento à polícia, Grazielly confessou ter aplicado PMMA em Aline.
Polícia quer determinar se Grazielly de fato aplicou PMMA em Aline ou algum outro produto adulterado. Conforme o marido, a falsa biomédica retirou o produto de uma bolsa, não de uma geladeira, e "parecia um mingau" de amido de milho. Ao UOL, a Polícia Civil de Goiás disse aguardar o resultado IML para determinar qual produto foi injetado nos glúteos da modelo.
Para adquirir o PMMA, a empresária usou o CRM de uma médica de Goiás. A médica em questão acionou na semana passada a polícia alegando que seus dados foram falsificados pela suspeita.
Médico que atendeu Aline disse acreditar que o produto aplicado pode ter atingido a corrente sanguínea da vítima. Conforme o marido dela, o profissional de saúde explicou que a modelo sofreu uma parada cardíaca, conseguiu ser reanimada, mas seu estado clínico piorou. Os rins dela pararam, os pulmões e o coração estavam comprometidos e foi constatada sua morte cerebral. Ainda, o médico disse que, caso sobrevivesse, a modelo precisaria amputar um braço e as duas pernas.
Amiga que acompanhou Aline durante o procedimento disse em depoimento que Grazielly parecia estar "virada" da noite anterior porque tinha ido a uma festa. Durante o preparo para aplicação do PMMA, a falsa biomédica disse que o produto teria que ser aplicado no "fundo do músculo", por isso doía. Após a aplicação, fez massagem sem luvas nos glúteos da modelo para espalhar o PMMA, prescreveu uma série de antibióticos e recomendou que Aline não sentasse por cinco dias após o procedimento.
Falsa biomédica está presa
Grazielly foi detida na quarta-feira (3) no momento em que realizava procedimento em outra paciente. Segundo a investigação, na ocasião a empresária tinha acabado de fazer uma sessão de limpeza de pele em uma cliente, além de ter fornecido informações sobre um procedimento de botox para a mulher.
Ela não tinha autorização para realizar aplicação de PMMA. Embora fosse dona de uma clínica de estética e realizasse procedimentos que exigem conhecimentos técnicos na área de saúde, a empresária não possui capacitação necessária, conforme a investigação.
Clínica não tinha alvará para funcionamento, nem responsável técnico, conforme a delegada. "É uma exigência para qualquer estabelecimento comercial na área de saúde e estética para esclarecer as atividades realizadas. Tem atividades mais simples — como micropigmentação e massagens — e outras mais complexas, como a utilização de substâncias injetáveis, que trazem riscos ao paciente".
Local foi interditado pela Polícia Civil de Goiás. O estabelecimento funcionava em Goiânia, mas foi fechado após a morte da modelo e influenciadora Aline Ferreira, 33, que veio a óbito dias após aplicar PMMA nos glúteos — Ferreira morreu na terça-feira (2), em Brasília, menos de dez dias após ser submetida ao procedimento estético, que teria sido realizado por Grazielly, conforme depoimento do marido da vítima à polícia.
Empresária é investigada por exercício ilegal da medicina, por executar serviço de alta periculosidade sem ter capacitação técnica e por crime contra a relação de consumo ao induzir os consumidores ao erro. A polícia também investiga se Grazielly cometeu crime de lesão corporal com resultado de morte em referência ao caso da modelo. O UOL não conseguiu localizar a defesa da empresária. O espaço segue aberto para manifestação.
Modelo pagou R$ 3 mil pelo PMMA
Aline Ferreira pagou R$ 3.000 para realizar a aplicação de polimetilmetacrilato para aumentar os glúteos. O procedimento levaria três sessões para ser concluído, mas a modelo passou mal e morreu dias após ter sido submetida a primeira sessão, em 23 de junho.
Aline passou mal logo após fazer o procedimento. A aplicação foi feita em Goiânia, e a influenciadora voltou à Brasília em seguida. Ela foi internada em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) seis dias depois, em 29 de junho.
Quadro de saúde da influenciadora piorou gradativamente. A morte de Aline foi confirmada na noite do dia 2 de julho.
Usado em Aline, o PMMA também é conhecido como bioplastia. É um preenchedor definitivo em forma de gel utilizado em tratamentos faciais e corporais. O produto é liberado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas não recomendado pela SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica).
Apenas médicos têm autorização para aplicar PMMA. Apesar de liberar o produto, a Anvisa ressalta que somente profissionais de medicina com treinamento adequado estão autorizados a realizarem procedimentos com o uso de polimetilmetacrilato. O órgão também orienta que o produto seja usado em casos específicos de deformidades corporais provocadas por algumas doenças.