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'Quem quiser copiar meu pai está ferrado': quem são os herdeiros do Bahamas

Martina Colafemina

Colaboração para o UOL

08/11/2024 05h30

Letras douradas no hall de entrada do Bahamas Hotel Club, em Moema, São Paulo, anunciam ao visitante: "proprietário: Oscar Maroni".

Dentro do salão principal —com piso de mármore e um piano que se mistura ao mastro de pole dance e às luzes coloridas—, uma outra parede tem fotos do empresário com Mike Tyson e Thiago Silva, além de um cinturão do Showfight, seu próprio evento de MMA que premiava os campeões com uma noite na boate.

Os detalhes carregam a história e a personalidade irreverente e polêmica do empresário.

Oscar Maroni, 73, não está mais à frente da casa —uma das mais famosas boates de entretenimento adulto da capital— desde janeiro de 2024, quando a direção foi assumida por seus filhos, Aratã, 38, e Aruã, 42. Mas a intenção é que o ícone que representa a marca continue a ser ele.

Nenhum de nós somos showmen como ele. Quem quiser copiar alguém como meu pai está ferrado. É muito icônico, muito singular. Não é meu estilo, para começar, e nem o dos meus irmãos. Mas a gente não é contra a exposição. Acho que tem de ser uma exposição de coisas que valem a pena.
Aratã

O bar com diversos lugares, projetado para conversas informais, é um dos muitos ambientes do Bahamas Imagem: Divulgação/Rodrigo Zorzi

Os herdeiros enxergam o pai como uma marca, assim como o Bahamas. Não é para menos: a figura lendária de Oscar Maroni se confunde com a da casa noturna, frequentada por artistas, atletas e garotas de programa.

A médio prazo, o plano é transformar seu império em uma versão brasileira de Hugh Hefner, o criador da Playboy.

"Queremos trabalhar o nosso logo, o coqueirinho. O meu sonho é que, nas devidas proporções, o coqueiro do Bahamas seja como o coelhinho da Playboy. Quero que seu marido compre uma lingerie com o coqueirinho do Bahamas e não seja estranho, como ele compraria da Playboy", diz Aratã.

O espaço conta com um lounge para a diversão dos clientes, com mesas de sinuca e piano de cauda Imagem: Divulgação/Rodrigo Zorzi

A nova direção também investe no marketing de massa, para além do consumidor habitual que tem um ticket médio de R$ 600 em consumo.

Eles contrataram influenciadoras, aumentaram a participação nas redes sociais e passaram a pagar uma caixinha de R$ 60 a motoristas de aplicativo e taxistas para cada cliente que levam à boate.

A abordagem com o mercado de eventos também é uma fonte importante —e os próprios gerentes da casa têm participação ativa.

"São Paulo é uma capital mundial de eventos. O cara vem para o evento da empresa aqui no Expo São Paulo, por exemplo, e é a única época do ano em que ele está longe da esposa. Já desce do avião pensando em vir", diz Aratã.

"Isso movimenta muito nosso mercado. Temos divulgação dentro das feiras, anúncios pela localidade no Instagram e Google. Temos uma estratégia de marketing multicanal", completa.

A decoração do clube inclui sofás confortáveis, que convidam os clientes ao relaxamento Imagem: Divulgação/Rodrigo Zorzi

'Houve muito roubo'

A retomada dos negócios não foi tranquila. Os irmãos contam que encontraram diversos problemas operacionais e financeiros.

"Na minha primeira semana, coloquei um controller [profissional que supervisiona as funções contábeis] para trabalhar nas finanças", diz o herdeiro.

Não posso dar detalhes porque está rolando um processo e uma investigação criminal, mas houve muito roubo. No cartão de crédito do Oscar, no caixa da empresa, compras que tinham sido feitas e a mercadoria nunca chegou. Desvio de verba, desvio de caixa de movimento diário. Trocamos 18 funcionários, 100% da equipe administrativa. E valeu a pena.
Aratã

A reabertura do Bahamas aconteceu no dia 6/9, dia do sexo, após o clube ficar fechado desde dezembro de 2023. A reinauguração também marcou a comemoração dos 30 anos da casa. Nesse tempo de vida, o Bahamas passou por altos e baixos.

A boate foi fechada várias vezes, especialmente a partir da gestão de Gilberto Kassab na prefeitura (2006-2008), por irregularidades. Maroni também chegou a ser preso, acusado de promover a prostituição em seu estabelecimento, mas acabou absolvido.

Um dos lounges abriga espetáculos de pole dancing, para deleite dos frequentadores Imagem: Divulgação/Rodrigo Zorzi

'Hoje meu pai está incapacitado'

Oscar Maroni, em foto de 2017 Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

A sucessão não foi planejada e foi traumática, de acordo com Aratã.

Meu pai está com Alzheimer e com nível de demência 2 [quando há dificuldade de falar e resolver tarefas simples], está incapacitado. Ele sempre foi uma pessoa complicada: muito ativo, muito inteligente, sempre com o pé no acelerador. Depois do diagnóstico, a gente começa a perceber que os sinais já estavam ali há algum tempo, o próprio médico falou.
Aratã

As dificuldades estavam claras. "Você percebia: um homem como ele que veio do nada e construiu tudo isso já não conseguia coordenar uma reunião, tomar uma decisão. E como você diz para uma pessoa que fez muito mais do que você que ela está errada? É muito difícil."

As famosas suítes do Bahamas têm box de vidro com chuveiro, área para refeições e cama king size cercada por espelhos Imagem: Divulgação/Rodrigo Zorzi

Aratã conta que se afastou por dois anos dos negócios da família para melhorar a relação com o pai. Depois, Aruã também saiu da administração do Bahamas.

Em 2023, o clube começou a decair muito, o que tornou a situação insustentável, segundo Aratã.

"Ele não aceitava a cuidadora, não queria ninguém na casa dele. Houve um tempo em que eu e meus irmãos tínhamos de ficar dormindo lá, eu com minha esposa grávida. Os últimos seis meses de 2023 foram bem complicados para a família. Até que em dezembro ele tomou um tombo, teve um coágulo na cabeça e teve de ir para a UTI e fazer uma cirurgia", conta Aratã.

O episódio foi um basta para os irmãos. Ao sair do hospital, eles exigiram que Oscar fizesse o acompanhamento médico com um neurologista. Foi quando veio o diagnóstico. Ele está em uma casa de repouso desde então.

À frente dos negócios, Aratã e Aruã conseguiram salvar o Bahamas da decadência Imagem: Divulgação/Claudio Gatti

"Hoje, a gente tem a responsabilidade moral e legal de cuidar do patrimônio dele", diz Aratã.

Aos herdeiros, os negócios

Ao se definir, Aratã escolhe o estoicismo, uma filosofia quase radicalmente oposta ao hedonismo, sobre a qual o pai se baseou por toda a vida. O Bahamas estampa esse pensamento logo em seu letreiro externo: "O templo da felicidade e do prazer. Somos hedonistas".

Isso fica para os clientes. Aos herdeiros, os negócios.

Os irmãos Maroni cuidam de todo o grupo de empreendimentos do pai. Aratã, filho do meio entre os homens, está mais à frente do Bahamas, junto com Aruã, que cuida de tudo um pouco —e é cervejeiro e fã de motos nas horas vagas.

Aritana é a mais velha e Acauã, o mais jovem, que toca a fazenda da família no interior de São Paulo. O grupo contempla o Bahamas, a fazenda —que produz cana-de-açúcar, tem gado e cavalos—, alguns imóveis e um hotel ao lado da boate, que nunca foi aberto.

O famoso clube fica no cruzamento da alameda dos Anapurus e a rua dos Chanés Imagem: Divulgação/Rodrigo Zorzi

Aos 15 anos, Aratã já fazia panfletagem para o Showfight e ajudava no escritório com os assuntos da fazenda. Antes dos 18, nenhum dos irmãos podia frequentar o salão do Bahamas. Podiam almoçar no refeitório ou visitar o escritório de Oscar, mas nada mais.

"Fiz minha festa de 18 anos aqui. Mas, antes, se a gente inventasse alguma história, meu pai nos colocava para fora", conta.

Felicidade e alegria são estados diferentes para o herdeiro estoico.

A droga, a bebida, a euforia, podem trazer alegria. A felicidade é mais perene, é a longo prazo. Aqui é um lugar para se viver o momento. Não é certo ou errado, mas não espere ser uma pessoa completa e realizada na vida só enchendo a cara na balada.
Aratã

Aratã defende o equilíbrio. "Tem de ter dois lados dessa moeda: pontos de ancoragem na cabeça e pontos de escape também. Ou fica maluco."

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