Avião ter tido incidente anterior não impede que volte a operar, diz perito
Colaboração para o UOL, em São Paulo
12/08/2024 12h31
O fato de o avião da Voepass que caiu em Vinhedo (SP) ter passado por manutenção em março após um dano estrutural não impediria a aeronave de voltar a operar, desde que todos os protocolos de segurança tenham sido seguidos e aprovados pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), afirmou Daniel Kalazans, perito aeronáutico e forense, em entrevista ao UOL News nesta segunda (12).
Ontem, o Fantástico revelou que a o avião turboélice, um modelo ATR-72-500, apresentou problemas estruturais recentes. Houve falhas no ar-condicionado e no sistema hidráulico, além de um contato anormal com a pista, conforme mostrou o programa da TV Globo.
Se a aeronave está voando, ela passou por um processo de certificação, pelo qual as autoridades aeronáuticas verificaram que ela pode voar. A idade da aeronave não entra em questão se ela seguir os procedimentos de manutenção preventiva e corretiva. Mais importante do que analisar a aeronave é verificar a operação. A companhia aérea seguia os procedimentos de manutenção? Aí, tudo bem.
Quando uma aeronave é danificada ou sofre um incidente, isso deve ser comunicado à autoridade aeronáutica. Esse processo de manutenção precisa ser registrado e apresentado a estas autoridades. O fato de uma aeronave sofrer um incidente não impede que venha a voar novamente se ela obedeceu a todo este protocolo, sendo fiscalizado pela Anac. Daniel Kalazans, perito aeronáutico e forense
O perito destacou que o bom estado de conservação das caixas-pretas da aeronave será fundamental para a elaboração de um relatório conclusivo sobre o acidente.
A conversa entre piloto e copiloto será analisada para ver se eles estavam em emergência, A gravação de dados pega tudo: operação de motor e dos comandos, quais dispositivos estavam à disposição do piloto e se ele os acionou ou não... Com tudo isso, os investigadores devem chegar a uma conclusão.
Os elementos disponíveis pelas caixas-pretas de dados e de voz serão suficientes para que as autoridades montem o quebra-cabeça e deem o resultado final. A probabilidade é de termos um relatório final conclusivo. A integridade das caixas foi preservada e isso é excelente. Daniel Kalazans, perito aeronáutico e forense
Gelo é fator, mas não necessariamente a causa da queda, diz perito
Kalazans explicou que a formação de gelo nas asas pode ter sido um fator importante para a queda do avião da Voepass, mas não é necessariamente a causa do acidente. Para o perito, um conjunto de outros elementos também contribuiria para o acidente.
Havia cartas e boletins meteorológicos indicando presença severa de gelo. Outros pilotos voando na região reportaram a presença de gelo. Esta é uma linha muito importante de investigação e deve ser considerada diante dessas informações. Agora, afirmar que é a causa é muito distante.
Ainda que haja presença severa de vento, precisamos entender que a formação de gelo é um fator contribuinte, não necessariamente a causa. Estamos em uma ação inicial e as informações das caixas-pretas serão analisadas. É uma hipótese importante e as autoridades aeronáuticas irão considerá-la, mas não dá para fechar nela.
Essa queda foi na vertical, em parafuso. Fica bem claro que a aeronave teve uma queda descontrolada. O piloto não tinha controle algum, um forte indício de que, considerando a tese do congelamento, houve uma perda de sustentação devido ao fluxo irregular de escoamento [do ar] nas asas ou travamento na parte traseira.
A formação de gelo pode ser um indício, mas cuidado: a aeronave pode ter perda de potência, um dos motores pode ter falhado ou apagado... Não é só o gelo; outros fatores podem contribuir para esse tipo de queda. Daniel Kalazans, perito aeronáutico e forense
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