Ministério da Saúde é criticado por sugerir bandana como proteção à fumaça
Do UOL, em São Paulo e Colaboração para VivaBem
27/08/2024 15h15Atualizada em 27/08/2024 15h54
O Ministério da Saúde foi criticado nas redes sociais após sugerir que afetados por queimadas se protejam usando bandanas e máscaras cirúrgicas para proteger as vias aéreas, o que não é recomendado.
O que aconteceu
Ministério apagou publicações. A conta oficial do órgão apagou os posts no X (antigo Twitter) e no Instagram, mas deixou no site um texto sobre o tema. "Uso de máscaras do tipo 'cirúrgica', pano, lenços ou bandanas podem reduzir a exposição às partículas grossas, especialmente para populações que residem próximas à fonte de emissão (focos de queimadas) e, portanto, melhoram o desconforto das vias aéreas superiores. Enquanto o uso de máscaras de modelos respiradores tipo N95, PFF2 ou P100 são adequadas para reduzir a inalação de partículas finas por toda a população", diz a nota.
Bandanas não bloqueiam partículas finas. Segundo a Fiocruz Amazônia e a Dra. Beatriz Klimeck, do projeto "Qual Máscara?", as bandanas não são eficientes na filtragem de partículas menores. A respiração de cinzas e fumaça pode causar danos a médio e longo prazo, como doenças no trato respiratório e problemas cardiovasculares.
"O uso de máscara torna-se, portanto, muito apropriado principalmente para que tem histórico de doença respiratória e precisa sair de casa"
Jesem Orellana, pesquisador da Fiocruz Amazônia
O UOL entrou em contato com o Ministério da Saúde em busca de posicionamento, mas não teve retorno. Este espaço segue aberto para manifestação.
Quais os efeitos das queimadas na saúde humana?
Embora não sejam facilmente vistos, os minúsculos materiais particulados que ficam no ar após incêndios — especificamente, partículas que medem não mais do que 2,5 micrômetros (cerca de 30 vezes menor do que um fio de cabelo humano) — quando inalados, podem causar diversos danos.
A curto prazo, a exposição a estas partículas pode causar dificuldade para respirar, dor e ardência na garganta, rouquidão, dor de cabeça, lacrimejamento e vermelhidão nos olhos, mas diversas pesquisas já mostram que os danos vão além disso: a fumaça pode prejudicar os pulmões, os vasos sanguíneos e o sistema imunológico. Quem mais sofre são crianças, idosos e portadores de doenças respiratórias.
De acordo com um estudo publicado na revista científica Nature, "ao entrarem nos pulmões, as partículas aumentam a inflamação, o estresse oxidativo e provocam danos genéticos nas células de pulmão humano. O dano no DNA é tão grave que pode provocar incapacidade de sobrevivência ou a perda do controle celular, causando uma reprodução desordenada e evoluindo para câncer de pulmão".
"Embora em um primeiro momento outros órgãos não pareçam ser afetados, já sabemos que, de forma direta ou não, a fumaça tem relação com o aumento da prevalência de infarto, AVC, maior risco de câncer e até doenças crônicas", como explicou Guilherme Pulici, médico alergista a VivaBem em 2020.
Uma pesquisa publicada em 2018 no periódico Circulation confirma que a fumaça — e a poluição — causam danos ao coração, não só ao sistema respiratório. Mesmo baixos níveis de poluição já podem causar alterações no coração semelhantes àquelas observadas na insuficiência cardíaca.
O estudo revelou uma forte relação entre viver próximo a uma rua movimentada (e, por isso, estar exposto a dióxido de nitrogênio) e o desenvolvimento de ventrículos cardíacos direito e esquerdo aumentados. Os pesquisadores observam que o aumento do ventrículo desse tipo é frequentemente visto nos estágios iniciais da insuficiência cardíaca.
Usando material particulado fino (PM2.5) para medir partículas de poluição do ar, os cientistas descobriram que os ventrículos cardíacos aumentam em 1% para cada micrograma de PM2,5 por metro cúbico e para cada 10 microgramas por metro cúbico de NO2.
E não é só quem está perto dos focos das queimadas que pode ser afetado. Essas partículas de diferentes componentes químicos podem ficar suspensas no ar durante dias e com os ventos fortes podem ser carregadas para distâncias de milhares de quilômetros — inclusive, a fumaça de queimadas no Pantanal e na Amazônia nos últimos anos chegou a atingir estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e até outros países da América Latina, como Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai.
Dicas para quem mora em região onde há fumaça
- Manter uma boa hidratação, consumindo entre dois a três litros de água todos os dias;
- Evitar sair em horários nos quais a umidade do ar está baixa, geralmente entre 12h e 16h;
- Evitar, sempre que possível, a proximidade com incêndios;
- Manter os ambientes da casa e do trabalho fechados, mas umidificados, com o uso de vaporizadores, bacias com água e toalhas molhadas;
- Usar máscara ao sair na rua, evitar aglomerações e locais fechados;
- Optar por uma dieta leve, com a ingestão de verduras, frutas e legumes;
- Evitar banhos muito quentes e produtos com agentes químicos que tirem a umidade natural da pele;
- Utilizar hidratante após o banho para evitar que a pele perca água;
- Usar soro fisiológico para umidificar os olhos e o nariz constantemente;
- Evitar a prática de exercícios físicos entre 10h e 16h;
- Em caso de urgência, buscar ajuda médica imediatamente.