Pai diz que foi impedido de deixar farmácia com filha por suspeita de furto
Um homem negro registrou boletim de ocorrência após relatar ter sido vítima de uma abordagem discriminatória em uma farmácia no Rio de Janeiro.
O que aconteceu
Diogo Rodrigues relatou ao UOL que estava em uma unidade da Droga Raia com a filha de 16 anos quando foi proibido de deixar a loja por suspeita de furto. Ele gravou o diálogo com um segurança e com um gerente e diz ter sido constrangido por uma discriminação racial. O caso aconteceu no dia 8 de agosto, mas só ganhou repercussão nesta semana.
O homem diz que foi questionado sobre produtos que estavam em uma sacola. Segundo o registro na polícia, a sacola era de outra farmácia, onde o homem havia comprado produtos momentos antes de entrar no estabelecimento, onde entrou para comparar preços. Diogo afirmou que se propôs a mostrar nota fiscal.
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Após ser proibido de sair da loja, ele começou a gravar o diálogo com o segurança e com o gerente da farmácia. A unidade da Drogaria Raia em questão fica no bairro do Flamengo, na zona sul da capital.
De acordo com Diogo, ele só seria liberado após análise das imagens das câmeras de segurança. O objetivo seria confirmar que ele não furtou produtos da loja. Além do segurança, o vídeo gravado por ele mostra o gerente e outra funcionária presenciando o ocorrido. Ao fundo, a filha de Diogo também tenta intervir.
O direito básico de ir e vir foi negado. Me sinto triste, a gente ser tratado assim por ser negro e na frente dos filhos. É uma humilhação grande. É o pior episódio com minha filha, ser acusado de roubo na frente dela. Fica o trauma racial que vai passando de geração em geração.
Diogo Rodrigues
Outro lado
Em depoimento à polícia, o segurança flagrado no vídeo negou a versão de Diogo. Segundo o funcionário, não houve acusação de furto, mas apenas o pedido para apresentação da nota fiscal dos produtos da sacola que o homem portava.
Conforme o registro da ocorrência, o segurança ainda comentou que a desconfiança partiu de todos os funcionários. Isto pelo fato de Diogo ter ficado parado por 20 minutos com a filha próximo a uma gôndola de produtos dermatológicos que, segundo o homem, são os mais caros do estabelecimento.
A Drogaria Raia, em nota, afirmou que colabora com as investigações. De acordo com a empresa, o caso envolve um funcionário de uma prestadora de serviços terceirizada. "A RD Saúde colabora com as investigações relativas ao episódio ocorrido em uma farmácia Raia localizada no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. O caso também está sendo apurado internamente. A empresa reafirma seu compromisso em promover um ambiente de zero discriminação", conclui.
O UOL tenta contato com a Golf Soluções em Segurança, empresa que presta serviços para a Droga Raia. O espaço segue aberto para manifestação.
Imagens foram solicitadas
Polícia solicitou imagens de câmeras de segurança da farmácia para apurar ocorrido. Contudo, até a tarde desta terça-feira (20) os registros não foram entregues à polícia. O caso é investigado pela 9ª DP, do Catete.
Advogados reforçaram pedido para entrega das imagens. De acordo com Diogo, o vídeo pode comprovar a abordagem discriminatória dos funcionários.
Ainda não foram ouvidos o gerente e a balconista que presenciaram o ocorrido. A defesa acredita que houve um protocolo padronizado de abordagem no caso.
"Existe um protocolo visível de racismo da loja, que ficou nítido, frente a pessoas pretas", disse Diogo ao UOL. "Eles escondiam o crachá e falavam com naturalidade sobre isso. O gerente que ria em tom de deboche ainda não prestou depoimento. A balconista também não foi ouvida", complementou.
Uma manifestação foi marcada para protestar contra o caso. Segundo Diogo, o objetivo é reunir na frente da farmácia na sexta-feira (23) para cobrar providências da rede.
Resolvendo meu problema não resolve a situação, não é a realidade. Esse é um protocolo nacional, todos os negros são tratados dessa forma. É um movimento coletivo e político que não aconteceu apenas comigo.
Diogo Rodrigues