Médico investigado pela morte de 42 pacientes é preso novamente no RS
Colaboração para o UOL, em São Paulo
10/09/2024 14h34
O cirurgião João Couto Neto, investigado por pelo menos 140 erros médicos, entre os quais a morte de 42 pacientes, foi preso novamente nesta terça-feira (10), em Novo Hamburgo (RS).
O que aconteceu
João Couto é investigado pelo homicídio doloso de dezenas de pacientes que ele atendia no Rio Grande do Sul. O médico havia sido preso em dezembro de 2023 no interior de São Paulo, mas dias depois conseguiu habeas corpus e estava em liberdade desde então.
Relacionadas
A Polícia Civil do RS realizou a localização e captura do médico. "A nova prisão preventiva foi decretada em ação penal que já tramita na Justiça, após representação do Ministério Público", diz a polícia em nota.
Defesa do médico chamou a prisão de "arbitrária". O advogado Brunno de Lia Pires afirmou que a detenção, segundo ele, por descumprimento de medida cautelar, "não se sustenta" porque João Couto tem cumprido todas as medidas impostas pela Justiça, o que inclui não exercer a medicina.
Pires alegou que Couto é alvo de "injustiça" e disse esperar reverter a prisão no Tribunal. "João não deixou a comarca de Novo Hamburgo em nenhum momento, está respondendo todos os processos movidos contra si e não vem exercendo a medicina. Triste ver a justiça enveredar pelo caminho da vingança, prática que infelizmente virou regra no Brasil", destacou.
25 cirurgias em um dia
Couto Neto é investigado por realizar até 25 cirurgias em um único plantão. Atuou quase sempre no Hospital Regina, em Novo Hamburgo, onde alugava o centro cirúrgico em troca de uma porcentagem dos procedimentos que realizava.
A vida do médico começou a mudar em novembro do ano passado. Foi quando um grupo de 15 pessoas procurou a polícia para denunciar supostos erros médicos, com relatos que chegam a 2010. Hoje, a polícia investiga 156 casos — como dilaceração de órgãos, perfurações no intestino e cortes desnecessários —, incluindo 42 mortes.
Após ser alvo da polícia no Rio Grande do Sul, ele foi trabalhar em São Paulo. O médico atendia em hospitais no interior e capital até ser preso.
Conhecido em Novo Hamburgo como João Couto Neto, ele passou a se identificar em São Paulo como João Batista. Seu nome completo é João Batista do Couto Neto. No estado de São Paulo, ele foi contratado indiretamente como autônomo ou terceirizado para trabalhar em órgãos públicos e filantrópicos.
Além do emprego no Hospital de Caçapava, o médico atuou nas seguintes unidades de saúde de SP:
- AMA Sacomã, na capital paulista. Médico substituto, atendeu em março no ambulatório municipal na zona sul de São Paulo. A Secretaria Municipal da Saúde afirma "que o cirurgião atuou somente em um plantão noturno" e que, ao identificar restrição no CRM do médico, "o mesmo não realizou mais atendimentos".
- Hospital Mandaqui. Estadual, a unidade é especializada em tuberculose e fica na zona norte. A Secretaria de Saúde afirma que "o profissional atuou em apenas três plantões".
- Hospital Ipiranga. Couto Neto é responsável pela UTI adulto do hospital estadual, também na zona sul da cidade.
- Hospital Pio 12. O hospital filantrópico é referência em oncologia em São José dos Campos, onde atende 80% de pacientes do SUS. Em nota, o hospital afirma que o "médico realizou apenas um plantão no Pronto Atendimento na especialidade clínica médica" e que não foi autorizado seu cadastro no hospital.
- Hospital São Francisco de Assis. Também filantrópico, a unidade referência em cardiologia em Jacareí recebe 68% de pacientes do SUS. O hospital afirma que Couto Neto "não faz parte do quadro de plantonistas desde 13 de maio" e que ele "deu somente três plantões no hospital na área clínica".